Antes de mais, deixem-me dizer que, tendo tirado a licenciatura na insuspeita Faculdade de Letras de Lisboa, frequentei a Lusófona para tirar a minha Pós-Graduação em Ciências Documentais. Dois anos com 4 horas diárias! Sem equivalências. Com trabalho! Sem facilitismos. Ainda sem cursos à bolonhesa. E agora, com tudo isto, quase me apetece pedir o meu dinheiro de volta, perante a descredibilização de que esta instituição e os seus cursos entretanto foram alvo!
"Quando, na semana passada,
se soube que o ministro Miguel Relvas até teve equivalências a três
cadeiras que não existiam, a notícia levantou sobretudo problemas
filosóficos. Problemas políticos, mais uma vez, nem um. Mas,
filosoficamente, a questão é, de facto, muito complexa, uma vez que o
ministro arrisca mesmo perder o grau académico.
Ou seja, Miguel Relvas, que foi licenciado antes de o ser, pode
agora deixar de o ser sem nunca o ter sido. Quem está em maus lençóis
não é Relvas (como, aliás, é costume sempre que há problemas com Relvas)
mas a Lusófona. Pode uma universidade tirar ao ministro algo que ele
nunca teve? E se Miguel Relvas se licenciar na floresta e não estiver lá
ninguém para ouvir, a licenciatura fará barulho? Porque é disso que se
trata: do barulho que se pode fazer com a licenciatura.
Um curso universitário habilita pouco e tem ainda menos serventia.
Antigamente, a licenciatura servia para arranjar emprego. Hoje, é capaz de atrapalhar.
Nisso, o caso de Miguel Relvas é exemplar: mesmo não sendo
licenciado, sempre conseguiu arranjar emprego, não só para si como, a
fazer fé no que dizem os jornais acerca do caso Tecnoforma, também para
os amigos.
A licenciatura é só para enfeitar.
Acaba por ser um escândalo que Miguel Relvas precise mesmo de se licenciar para que o tratem por doutor.
Creio que cada pessoa devia poder escolher a forma de tratamento
deferente que lhe parecesse mais apropriada e aplicá-la ao ministro sem
necessidade da mesquinha verificação de que ele possui realmente as
habilitações que permitem esse tratamento. É o que vou passar a fazer
relativamente ao almirante Miguel Relvas.
Todos os manifestantes que empunharam cartazes facetos sugerindo ao
bispo Miguel Relvas que fosse estudar também devem estar a sentir-se
bastante estúpidos. Os novos factos revelam que o ministro estudou não
só cadeiras que existiam como cadeiras que não existiam. Normalmente, a
matéria das últimas é bastante mais vasta do que a das primeiras. E a
bibliografia bem mais difícil de encontrar. "Vai estudar matérias que
existam, Relvas" poderia ser um cartaz mais próximo da verdade mas,
mesmo no âmbito das matérias existentes, o maestro Miguel Relvas tem
equivalências para exibir.
O escuteiro-chefe Miguel Relvas encontra-se agora, injustamente,
numa posição ingrata. Já se sabia que tinha feito um curso com
equivalências, e sabe-se agora que eram equivalências a cadeiras
imaginárias. Por isso, o visconde Miguel Relvas tem com a sua
licenciatura a mesma relação que Portugal tem com a dívida: talvez
consiga cumprir as suas obrigações, mas precisa de mais tempo.
O melhor é reestruturar a licenciatura.
Vamos esperar que o juiz desembargador Miguel Relvas consiga chegar a um acordo com a universidade".
Sem comentários:
Enviar um comentário