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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Um poema de amor de Fernando Pessoa para o Dia dos Namorados

Fernando Vicente



O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.


Fernando Pessoa

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hoje é dia de ler cartas de amor...ridículas / Time for love letters


s.id.

Quando se fala de cartas de amor (que já as escrevi) vem-me sempre à cabeça Fernando Pessoa:

    Todas as cartas de amor são
    Ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,
    Ridículas.

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas.

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)


                  Álvaro de Campos, 21-10-1935

sábado, 4 de agosto de 2012

"Num dia de Verão" / Summer, poems and books




Num dia de Verão


Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
...
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê…
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo…


Alberto Caeiro (Fernando Pessoa, 1914)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A assinalar o Dia da Criança deixo um poema de Fernado Pessoa



A Criança que Fui Chora na Estrada

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
...
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.


Fernando Pessoa

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Se no tempo de Fernando Pessoa houvesse Facebook...




As múltiplas referências literárias poderão não ser totalmente apreendidas por todos mas este texto está genial. Para verdadeiros fãs de Fernando Pessoa. :)

"Se no tempo de Fernando Pessoa houvesse Facebook, então é que a arca nunca mais acabava. E os pessoanos estudariam cada like, com afinco, procurando as motivações literárias e as personalidades escondidas naquele gesto espontâneo. E as partilhas. Talvez aquela Oração que circula por aí, da Banda Mais Bonita da Cidade, lhe despertasse os sentidos, ou pelo menos a um dos heterónimos. Ai, se a equipa do Mark Zuckerberg descobrisse os heterónimos iria logo classificá-los como perfis falsos, e lá se ia o mural do Álvaro de Campos. Talvez não dessem por nada. E só anos mais tarde os pessoanos mais aplicados encontrariam um perfil falso sem amigo nenhum, mas pessoanamente genial.



Sim, o Álvaro de Campos seria o mais torrencial. Partilhas em catadupa, remissões para o blogue, momentos de grande euforia e habilidade informática. O Ricardo Reis publicaria, rigorosamente, um post por dia, e só aceitaria amizade de pessoas com quem privasse. O Alberto Caeiro não seria informaticamente dotado, mas até acharia graça à coisa. O Bernardo Soares gostaria mais do Twitter. Nenhum deles teria cinco mil amigos, nem mesmo o Fernando Pessoa ortónimo , sobretudo por uma questão de timidez, apesar de passar demasiado tempo no chat com Ofélia. Todos os posts de amor são ridículos.

Imagine-se o manancial de informação arquivado. As publicações do mural. O Almada Negreiros seria um dos mais fervorosos frequentadores, com considerações e discussões acesas. Até ao dia, claro está, em que via a conta bloqueada, por denúncia de Júlio Dantas, que considerou aquela história do "Pim!" indecorosa e imoral o seu mural.

Quando inventaram a revista Orpheu criariam um evento, a que poucos amigos ligaram. Mas eles insistiram muito. Até criaram um site onde publicavam apenas parte dos conteúdos... Quem quisesse ler o resto que comprasse a revista. Contudo, o volume três teria apenas sairia em edição digital, com grafismo do Almada e ciberarte do Amadeo.

Todos choraram muito a Morte de Mário de Sá-Carneiro. De Paris, ele já tinha colocado uns posts que sugeriam a depressão, mas ninguém poderia esperar aquilo. O Mural encheu-se de comoventes mensagens de despedida. Alguns até lhe dedicariam poemas.

Quando Fernando Pessoa morreu, misteriosamente, Ricardo Reis continuou ativo, a publicar os seus posts diários. Quem descobriu isso foi esse tal de Saramago, que o matou anos mais tarde".

Manuel Halpern em Homem do Leme

terça-feira, 31 de março de 2009

Fernando Pessoa: técnica mista sobre tela.

Considerações mínimas sobre Fernando Pessoa. Pinturas de Ilda David, no Espaço Pessoa & Companhia, Largo de São Carlos, Lisboa, das 12h00 às 22h00. Exposição patente ao público até ao dia 02/05/2009.



Colagem minha das Pinturas de Ilda David.




«O mistério das cousas, onde está ele?», Alberto Caeiro.
2008, técnica mista sobre tela, 120x70cm




«Quero versos que sejam como jóias», Ricardo Reis.
2008, técnica mista sobre tela, 120x70cm



«Ah, abram-me outra realidade!», Álvaro de Campos.
2008, técnica mista sobre tela, 120x70cm

Fonte: http://www.assirioealvim.blogspot.com/




segunda-feira, 30 de março de 2009

Sobre os Poetas...Pessoa e Freud

A Poesia por um poeta, Fernando Pessoa através do seu heterónimo "guardador de rebanhos":

E há poetas que são artistas

E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem construi um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!…
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre boa e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa,
E olho para as flores e sorrio…
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono.

Alberto Caeiro, Poesia


E pelo pai da Psicanálise, o digníssimo Freud:

"Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim"



Fontes:
http://assirioealvim.blogspot.com/2009/03/e-ha-poetas-que-sao-artistas.html
http://curiosaidentidade.blogspot.com/

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Fernando Pessoa diluído nas cores de Sábat

Fernando Pessoa, o poeta que se desdobrava em vários fingidores, foi retratado pelas aguarelas do cartoonista uruguaio Hermenegildo Sábat. De forma soberba!









Vejam mais aqui.

"A minha pátria é a língua portuguesa" dizia Pessoa e eu encontro nas suas palavras a minha verdade: é em português que penso, que verbalizo o que sinto, faz parte de mim, de quem sou e da forma como vejo e ouço o mundo.

E reconheço na poesia deste “fingidor” um hino à minha Pátria.


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