quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Leitores de Halloween / Halloween readers

 
s.id.

Pelo Halloween, uma bruxa leitora / A witch reading a book


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A liberdade, o mar e a maternidade.

 
Recebi este texto por e-mail, sem o nome da autora. Da mãe autora. Uma mãe como eu e tantas outras mães. Vale a pena ler. Pode ser uma de nós.
 
"Se não fossem eles, eu dormiria até tarde aos sábados e aos domingos. Nunca fui de dormir até tarde mas agora que não posso, tenho vontade de o fazer. Ficaria na penumbra de olhos semicerrados, a espreguiçar-me só por vício, até que a fome me chamasse.


Se não fossem eles, a minha casa estaria sempre razoavelmente arrumada. Não haveria dinossauros na banheira, nem colónias de bolacha maria entre as almofadas do sofá, nem recortes de revistas com restos de cola seca agarrados ao vidro da mesa, nem torrões de terra generosamente distribuídos no hall de entrada. Não haveria autocolantes de gormittis colados no chão do corredor, dedadas cinzentas nas paredes, ramos de árvore a enfeitar as estantes.

Se não fossem eles, haveria mais idas ao cinema. Ou talvez não, porque o valor dos bilhetes nem sempre compensa. Mas haveria, decididamente mais idas ao teatro, muitas mais idas ao teatro. E depois das idas ao teatro, haveria paragens em bares simpáticos para beber uma cerveja e trincar uns tremoços. Se não fossem eles, o meu salário não se sumiria, num sopro, em despesas de educação.

Se não fossem eles, não haveria um monte insultuoso de livros encorpados deixados a meio na última prateleira da estante. "Viver para contá-la" não teria o marcador no primeiro capítulo há mais de seis anos. A biografia de Gandhi não estaria a fossilizar no topo das prioridades.

Se não fossem eles, a minha gaveta não estaria cheia de impressões rascunhadas de dezenas de contos que continuam órfãos de um desenlace e de um propósito.

Se não fossem eles eu não teria que repensar sistematicamente os princípios elementares da vida, da morte, da fé, da justiça ou da sexualidade para responder a perguntas difíceis. Não haveria perguntas difíceis. Poderia dedicar-me apenas às perguntas que todos os dias coloco a mim mesma, que jamais terão resposta mas que nem por isso deixam quem quer que seja frustrado.

Se não fossem eles, eu não me cansaria a dar toques na bola e a fazer remates em balizas improvisadas. Saltar à corda seria apenas uma memória doce da minha própria infância. Equilibrar-me em cima de um skate seria uma remota e humorística suposição. Não sairia de casa, todas as manhãs, carregando mais volumes do que aquele que eu própria tenho. Poderia estender-me no sofá no final de cada tarde. Os meus cd não correriam na aparelhagem juntamente com uma sinfonia de pedidos, queixinhas e beicinhos. Se não fossem eles, viajar seria como dantes. Entrar no carro e não saber o destino. Escolher as estradas secundárias. Descalçar-me e pôr os pés no tablier. Abrir os vidros todos. Aumentar o volume da música. Desconhecer se há centros de saúde nas proximidades de cada paragem e quais são as farmácias de serviço, para o caso de alguma eventualidade.

Se não fossem eles, eu não investiria tanto dos meus neurónios a contestar as políticas de ensino e o estado da educação. Talvez isso me fosse indiferente. Os erros ortográficos no Magalhães provocar-me-iam espanto, mas, se não fossem eles, não justificariam uma cruzada contra o sistema e contra a minha própria consciência.

Se não fossem eles eu não teria tanto medo. Medo de morrer e medo que me morressem. Porque, se não fossem eles, o futuro era o que fosse, o que tivesse de ser. Se não fossem eles, eu não engoliria tantos sapos. Nem viveria preocupada. Portanto, se não fossem eles, eu seria livre. Livre, como argumentam as pessoas que não querem ter filhos. Livre para fazer, para dizer, para mudar, para andar para trás e para os lados, sair ou entrar. Livre para me alhear, para me ausentar.

Mas é curiosa esta sensação de que, se não fossem eles, a minha vida seria coxa. A minha liberdade nunca seria suficiente. Faltar-me-iam esses pedaços de mim que vão todos os dias para a escola, dentro da mochila, nas roupas que vestem, nas palavras que dizem ou que ainda não sabem soletrar, no brio da caligrafia insegura, no beicinho por um mimo extra. Faltar-me-iam os pedaços de mundo que trazem com eles ao fim do dia: o cheiro da terra, do vento e da brincadeira de ar livre, o aroma a bombom que derreteu e secou entre os dedos. E eu não fecharia os olhos com o nariz enterrado entre as palmas das mãos deles nem veria poesia onde os outros não vêem coisa alguma. Faltar-me-ia a quem ensinar que a liberdade é uma coisa semeada cá dentro e que não se encontra nas salas de espectáculo nem na cerveja com tremoços. Que a preguiça não oferece, que o salário não compra. Faltar-me-ia o regresso à minha própria infância, à verdade elementar, a esta forma apaixonada de simplesmente ser e estar. Se não fossem eles, a minha vida seria como diz Álvaro de Campos: como a parte da praia onde o mar não chega. Se não fossem eles, eu nem sequer saberia que o mar existe"


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O futuro nas bibliotecas / Libraries near future

 
 
Biblioteca realiza empréstimos de livros digitais através de download. Estes livros não precisam de ser substituídos porque não se deterioram, não se rasgam, e não há multas por atraso na devolução porque a licença para consulta se auto-cancela ao fim de três semanas.
 
Podem usufruir deste serviço os utilizadores de computadores, Nooks, Kobo, Android  , Sony Readers, Kindle Fires, iPod Touches, iPads and iPhones. Só é preciso instalar uma aplicação gratuíta da biblioteca.
 
Saiba mais AQUI.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A escrita como terapia / Writing as therapy



"Writing is a form of therapy; how do all those who do not write, compose, or paint manage to escape the madness, the melancholia, the panic and fear which is inherent in the human condition?"

Graham Greene 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"O livro que não leste", por António Moura

  Daniela Zekina
“O livro que não leste permanece
ali, fechado – barco vazio, fantasma
da ilusória realidade ancorado à beira
do precipício entre sonho e vigília,
palácio de ar adornado por dentro
com flores negras letras sobre o sujo
dourado do pensamento – caixa de
pandora repleta de esperanças perdidas,
reino sem rei onde estão adormecidas
solidões, tragédias, corações de cristal,
rostos embrutecidos, anseios, seios
nas mãos que procuram sugar o leite
do destino nulo a cada fim de jornada,
que se desenrola em vão como a escrita
sobre este papiro de areia, mudo
papel que um ator bêbado diz para
uma platéia de cegos, surdos e ausentes
O livro que não leste permanece ali
calado, câmara escura à espera
de tua sempre lâmpada ardente”


Antonio Moura, “in memorian Benedito Nunes”
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Primeiro a tua mão sobre o meu seio




Primeiro a tua mão sobre o meu seio

Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé - o meu - sobre o teu pé.

Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama

Por fim o sono calmo, que não é
Senão ternura, intimidade, enleio:
O meu pé descansando no teu pé,
A tua mão dormindo no meu seio.

Rosa Lobato Faria in Cem Poemas Portugueses no Feminino (Terramar, 2005)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Estou assustada com o estado deste país!


Como vai ser a vida dos portugueses no próximo ano ( e a minha e da minha família), com as medidas de austeridade que constam no novo orçamento de estado?

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Temos de parar de ser tão sensíveis em relação ao nosso governo...


 Cate Blanchett fotografada por Annie Leibovitz.


Mais uma crónica contundente de Ricardo Araújo Pereira:

"O aluno do ISCSP que terá assobiado e insultado o primeiro-ministro foi alvo de um inquérito disciplinar. Aqui está um procedimento potencialmente arriscado. Dêmos graças a Deus pelo numerus clausus, porque se todo o povo português pudesse frequentar o ISCSP, a Portucel não conseguiria produzir resmas suficientes para registar tanto processo. Impossibilitado pelo regulamento académico de inquirir toda a população de Portugal, o presidente do ISCSP teve de contentar-se com uma única inquirição.

(...)

Infelizmente, as notícias sobre o caso não revelam o teor do insulto proferido. Numa altura em que milhares de cidadãos se manifestam com sanha, gritam palavras de ordem azedas, concebem cartazes obscenos e ainda injuriam avulsamente no dia-a-dia, um rapaz de 20 anos consegue congeminar um insulto que se destaca de todos os outros. Que estupenda ignomínia foi essa?

(...)

Em defesa do estudante, tem sido dito que o governo também insulta os portugueses. E deu-se como exemplo a recente intervenção de António Borges, segundo o qual os empresários portugueses críticos da TSU não passariam do primeiro ano do curso que lecciona na universidade. Ora, sucede que isto não é um insulto. António Borges não está a sugerir que os empresários não seriam capazes de obter a licenciatura. Não passar do primeiro ano não impede ninguém de tirar o curso. Miguel Relvas não passou do primeiro ano e nem por isso deixou de se licenciar. Temos mesmo de parar de ser tão sensíveis".

Leia na íntegra AQUI.

Iupi, vem aí o fim de semana! / Weekend is coming, YES!


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Brincações" de Mia Couto com a Língua Portuguesa


Eis algumas divertidas "Brincações" de Mia Couto com a Língua Portuguesa:


"Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço?

Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo?

Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca?


Tristeza do boi vem dele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é ultima reencornação?

O mato desconhecido é que é o anonimato?

A diferença entre um às no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética?"


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A vulnerabilidade por Madeleine L'Engle / Vulnerability by Madeleine L'Engle


Woody Allen como Charlie Chaplin, 1972, fotografia de Irving Penn.


"When we were children, we used to think that when we were grown-up we would no longer be vulnerable. But to grow up is to accept vulnerability... To be alive is to be vulnerable".


Madeleine L'Engle


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Duas citações de Mia Couto: o livro enquanto canoa e o silêncio da paixão total




"Agora ela sabia: um livro é uma canoa. Esse era o barco que lhe faltava em Antigamente. Tivesse livros e ela faria a travessia para o outro lado do mundo, para o outro lado de si mesma".


"Quando se faz amor assim, de paixão total, fica-se longe das palavras. O encantamento é uma casa que tem o silêncio por teto".

 
Mia Couto

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Uma questão de idade / The age issue

Lyubomir Bukov
 
"Age is an issue of mind over matter. If you don't mind, it doesn't matter".
Mark Twain

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Jovem leitora lê sentada à escrevaninha / Woman reading at her desk

 

Em dia de mais medidas de austeridade, deixo-vos com "Gamar com style"



LETRA:

A gamar com style
Gamar com style

Sai um entra outro
É tudo a mesma corja
O Socas e o Relvas
Passaram com a mesma nota
Da maneira que isto está
Mais vale fechar a loja
Queres vaca? Esquece.
Come soja.

Estão-me a comer
Entro às 8 e saio às 6
Trabalho para aquecer
Guardei o carro, vou a pé
Não dá pra abastecer
Não fosse o álcool estar tão caro
Bebia pra esquecer
Bebia pra esquecer

Refrão
Sem subsídios
E mais impostos
Merkel mandou (Ei!)
E ele amochou (Ei!)
Sem subsídios
E mais impostos
Merkel mandou (Ei!)
E ele amochou (Ei!)
Aumenta o IVA, IRS e a Segurança Social
A gamar com style.
Passos Coelho
A gamar com style
Passos Coelho
A gamar com style.

Planos de ajustamento
Só me ajustam a cintura
Mandaram-me emigrar
Como se isso fosse a cura
Vou para a Grécia
Onde a vida é uma doçura
Labuta de seis dias
É a puta da loucura!

Refrão

Austeridade
Dá-me mais austeridade
Passos, tu consegues com facilidade
Austeridade
Dá-me mais austeridade
Passos, tu consegues com facilidade
E TU FINGES NÃO VER!
Estás-te a cagar com style.
Passos Coelho
A gamar com style
Passos Coelho
A gamar com style.


Versão do Gangnam Style, bem ao jeito do
5 Para a Meia-Noite.

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