Desconhecia que a Editora Campo de Letras se encontrava em processo de insolvência, se calhar por distracção porque parece que já foi noticiado há umas semanas. (Quase) Ninguém fica impune face à crise que vivemos!
"A manhã estava a chegar ao fim quando me ligou o dono maioritário da editora Campo das Letras, que publicou a maior parte dos meus livros. Confirmou os rumores, as notícias dos jornais e os meus receios. A editora está insolvente e eu transformo-me automaticamente num nome da lista de credores que poderão habilitar-se a receber alguma coisa quando a massa falida da empresa for liquidada, por conta dos direitos de autor dos livros vendidos nos últimos dois anos. Ou seja: os meus livros, bem ou mal, venderam-se, alimentaram, muito ou pouco, uma cadeia que envolve livrarias, distribuidoras, entidades bancárias e a própria editora com os seus funcionários, mas não sobrou, do produto do meu trabalho, nada que pudesse retribuí-lo, nem sequer esse ridículo euro que me cabe da venda de cada exemplar.
Vivo sensações contraditórias: a Campo das Letras arriscou publicar os meus livros quando não interessavam a mais ninguém, tratou-me com cordialidade e amizade e será sempre, de algum modo, a minha editora (como é ainda a minha escola cada uma das escolas que frequentei). Lamento a falência, portanto, como se (mais) uma parte de mim tivesse fracassado. Mas não posso, neste meu novo papel de "credor da massa falida", deixar de sentir que, por muito intelectual e emproada que possa parecer esta estúpida actividade de escrever livros, não passei, este tempo todo, de mais um dos que estão na base da pirâmide alimentar da literatura – um operariozinho dócil e pouco reinvidicativo, um murcão crédulo e, enfim, tudo aquilo que tenho sido na vida. Bem vistas as coisas, não há nenhum motivo para que pudesse ter sido diferente".
4 comentários:
Oi, Ana !! primeira vez aqui no seu blog !! Gostei !! Vou voltar mais vezes !! Um abraço !
Diante do que acontece no mercado editorial, o medo quanto o futuro do PENSAMENTO e da CRIAÇÃO nos assombra.
Não sei o que assusta mais: se editoras que caem em falência, ou as que têm "$uce$$o", publicando "segredos" perniciosos, auto-ajudas-para-bol$o$ duvidosos, e "bêsta-sellers" imbecis...
Não desistamos.
O tempo é senhor da singularidade...
Ana querida; é uma honra ser seguida por você; eu já estava te espiando há muito tempo. Muito bom seu trabalho.
Acabei de ler outro Saramago (H. do cerco de Lisboa); meu preferido ainda é O Ano da Morte de Ricardo Reis; mas em ambos um fenômeno delicioso ocorreu: meu cérebro lia com sotaque lisboeta... É MUUUUITO agradável!
Se um dia encontrar com a atriz Maria do Céu Guerra, e/ou com o Diretor Helder, mande beijos, mesmo que eles não se lembrem de mim; ela é a melhor atriz viva DO MUNDO!
BJS cariocas!
Cris,
seja bem vinda! Volte sempre!
Bjs
Ana
Christina,
O meu preferido de Saramago também é O Ano da Morte de Ricardo Reis, talvez porque tenha Fernando Pessoa à mistura.
Bjs lisboetas
Ana
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