Aqui fica um artigo de opinião de
"O audiovisual continua a alastrar a sua intervenção e com a sua
enorme capacidade sedutora continua a chegar a muitos cidadãos. De entre
os diversos conteúdos acessíveis no moderno audiovisual podemos
destacar o livro eletrónico, uma novidade que vai naturalmente ganhando
novos adeptos.
Mas sabemos como o mundo da eletrónica evolui vertiginosamente.
Rapidamente
um utensílio fica desatualizado, passa de moda, sendo colocado
facilmente de lado pelo utilizador que ambiciona manipular o que surge
de mais recente, utilizar o mais moderno. Mesmo reconhecendo-se que um
utensílio tem validade, troca-se por já não oferecer o estímulo da
novidade.
Um livro eletrónico, apaga-se ou então, qual ficheiro colecionável, arquiva-se num local como grão de areia.
Mas um livro de papel…
Vale a pena ler um livro, folheá-lo, é uma relação mais quentinha.
Na
montra ou no expositor dá-nos uma imagem e quando lhe pegamos tem um
volume que se sente facilmente a três dimensões; tem uma capa e uma
contracapa, dura ou mole, tem um odor, porventura um cheiro a novo, e
tem um conteúdo que lido e entendido pode acompanhar uma vida.
Um
livro de papel pode passar a fazer parte de quem o lê, das suas
atitudes, dos seus sentimentos e emoções. Pode tornar-se numa companhia
que pelo menos, havendo claridade está sempre disponível para permitir
uma relação de intimidade mais ou menos prolongada com os conteúdos que
estão escritos, e com as mensagens desencadeadas no leitor.
Um
livro é um objeto com história, com um antes, um durante e um depois e
sendo um livro de papel, não passa de moda, porque ao ser lido está na
moda de quem o lê. Oferece materialmente uma estabilidade de relação com
o leitor que é muito mais segura, fiel e palpável do que o virtual.
Um
livro de papel olha-se e vê-se, abre-se e fecha-se, toca-se e sente-se,
no todo ou em parte, ou página a página ou em várias partes.
Sente-se
e pode-se ouvir o virar da página feito com um dedo porventura
humedecido ou feito com vários dedos. E de seguida pode fixar-se a
página virada afagando com os dedos, seja um livro de bolso ou um livro
maior. E se teimosamente insiste em se fechar, com o polegar fazemos a
pressão adequada para que se mantenha o livro aberto.
Um livro de
papel pode-se estimar, há quem forre um determinado livro, quem lhe
ponha uma capa para o proteger. Também se pode sublinhar e há quem o
faça inúmeras vezes, como que a vincar o valor das palavras, a
intensidade do pensamento ali escrito.
Um livro de papel faculta
um sentido de posse, ou da estima, da utilidade, da memória para futuro,
eventualmente reforçada com uma pérola como seja uma dedicatória que
alguém escreveu para transmitir carinho, afeição, muita dedicação ou até
e apenas respeito, de quem assina para quem o recebeu.
Há quem
personalize a sua posse e lá escreva o seu nome e morada, ou quem lhe
coloque um carimbo pessoal, familiar ou institucional.
Um livro para uma criança? Mas isso pode ser um bem extraordinário.
Um dicionário? Que maravilha para a criança passear os seus dedos, olhar, ver e adquirir conhecimento. Que bela pedagogia.
Uma
criança pode colher da leitura de um livro benefícios que não colhe do
ecrã do computador e da Internet, nomeadamente na manipulação das folhas
reais desse objeto porventura facilmente transportável, que pode ser
bastante resistente e bastante seguro, que pode ser sua pertença
juntamente com muitos outros, e que também pode oferecer e trocar.
Tendo
imagens fixas, não emitindo radiações, um livro para uma criança pode
ter conteúdos que estimulam a fantasia, o imaginário, o interesse pelas
histórias, pelo futuro, e que permitem armazenar informação selecionada e
que foi escolhida pelos autores de quem o imaginou e construiu.
Sim,
porque apesar de tudo, a publicação de um livro de papel passa por
diversos intervenientes com critérios, com níveis de responsabilidade e
de saber mais exigentes do que muito do que se pode encontrar no mundo
da Internet.
Em boa verdade o crescente mega mundo universal da
Internet tem outros critérios de publicação e de emissão do que está
disponível. Sendo avassalador o seu imediatismo e poder de atração com
som e imagem de qualidades extraordinárias, exige muito mais atenção e
muitos cuidados perante o acesso de um clique feito por uma criança.
E
a situação pode piorar deveras quando se trata de uma criança
desprevenida e que não esteja acompanhada por quem a respeite, e ajude a
escolher por onde navegar sem lhe provocar algum dano no seu mundo
interno e relacional.
Há que reconhecer que de um modo geral, um
livro de papel foi selecionado e está disponível com outros critérios e
interesses, que podem nada ter a ver com os critérios e interesses de
muitos dos materiais virtuais colocados nas redes/web".
2 comentários:
Digital, jamais.
Adoro o tacto, o cheiro..dos livros.
Também eu, também eu. O livro em papel tem um encanto que o digital não tem.
:)
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