terça-feira, 19 de julho de 2011

Era uma vez o princípe desencantado, da realeza real ...

O príncipe desencantado





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Por Ricardo Araújo Pereira:
De acordo com a imprensa, o casamento do príncipe do Mónaco foi visto por um milhão de portugueses. Continua a ser bastante misterioso para mim que alguém queira assistir a um casamento, sobretudo se não pode estar presente no copo de água. Os jornalistas que fazem a cobertura deste tipo de acontecimento avançam com uma explicação: as pessoas gostam muito de contos de fadas. É notável que este tipo de jornalista saiba sempre aquilo de que "as pessoas" gostam, e eu não sou ninguém para os contradizer. Mas o casamento do príncipe do Mónaco, mesmo sendo o casamento de um príncipe, não tem nada a ver com os contos de fadas. Talvez eu tenha sido um leitor desatento de Perrault, dos irmãos Grimm e de Andersen, mas não me recordo do conto de fadas que começa: "Era uma vez um príncipe de 53 anos, careca e relativamente anafado, que tinha, de acordo com a última contagem, quatro filhos bastardos. Numa linda manhã..."

Digamos que não se trata da descrição habitual de um dos príncipes dos contos de fadas - que, refira-se, quase nunca se chamam Alberto. Estamos, além disso, a falar de um príncipe cujo reino, além de não ser bem um reino, tem cerca de dois quilómetros quadrados. É menos de metade da área da freguesia de Bordonhos, em S. Pedro do Sul. Que um grande número de portugueses deseje assistir ao casamento de Alberto Alexandre Luís Grimaldi e nenhum queira saber do matrimónio de Celestino Manuel da Silva Cardoso (presidente da junta de Bordonhos, para os leitores indesculpavelmente ignorantes) é das ocorrências mais estranhas da vida contemporânea.

Em geral, nos contos de fadas os príncipes são filhos de um rei muito bondoso. Ou, em alternativa, de um rei muito malévolo que eles combatem e substituem - passando eles a ser reis muito bondosos. Na vida real, os príncipes são descendentes de homens que eram piratas, ou brutos com jeito para andar à pancada, ou ambas as coisas. No caso do príncipe Alberto, há o problema adicional da progressão na carreira. Trata-se de um príncipe que nunca será rei, uma vez que os seus antecessores não tiveram sequer a decência de conquistar um território à altura de um monarca. É um príncipe que nunca deixará de ser príncipe. O trono do Mónaco sofre do complexo de Peter Pan.

Em resumo, trata-se de um gordito de meia idade que manda numa espécie de borbulha da França, com uma área pouco maior do que três campos de futebol e cujos habitantes são, na sua maioria, pessoas que acedem a ser seus súbditos sobretudo para efeitos fiscais. Não vi o casamento mas estou ansioso pelo filme da Disney.


Crónica publicada na Revista Visão, edição de 14 de Julho de 2011.

1 comentário:

Pendientes & Louboutins disse...

o rap escreve muitíssimo bem. parabéns pelo conceito do blog*

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