quinta-feira, 25 de março de 2010

Silêncio que se vai cantar a Pedra Filosofal!

Adoro este poema de António Gedeão e esta música desde a minha adolescência! É já para mim um clássico, uma referência.




Eles não sabem que o sonho



é uma constante da vida


tão concreta e definida


como outra coisa qualquer,


como esta pedra cinzenta


em que me sento e descanso,


como este ribeiro manso


em serenos sobressaltos,


como estes pinheiros altos


que em verde e oiro se agitam,


como estas aves que gritam


em bebedeiras de azul.




Eles não sabem que o sonho


é vinho, é espuma, é fermento,


bichinho álacre e sedento,


de focinho pontiagudo,


que fossa através de tudo


num perpétuo movimento.






Eles não sabem que o sonho


é tela, é cor, é pincel,


base, fuste, capitel,


arco em ogiva, vitral,


pináculo de catedral,


contraponto, sinfonia,


máscara grega, magia,


que é retorta de alquimista,


mapa do mundo distante,


rosa-dos-ventos, Infante,


caravela quinhentista,


que é cabo da Boa Esperança,


ouro, canela, marfim,


florete de espadachim,


bastidor, passo de dança,


Colombina e Arlequim,


passarola voadora,


pára-raios, locomotiva,


barco de proa festiva,


alto-forno, geradora,


cisão do átomo, radar,


ultra-som, televisão,


desembarque em foguetão


na superfície lunar.





Eles não sabem, nem sonham,


que o sonho comanda a vida,


que sempre que um homem sonha


o mundo pula e avança


como bola colorida


entre as mãos de uma criança.


António Gedeão

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