quinta-feira, 15 de julho de 2010

Rui Zink, sempre irreverente: a entrevista à Livros & Leituras

Aqui ficam excertos da entrevista que Rui Zink deu à Livros & Leituras (revista que eu gosto particularmente, agora com site muito apelativo):

"Ler torna-nos melhores, disso não tenho dúvida. O que não quer dizer que nos torne “bons”. Haverá sempre brutos, mas acho que um racista que leia, por exemplo, “A cor púrpura”, pode pensar duas vezes na sua tara. Ler implica empatia com as personagens, compreender os motivos dos outros, as suas paixões, as suas formas de estar na vida. Informa-nos, sem gritarias, que somos todos diferentes mas parte de um mesmo molde".

L&L – Diria que os livros são um território sagrado na era da Informação?

RZ – Bom, actualmente o templo está um bocado ocupado pelos vendilhões… Mas alguns livros (muitos, na verdade) ainda são um espaço de resistência à ditadura do esquecimento. Temos de viver o presente, mas viver só no presente é redutor, empobrecedor, estupidificante. A leitura, pela sua lentidão, recato, recusa do imediato, é um bom antídoto contra a voracidade do imediato. Ao contrário dos bois e das vaquinhas, nós vivemos em simultâneo no presente, passado e futuro, somos animais imaginativos. Mas andam a querer transformar-nos em ruminantes…

L&L – A irreverência, a ironia e o humor podem ser uma forma de arte, ou são apenas uma maneira de estar perante a vida e perante os outros?

RZ – Nem uma coisa nem outra, são instrumentos, parte do trabalho de escrever e da arte de viver. Sem elas tanto a literatura como a vida ficam mais pobres. Mas não são um fim em si, apenas componentes para melhor afinar o motor. Ajudam a ser-se livre, e aconselho a toda a gente o seu exercício moderado.
(...)
L&L – O medo de, muitas vezes, dizer abertamente o que se pensa é uma consequência da vida em sociedade. Acha que há censura ou autocensura por parte de alguns escritores?

RZ – Acho que há autocensura provocada por vários factores. Indico alguns: o desejo de sucesso leva a perseguir o gosto dos leitores, o medo de ser censurado (isto é, o jornal não fazer a criticazinha) leva-nos a lamber as botas aos difusores, as mudanças no modelo editorial podem mesmo levar a mudar estilo e temáticas. Este assunto é extremamente interessante, mas duvido que haja muito interesse em discuti-lo. A verdade é que os escritores não são diferentes das restantes pessoas: uma boa fatia não prima pela coragem nem pela independência.


L&L – “O escritor que gosto de ser e os que gosto de ler são os que colocam o leitor desconfortável”. Pode explicar esta sua afirmação?
RZ – Para dizer o que nós pensamos e dizemos já existem as telenovelas, formato conformista por excelência, mesmo quando os seus argumentistas são excelentes profissionais (e até capazes de, em livro, fazerem diferente). Um livro, como não depende da publicidade nem de rios de dinheiro, pode ir noutra direcção: a de levar o leitor “por mares nunca dantes navegados”. E é claro que à primeira uma pessoa estranha. É mais confortável ir ao meu café de bairro, onde vou todos os dias e já sei que sou bem tratado e comento o futebol com o sr. Abreu. Mas às vezes vale a pena ir até uma cidade desconhecida, onde temos dificuldade em perceber o que dizem, não reconhecemos as ruas, não conhecemos os costumes. Essa cidade tanto pode ser Paris como o Rio, Tóquio, Veneza, Bombaim ou Nova Marte. O que é melhor? Nunca sair do café do bairro ou ir de quando em quando visitar outras cidades, outros mundos, outros modos de dizer as coisas?"


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