SORVETE & POESIA
Sorvete é ouro gelado. Quem não gosta
de sorvete que ande pelado pela Paulista
ou diga o porquê desse doce não querer.
Sorvete parece uma gostosa escultura pop:
bola colorida sobre cone. Ao telefone,
conheço quem se atrapalhou – Alô!
O sorvete no ouvido. Duvida? Verdade!
Era um sorvete de brevidade e breve foi
a conversa – fria e fiada e toda melada.
De outra feita, vi namorado e namorada
no semáforo, a lamber os lábios entre um
e outro beijo, os olhos nos sinais, sem mais
nem menos, como se bolas de sorvete: verde
abacate, amarelo manga, vermelho morango.
Coisa de maluco. Maluco por sorvete. Ninguém
chupa sorvete com cara amarrada. Sorvete
para a bem amada, sorvete para o mal-amado.
Sorvete faz todo mundo feliz, ainda que por um
triz. E tem sorvete para todas as tribos:
de abacaxi para quem abaixa aqui; de caju
para o nome que não cabe aqui; de caqui
para continuar rimando com aqui; de limão
para quem diz não; exótico para o gótico;
de ameixa para quem se queixa; de jabuticaba
para quem se acaba; de chocolate para o cão
que late; de uva para a viúva; de hibisco
para o bispo; de bacuri para Rita Lee; de suspiro
para Biro Biro; de abil para abril; de sapoti
para ti; de baunilha para a família; de geleia
de Pandora para Dulcineia Catadora; de rapadura
para a ditadura; de alecrim para o arlequim; de
jambo para o tocador de banjo; de paçoca para
quem não toca; de não sei de quê para a banda
Cansei de Ser; sexy para as patricinhas; quente
para os pracinhas; de creme para Carla Caffé;
de tapioca para os índios na oca; de atalarico
para Márcia Larica; de amendoim
para os praticantes de do in; de taperebá
para o bebê e a babá; de pera para Peri;
de açaí para Ceci e para o saci… Enfim, tem
sorvete que chega; para você, para mim.
Já viu que sorvete é o único doce gelado
que a boca come até o cabo? Coisa
gostosa é morder uma crocante casquinha
até o fim. Doce mágica: lambidas e mordidas
e tudo desaparece diante dos próprios olhos.
Numa sorveteria, os olhos são maiores
que a barriga. E chupar sorvete
de olhos fechados? A esfera gelada que
a língua contorna sinuosa em lentos
movimentos circulares… Posso continuar
a escrever um monte de palavras geladas
para você sorver como a um sorvete. Mas
o poema já está gordo. Pena que sorvete
engorda. Concorda? Mas isso já é
uma outra história.
Sorvete é ouro gelado. Quem não gosta
de sorvete que ande pelado pela Paulista
ou diga o porquê desse doce não querer.
Sorvete parece uma gostosa escultura pop:
bola colorida sobre cone. Ao telefone,
conheço quem se atrapalhou – Alô!
O sorvete no ouvido. Duvida? Verdade!
Era um sorvete de brevidade e breve foi
a conversa – fria e fiada e toda melada.
De outra feita, vi namorado e namorada
no semáforo, a lamber os lábios entre um
e outro beijo, os olhos nos sinais, sem mais
nem menos, como se bolas de sorvete: verde
abacate, amarelo manga, vermelho morango.
Coisa de maluco. Maluco por sorvete. Ninguém
chupa sorvete com cara amarrada. Sorvete
para a bem amada, sorvete para o mal-amado.
Sorvete faz todo mundo feliz, ainda que por um
triz. E tem sorvete para todas as tribos:
de abacaxi para quem abaixa aqui; de caju
para o nome que não cabe aqui; de caqui
para continuar rimando com aqui; de limão
para quem diz não; exótico para o gótico;
de ameixa para quem se queixa; de jabuticaba
para quem se acaba; de chocolate para o cão
que late; de uva para a viúva; de hibisco
para o bispo; de bacuri para Rita Lee; de suspiro
para Biro Biro; de abil para abril; de sapoti
para ti; de baunilha para a família; de geleia
de Pandora para Dulcineia Catadora; de rapadura
para a ditadura; de alecrim para o arlequim; de
jambo para o tocador de banjo; de paçoca para
quem não toca; de não sei de quê para a banda
Cansei de Ser; sexy para as patricinhas; quente
para os pracinhas; de creme para Carla Caffé;
de tapioca para os índios na oca; de atalarico
para Márcia Larica; de amendoim
para os praticantes de do in; de taperebá
para o bebê e a babá; de pera para Peri;
de açaí para Ceci e para o saci… Enfim, tem
sorvete que chega; para você, para mim.
Já viu que sorvete é o único doce gelado
que a boca come até o cabo? Coisa
gostosa é morder uma crocante casquinha
até o fim. Doce mágica: lambidas e mordidas
e tudo desaparece diante dos próprios olhos.
Numa sorveteria, os olhos são maiores
que a barriga. E chupar sorvete
de olhos fechados? A esfera gelada que
a língua contorna sinuosa em lentos
movimentos circulares… Posso continuar
a escrever um monte de palavras geladas
para você sorver como a um sorvete. Mas
o poema já está gordo. Pena que sorvete
engorda. Concorda? Mas isso já é
uma outra história.
Guilherme Mansur
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