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quarta-feira, 21 de março de 2018

Dia Mundial da Poesia: um poema "sobre um poema"


"Escrever com o coração", Fernando Vicente



Sobre um Poema



Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.


Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.


E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.




Herberto Helder

Fonte: Citador

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

"Os livros, esses animais sem pernas...": uma citação de José Luís Peixoto





"Os livros, esses animais sem pernas, mas com olhar, observam-nos mansos desde as prateleiras. Nós esquecemo-nos deles, habituamo-nos ao seu silêncio, mas eles não se esquecem de nós, não fazem uma pausa mínima na sua vigia, sentinelas até daquilo que não se vê. Desde as estantes ou pousados sem ordem sobre a mesa, os livros conseguem distinguir o que somos sem qualquer expressão porque eles sabem, eles existem sobretudo nesse nível transparente, nessa dimensão sussurrada. Os livros sabem mais do que nós mas, sem defesa, estão à nossa mercê. Podemos atirá-los à parede, podemos atirá-los ao ar, folhas a restolhar, ar, ar, e vê-los cair, duros e sérios, no chão.

(...) Os livros, esses animais opacos por fora, essas donzelas. Os livros caem do céu, fazem grandes linhas rectas e, ao atingir o chão, explodem em silêncio. Tudo neles é absoluto, até as contradições em que tropeçam. E estão lá, aqui, a olhar-nos de todos os lados, a hipnotizar-nos por telepatia. Devemos-lhes tanto, até a loucura, até os pesadelos, até a esperança em todas as suas formas".



José Luís Peixoto, "Abraço"

Via Canto do Livro

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Há um atlas para descobrir as paisagens portuguesas que vêm nos livros


Artigo de CRISTIANA FARIA MOREIRA para o jornal Público, em 16 de agosto de 2017:

A base de dados do atlas reúne quase 7 mil excertos recolhidos por "leitores de paisagens literárias", em mais de 350 obras, de 170 escritores, do século XIX aos dias de hoje. Mas ainda "há tudo por fazer".

"Hoje à tarde, quando visitava as penedias do Sirol — uma maravilha que a erosão das águas ali fez — e pasmava diante de uma inacreditável fachada românica natural, o bandido de um moleiro, a quem perguntei se aquilo não lhe dizia nada lá por dentro, respondeu-me tal e qual:

— Para quem nunca viu pedras..."

Conhecemos os nossos arredores, acostumamo-nos à paisagem que vemos todos os dias. E caímos no erro do moleiro que Miguel Torga escreveu num dos volumes do Diário, na entrada Leiria, 25 de Novembro de 1940, que se encerra na cegueira do quotidiano e não consegue olhar à volta e apreciar os elementos naturais e culturais que lhe compõe o dia-a-dia. Falta-nos, muitas vezes, encontrar-lhes um "significado", diz Ana Isabel Queiroz, a investigadora que coordena um projecto de investigação que quis criar uma espécie de atlas que nos permite calcorrear Portugal de Norte a Sul, guiados por escritores que pararam para observar a paisagem e que depois a escreveram.

Nascido para "valorizar a literatura e o território", as palavras e as paisagens, o património natural e cultural, como “elementos-chave das identidades locais e regionais”, o Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental funciona como um repositório de excertos literários de obras do século XIX até à actualidade. São compilados e classificados numa imensa base de dados, construída a muitas mãos, que agrega descrições de paisagens e as georreferencia de maneira a que se possa viajar pelo território e pela literatura ao mesmo tempo.

De que forma é que a literatura pode contar a história de um lugar, de uma rua, de uma aldeia, de uma cidade? "A literatura, o texto, é uma representação daquele território e ao lê-lo através daquela descrição, estamos a conferir-lhe significado. Estamos a dar-lhe a profundidade histórica, social, política, económica, humana. Deixa de ser um espaço sem sentido para ser um espaço com significado", explica a investigadora ao PÚBLICO.

Vamos então para a sala de visitas da capital, a Praça do Comércio, guiados por Hans Christian Andersen em Uma Visita em Portugal em 1866 e seguimos pela "larga Rua do Ouro. Aí estão os ourives, em lojas umas atrás das outras, exibindo correntes de ouro, condecorações e outros esplendores. Por esta rua se vai à maior praça da cidade, a Praça do Comércio, que se prolonga até à margem pavimentada do Tejo, onde estão os barcos ancorados. Em ambos os lados se ergue a cidade em forma de terraços sobre colinas de considerável altura".

No atlas podemos ainda viajar para Norte para o Porto de Maria Angelina e Raul Brandão, em Portugal Pequenino, "se não a mais bela, a mais pitoresca" cidade do mundo. Pelo meio do "nevoeiro que sobe, ascende" e "atropela tudo", com aqueles “bairros à beira rio” que fazem “uma cidade de sonho”, subimos "aquelas ruas íngremes", como "a dos Clérigos, com um grande dedo apontado para o céu".

E damos um pulo a Trás-os-Montes, onde podemos adivinhar que ali vamos encontrar um famoso trasmontano que é a voz de uma terra e de um povo, Miguel Torga, ou à região vizinha, a que Camilo Castelo Branco dedicou as suas oito Novelas do Minho. E não podia faltar o contributo de Eça de Queirós que em A Cidade e as Serras um dia trouxe Jacinto da sempre frenética Paris à pacata aldeia de Tormes, no Douro, onde havia de chegar à "pequenina estação", que apareceu "clara e simples, à beira do rio, entre rochas, com os seus vistosos girassóis enchendo um jardinzinho breve, e duas altas figueiras assombreando o pátio, e por trás a serra coberta de velho e denso arvoredo".

Hoje, ainda desembarcam passageiros em Tormes, alguns em peregrinação literária à Casa-museu de Eça. Coisa dos tempos, esta peregrinação pode ser hoje feita sem sair de casa, através de uma aplicação, "que não funciona maravilhosamente", admite Ana, mas que nos permite percorrer Portugal (quase) de lés-a-lés, guiados por escritores, obras e temas ou saltando de concelho em concelho.


Tormes, descrito por Eça em A Cidade e as Serras


Sete anos depois do início deste projecto de investigação, desenvolvido em conjunto com o Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituto de História Contemporânea, a Fabula Urbis e a Fundação Eça de Queiroz, são quase sete mil excertos recolhidos por investigadores e por outros “leitores de paisagens literárias”, depois da leitura de mais de 350 obras de mais de 170 escritores, do século XIX aos dias de hoje. Mas ainda “há tudo por fazer” num mapa que ainda tem muito país por preencher.


"Os lugares são como as pessoas, têm que amadurecer"

Já percebemos que Miguel Torga, Camilo Castelo Branco ou Eça de Queirós são alguns dos escritores clássicos presentes nos habituais roteiros literários. Mas, porque esta base de dados se vai fazendo "pelo gosto dos cidadãos", muitos dos autores escolhidos fogem ao rol dos clássicos, permitindo contar as histórias dos espaços a partir de outras vozes.



O Cais das Colunas, na zona Ribeirinha de Lisboa, descrita por Lobo Antunes em As Naus.


Até porque cada autor tem a sua própria "geografia literária". Por exemplo, de António Lobo Antunes, há 213 excertos na zona de Lisboa. "As obras que temos do Lobo Antunes desenham o seu mapa literário. Nota-se que está mais concentrado em Lisboa, mas tem uma geografia própria" que vai além do espaço físico e espelha uma realidade social, política, económica, uma vivência ora mais urbana, ora mais rural, explica Ana Isabel Queiroz. Por isso, quis estudar a evolução da paisagem lisboeta e acabou a estudar 35 romances, desde o século XIX até à actualidade, que retratam a capital.

"Olhámos para todos da mesma forma, como se aquelas obras fossem todas uma, não sobre as palavras que usaram, mas sobre o espaço da cidade de Lisboa que utilizaram. E concluímos que os escritores do século XIX não retrataram a cidade da mesma maneira que os escritores da actualidade. Claro que já estávamos à espera que isso acontecesse. Mas não sabíamos quais eram as diferenças”, explica.

Dividiram os livros em quatro períodos: Monarquia, I República, Estado Novo e Democracia. Cartografaram todos os pontos que estavam dentro do romance e uniram-nos. "Chamamos a isto o espaço literário do livro", diz. E perceberam que no período da Monarquia o espaço comum é muito concentrado no centro da cidade, nas zonas do Chiado e Rossio, na República expande-se do centro, no Estado Novo volta a concentrar-se e já em Democracia volta a ser mais alargado.

"Aquilo que é a representação que mais escritores fazem vai-se ampliando. A noção de cidade vai aumentando”, nota. O imaginário da cidade na Democracia já não está confinado a esta "cidadezinha do século XIX". Mas, ressalva, que "apesar de a cidade ter aumentado, a parte literária não acompanhou esse crescimento". Porquê?

Porque há "uma espécie de tempo de espera" até que um espaço entre na cidade. "Há algum escritor a escrever agora sobre a Alta de Lisboa? Ainda não, porque aquilo ainda é considerado um subúrbio, um arredor, ainda não há histórias". E os lugares também precisam de um tempo de vivência. "Os lugares são como as pessoas, têm que amadurecer".


"Não deixamos de ter escritores a escrever paisagens literárias"

Este projecto de investigação tem vivido da divulgação, diz Ana Isabel Queiroz. Por isso, as leituras têm vindo para a rua ter com os leitores em percursos literários que começaram em 2012, com o propósito de pôr a literatura e contar a história da cidade. O último roteiro literário foi centrado no coração de Lisboa – do Chiado ao Marquês de Pombal - para marcar a abertura da Feira do Livro, em Junho passado.


Link



domingo, 19 de março de 2017

Ainda António Lobo Antunes: para ele, não escrever é ficar doente.




"O que posso fazer? (...) Quando não escrevo não me sinto bem, sinto uma espécie de angústia; uma coisa física difícil de explicar. Tenho a impressão de que me fizeram para escrever."

"Às vezes penso que talvez tenhamos nascido com certo número de livros cá dentro. Se eu não os escrever, a minha vida não tem sentido."

António Lobo Antunes

sábado, 18 de março de 2017

António Lobo Antunes: "O cancro é uma puta, senhor Barata. Livre-se!"



António Lobo Antunes recebeu esta quarta-feira à noite o prémio "Vida e Obra" da Sociedade Portuguesa de Autores. Numa raríssima aparição num evento público, o escritor subiu ao palco, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para receber o prémio e fazer um pequeno discurso.

Até um pequeno discurso deste homem é genial e comovente!

A partir do minuto cinco, Lobo Antunes começou a falar de (e com) um tal de senhor Barata, um senhor que almoça sempre sozinho. A história comoveu a audiência (e a mim também). Veja o vídeo:





Um prémio muito merecido!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

"Na leitura e na escrita encontramo-nos todos naquilo que temos de mais humano".



A escrita, ou a arte, para ser mais abrangente, cumpre funções que mais nenhuma área consegue cumprir. (...) Sinto que há poucas experiências tão interessantes como quando se lê um livro e se percebe "já senti isto, mas nunca o tinha visto escrito", procurar isso, ou procurar escrever textos que façam sentir isso, é uma das minhas buscas permanentes. Trata-se de ordenar, de esquematizar, não só sentimentos como ideias que temos de uma forma vaga mas que entendemos melhor quando os vemos em palavras. Trata-se também de construir empatia: através da leitura temos oportunidade de estar na pele de outras pessoas e de sentir coisas que não fazem parte da nossa vida, mas que no momento em que lemos conseguimos perceber como é. E isso faz-nos ser mais humanos. Na leitura e na escrita encontramo-nos todos naquilo que temos de mais humano.
José Luís Peixoto

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Festival Internacional de Cultura, em Cascais, arranca com debate entre irmãos Lobo Antunes


O primeiro Festival Internacional de Cultura (FIC) vai arrancar esta sexta-feira, em Cascais, mas é no sábado que um dos grandes momentos acontece, com o escritor António Lobo Antunes a ser entrevistado pelo irmão, o médico João Lobo Antunes.

Ao longo de dez dias, de 3 a 12 de julho, vários nomes da música, teatro e literatura vão estar reunidos para “celebrar os livros”.
 
Saiba mais AQUI

Fonte: Observador

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

DN disponibiliza 31 Contos Digitais Grátis




O Diário de Notícias está a disponibilizar no seu site uma Biblioteca Digital completamente grátis, da qual fazem parte mais de 30 contos de grandes autores portugueses.

Vai encontrar por lá livros de Pedro Paixão, Inês Pedrosa ou Gonçalo M. Tavares, entre muitos outros grandes autores da literatura portuguesa contemporânea.

Neste momento estão já disponíveis para download os seis primeiros títulos e até ao final do mês de Dezembro de 2013 irão ficando disponíveis todos os outros que completam esta interessante e valiosa colecção.

O único requisito para poder aceder aos livros é fazer o registo grátis no site do DN.

Tenha acesso a esta biblioteca AQUI.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Faça o download gratuíto do novo livro de Filipa Fonseca Silva



Não sabe quem é Filipa Fonseca Silva? Eu também não sabia até descobrir que o seu primeiro livro, “Os Trinta - Nada é como sonhámos” (na versão inglesa, “Thirty Something – Nothing’s how we dreamed it would be”), entrou há dias no TOP 100 da categoria Woman's Fiction, ao lado autores como James Patterson, Danielle Steel e E.L.James. Simultaneamente atingiu a posição 630 da Amazon no rank geral de vendas, ou seja, incluindo todas as categorias de livros existentes naquela que é a maior loja online do mundo. E é portuguesa.

Para comemorar o feito, Filipa está a oferecer o seu segundo livro, "O Estranho Ano de Vanessa M.", em versão e-book a quem subscrever o seu blogue. Eu já fiz download do meu exemplar. Se quiser um, clique AQUI. É só até 15 de Novembro.

Parabéns Filipa!

domingo, 6 de outubro de 2013

"Rio das Flores" de Miguel Sousa Tavares, já li.



Mais um livro que vai para outr@ don@. Este é dos meus. A seguir a ler o Equador de uma assentada, fui a correr comprar outro livro do Miguel Sousa Tavares. Este. Tal como o Equador, é um bom livro para aprender sobre a história de Portugal: 

"Sevilha, 1915 - Vale do Paraíba, 1945: trinta anos da história do século XX correm ao longo das páginas deste romance, com cenário no Alentejo, Espanha e Brasil. Através da saga dos Ribera Flores, proprietários rurais alentejanos, somos transportados para os anos tumultuosos da primeira metade de um século marcado por ditaduras e confrontos sangrentos, onde o caminho que conduz à liberdade parece demasiado estreito e o preço a pagar demasiado alto. Entre o amor comum à terra que os viu nascer e o apelo pelo novo e desconhecido, entre os amores e desamores de uma vida e o confronto de ideias que os separam, dois irmãos seguem percursos diferentes, cada um deles buscando à sua maneira o lugar da coerência e da felicidade. "Rio das Flores" resulta de um minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica, que serve de pano de fundo a um enredo de amores, paixões, apego à terra e às suas tradições e, simultaneamente, à vontade de mudar a ordem estabelecida das coisas. Três gerações sucedem-se na mesma casa de família, tentando manter imutável o que a terra uniu, no meio da turbulência causada por décadas de paixões e ódios como o mundo nunca havia visto. No final sobrevivem os que não se desviaram do seu caminho".

Quem quiser adquirir este livro novo a preço usado clique AQUI.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Diálogos difíceis na sua simplicidade / Sometimes talking is so difficult!





- Gostas de mim?
- Gosto.
- Gostas como?
- Gosto de estar contigo. De falar contigo.
- Queres namorar?
- Não.
- Porquê?
- Porque já não ia ser igual.
- Igual?
- Sim. Igual ao que temos agora.
- Porquê?
- Porque o princípio é sempre a parte melhor.
- Queres ficar sempre no princípio?
- Se for possível...
- Então, não queres ter ninguém para sempre...
- Talvez não.
- És complicada.
- Se não namorar sou menos.
- Tens medo que eu não goste da tua complicação?
- Tenho a certeza que não vais gostar.
- Como é que sabes?
- Porque acho que conheço alguma coisa das pessoas.
- Achas?
- Talvez.
- E do amor?
- Conheço pouco.
- Então, também não podes conhecer muito das pessoas.
- Talvez tenhas razão, mas não me apetece discutir isso agora.
- Então o que queres discutir?
- Nada. Só ficar assim a olhar para quem passa e falar de banalidades.
- Queres falar de banalidades para sempre?
- Não. Podemos falar de assuntos importantes, desde que não seja sobre nós.
- Assim não vão ser importantes.
- Para ti é essencial falar de nós?
- É.
- Para quê?
- Porque gosto de ti. Achas pouco?
- Acho muito. Por isso não vamos deitar tudo a perder.
- A perder?
- Sim. Se começamos a falar de nós fica tudo complicado e os problemas aparecem.
- Problemas como?
- Vais querer saber como foi a minha vida. Vamos cobrar um ao outro. Vais querer fazer amor comigo só porque achas que tens direito.
- Direito? Só fazemos amor se quiseres!
- Mentira. Só dizes isso porque estás muito romântico agora, mas depois... Depois vais começar a tocar-me, a sentir desejo...
- E então?
- Então? Então eu vou sentir-me na obrigação de fazer amor contigo para que não me aches esquisita.
- Tu fazes amor para que não te achem esquisita?
- Faço amor para me acharem normal. Dá-me um cigarro.
- Estás nervosa?
- Sim. Estou a fazer um esforço por ser sincera e não estou habituada



domingo, 9 de junho de 2013

Chove... diz José Gomes Ferreira


José Gomes Ferreira (que nasceu a 9 de Junho de 1900, no Porto. Faleceu em 1985)



Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

                                                   José Gomes Ferreira

sábado, 30 de março de 2013

A book.it procura novos talentos nacionais na área da escrita



A book.it quer promover os novos talentos nacionais na área da escrita. Assim, decorre até 31 de Maio o período de candidaturas à segunda edição concurso literário book.it, que pretende promover a leitura e os autores portugueses.

Todos aqueles que têm a paixão de escrever e sonham ver um livro seu editado, têm aqui a oportunidade para converterem as suas histórias em realidades impressas.
Todos os amantes da escrita que não tenham nenhuma obra publicada e que desejem partilhar as suas histórias têm a oportunidade das suas vidas neste concurso. Os participantes podem concorrer com romances ou novelas, histórias de vida e livros de contos e ainda obras poéticas, sendo que cada concorrente apenas pode entregar um único texto inédito.

Se quer ver o seu livro editado, basta remeter por CTT a sua história original, acompanhada de sinopse, cópia do cartão de cidadão ou bilhete de identidade e ficha de inscrição preenchida, de acordo com as condições descritas no regulamento oficial.

Após a recepção das participações, seguir-se-á uma fase de análise das obras, estando esta análise a cargo de um júri composto por elementos da book.it, um elemento da Lux Woman e um elemento da Leya. O vencedor será contactado durante o mês de agosto, sendo anunciado em Novembro, aquando da edição e publicação da sua obra em livro.

Na primeira edição, que contou com cerca de 300 obras recebidas, Nuno Nepomuceno sagrou-se vencedor, com a obra «Espião Português», tendo esta história sido editada em livro pela editora ASA, parceira oficial do concurso.


O regulamento e restantes informações podem ser consultados em http://www.bookit.pt/page/concurso-literário-bookit.

Os trabalhos devem ser enviados para:
Concurso Literário book.it, Parque de Negócios de Empresas
Sonae Maia Business Center, Estrada Nacional 13 – km 6,78
Lugar do Espido – Via Norte 
4470-179 Maia



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A imperfeição é definitivamente mais perfeita



Black Swan (2010) 


«… Sei agora que os perfeitos são uma superfície lisa por onde escorregamos e caímos, uma superfície onde o nosso corpo se não amarra. Demorei a perceber que há uma poesia na imperfeição, porque há curvas e recurvas, altos e baixos, âncoras a que me agarro, arribas onde me engancho. Só é possível estar com alguém quando as nossas imperfeições se encaixam, quando esse atrito nos prende ...»


João Morgado

IN: Diário dos Imperfeitos
Prémio Literário Vergílio Ferreira
Romance - Kreamus - 2012



Esta citação do romance Diário dos Imperfeitos de João Morgado lembra-me um conto de Eça de Queirós, o meu preferido (juntamente com "Civilização"), que se intitula precisamente "Perfeição". Clique nos títulos dos contos para aceder às suas publicações on-line podendo inclusivamente fazer o download.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A sexualidade numa mulher por João Morgado




«Sexo pelo sexo é apenas o atulhar de um oco - o banquete de um côncavo dentro do convexo (...) Podemos aterrar mil vezes num aeroporto e não conhecer o país, como podemos entrar mil vezes uma mulher e não a conhecer… (...) A sexualidade numa mulher começa na cabeça e prolonga-se pela pele como um horizonte em que se funde o mar com o céu infinito. A mulher é um pensamento com pele»


João Morgado IN: Diário dos Imperfeitos

Romance, Kreamus, 2012
Prémio Literário Vergílio Ferreira

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"Segunda-feira trabalhei de olhos fechados"

"Segunda-feira
trabalhei de olhos fechados
na terça-feira
acordei impaciente
na quarta-feira
vi os meus braços revoltados
na quinta-feira
lutei com a minha gente
na sexta-feira
soube que ia continuar
no sábado
fui à feira do lugar
mais uma corrida, mais uma viagem
fim-de-semana é para ganhar coragem

(...)
a vida é feita de pequenos nadas.


Sérgio Godinho


Leia AQUI o texto todo e oiça a canção.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lançamento do "Dicionário de personagens da obra de José Saramago"




O Dicionário de personagens da obra de José Saramago, de Salma Ferraz, é apresentado no próximo dia 23 (julho), no auditório da Casa dos Bicos, em Lisboa, anunciou a Fundação José Saramago. No comunicado enviado, a Fundação afirma que o dicionário foi “elaborado ao longo de 15 anos” pela investigadora brasileira, e conta com a contribuição de 15 colaboradores e 68 investigadores.

Fonte: RBE

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O indizível por José Luís Peixoto



"Às vezes, fico só a olhar para vocês. Aperto os lábios, porque todas as palavras me parecem insuficientes. Aquilo que normalmente se diz nessas ocasiões, aquilo que é aceite pelo protocolo da convivência social, não chega para começar a exprimir todo o invisível que me inunda. Então, quase sempre sentado a uma mesa, fico só a olhar para vocês. Nesses momentos, não ter palavras é muito melhor do que ter rios de palavras. Aquilo que não sei dizer existe com muita força e, se tentasse encontrar-lhe nomes, estaria a diminui-lo, a transformá-lo em qualquer coisa possível.

É essa a natureza da matéria que partilhamos, é essa a forma daquilo que nos juntou. Sem esse mistério, continuaríamos a seguir os nossos caminhos. Talvez a metros, talvez a quilómetros, talvez em hemisférios distintos, talvez em ruas paralelas, as nossas existências seriam indiferentes uma à outra. Não quero sequer imaginar a possibilidade desse mundo cinzento. Ainda bem que existem os livros, ainda bem que existe esta revista, ainda bem que existem a internet, o facebook, as feiras do livro e todos os lugares físicos e não-físicos onde nos encontramos. Ainda bem que existe o pensamento e a memória. Ainda bem que existe a ternura".


Ler mais: http://aeiou.visao.pt/obrigado=f645618#ixzz1lvLCxpMu

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