domingo, 19 de julho de 2009

A ansiedade do status/ "Status Anxiety" no original

Acabei de ler há poucos dias Status Ansiedade (não percebo qual foi o problema com a tradução do título do inglês para o português) de Alain de Botton, edição da D. Quixote.


Há poucos desejos tão fortes como o de ser tratado com respeito e evitar a humilhação. Sentir admiração e amor no olhar dos outros ou simplesmente ter a sua atenção. A indiferença pode ser um terrível e solitário castigo. "O Status" é aqui encarado numa perspectiva mais lata do qua a habitual. Este é um livro sobre uma inquietação quase universal que raras vezes é mencionada directamente e que diz respeito ao valor e importância do indivíduo aos olhos do mundo. O que é que os outros pensam de nós? Que imagem transmitimos? Como somos julgados? Como pessoas de sucesso ou verdadeiros fracassos? Como vencedores ou falhados? E em que consiste o sucesso?

Alain de Botton questiona, com lucidez, humor e elegância, de onde vêm as preocupações com o nosso "status" e sobre o que poderemos fazer para as ultrapassar. Com a ajuda de filósofos, artistas e escritores, o autor examina as origens da ansiedade do "status" - das consequências da Revolução Francesa até ao nosso receio secreto pelo sucesso dos amigos e colegas - antes de revelar formas imaginativas pelas quais algumas pessoas aprenderam a vencer as suas preocupações na procura da felicidade.


«Status Ansiedade» é um ensaio acessível que desmistifica a problemática do status que cada indivíduo enfrenta perante a sociedade em que vive, assunto muito actual em virtude da eleição da meritocracia (na cultural ocidental) como método principal para a avaliação do status de cada um, em função da obrigação de se ser materialmente ou socialmente ambicioso para se ser reconhecido perante os outros. Dividido em duas partes, na primeira o autor identifica as causas da ansiedade e da angústia que a questão do status provoca na maioria da sociedade, descrevendo um percurso histórico em que justifica como se chegou aos tempos actuais e por que razão no passado a questão do status era mais pacífica pela existência de estratos sociais bem definidos e aceites, algo que se começou a alterar a partir da Revolução Francesa.

Na segunda parte, o autor apresenta cinco saídas como formas de se escapar à angústia do status, em capítulos dedicados à Filosofia, Arte, Política, Cristianismo e Boémia, respectivamente, onde mostra, do ponto de vista histórico, como muitas pessoas encontraram resposta eficaz à ansiedade de status. Sem propriamente pretender que alguém que sinta essa ansiedade siga por um desses caminhos, o autor procura sobretudo abrir o horizonte de possibilidades de alteração da forma como olhamos algo que nos pode parecer imutável, mostrando o quanto comum e incontornável é a questão do status e as imensas formas que cada um tem de escapar a uma vida de aparências que não o realiza mas onde se sente num beco sem saída em virtude de todos os condicionalismos que sentiu na sua existência, por meio de todas as regras educacionais, morais e sociais que lhe foram impostas ao longo da vida e que o levaram onde ele presentemente está.


A filosofia, como conjunto de ferramentas que permite relativizar todos os conceitos sociais, a arte, como forma de expressão de realidades tão ou mais importantes que as aparentemente vivemos e colocando as mesmas sobre outra perspectiva, a política, como demonstração que algo que é regra hoje pode ser considerado tolice amanhã, o cristianismo, poderosa arma de nivelação espiritual igual de todos os seres humanos, e a boémia, como exemplo de que é possível ter vidas radicalmente alternativas embora com um certo grau de risco de sustentação económica.


Aparentando ser uma leitura ligeira ou um livro de auto-ajuda, rapidamente o leitor se apercebe das sólidas bases de conhecimento histórico, filosófico e literário que são os alicerces do discurso de Alain de Botton, que, sem nos entedidar mas com citações q.b. dos mais variados autores de todos os tempos, oferece uma fundamentação extremamente sólida da mensagem que deseja fazer passar, a de que cada pessoa é livre de escolher o público a quem permite a avaliação da sua personalidade ou do seu comportamento.


Com este ensaio, o autor acrescenta mais uma obra às que demonstram como o uso da filosofia pode, de forma prática, ajudar-nos a viver melhor a nossa vida e a relação com os outros..."

Opinião retirada do Citador.


A crítica do DN em 10 de Abril de 2005.


E eu que sempre pensei que a Filosofia era chata! Revelou-se uma óptima leitura para descobrirmos mais não só de Filosofia como de História, da evolução das sociedades ocidentais e sobre nós mesmos. Extremamente perspicaz e inteligente "descomplicando"! Recomendo.

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