Diogo Gonçalves conversou com Alain de Botton sobre o seu livro Status Anxiety (em português com a tradição duvidosa Status Ansiedade...porque não traduziram para A Ansiedade do Estatuto?). Mais do que ler devorei este livro que considero brilhante e obviamente recomendo. Fica um excerto (grande :)) da entrevista:
"Alain de Botton, o mais lido filósofo vivo, decidiu responder a algumas questões acerca do seu maravilhoso livro Status Anxiety. O livro fala-nos da ansiedade, prevalente em muitas sociedades modernas, em ser o “Número Um”. Mostra-nos também que isso pode ser um jogo de perde-ganha socialmente disfuncional, uma vez que a nossa posição social é sempre dependente da posição dos outros.
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José Saramago, o único escritor Português que ganhou o prémio Nobel, dizia “Eu vivo inquieto e escrevo para inquietar.” Qual foi a tua inquietação, quando escreveste o livro Status Anxiety?
Com o meu livro, quis definir uma nova doença da forma que a via na minha vida e na dos outros que me são próximos. A ansiedade de estatuto é uma preocupação acerca de como nos posicionamos no mundo, se estamos a ir para cima ou para baixo, se somos vencedores ou perdedores. Nós preocupamo-nos acerca do nosso estatuto por uma simples razão: porque a maioria das pessoas tende a ser boa para nós de acordo com a quantidade de estatuto que temos: se ouvirem que fomos promovidos, vai haver um pouco mais de energia no seu sorriso; se formos despedidos, vão fingir que não nos viram. Em última análise, preocupamo-nos por não ter estatuto porque não somos bons em permanecer confiantes sobre nós próprios se os outros não parecerem gostar ou respeitar-nos bastante. O nosso ‘ego’ ou auto-conceito poderia ser ilustrado como balão a perder ar, a requerer permanentemente amor exterior para manter-se cheio e vulnerável às mais pequenas alfinetadas de negligência: nós precisamos de sinais de respeito por parte do mundo para nos sentirmos aceitáveis para com nós próprios.
No teu livro, mostras-nos que algumas das ideias que deram origem à ideologia capitalista, tais como a meritocracia e a “mão invisível”, são também as causas do fenómeno da ansiedade de estatuto, e uma fonte de desespero para a sociedade. Apesar de toda a dor que podem causar, porque é que são estas ideias ainda tão prevalentes no mundo de hoje?
A ansiedede de estatuto está pior do que nunca, porque as possibilidades de realização (sexual, financeira, profissional) parecem ser maiores do que nunca. Existem tantas coisas à nossa espera se não nos julgarmos a nós próprios como “losers”. Somos constantemente cercados por histórias de pessoas que conseguiram. Durante a maior parte da história da humanidade, um pressuposto oposto dominou: baixas expectativas eram vistas como normais e sábias. Apenas uns poucos poderiam aspirar à riqueza e à realização. A maioria sabia bem o suficiente que estava condenada à exploração e à resignação. Como é óbvio, continua a ser altamente improvável que possamos hoje alcançar o topo da sociedade. É talvez tão improvável que possamos rivalizar com o sucesso de Bill Gates como poderíamos no século dezassete tornar-nos tão poderosos como Luís XIV. No entanto, e infelizmente, parece que deixou de parecer improvável; dependendo das revistas que lemos, pode de facto parecer até absurdo como é que ainda não o conseguimos.
Qual foi o efeito mais gratificante, que resultou da publicação do teu livro?
O livro ajudou a fazer com que o conceito pareça universal. Apesar de tudo, até o Bill Gates sofre da ansiedade de estatuto. Porquê? Porque ele se compara a si próprio com o seu grupo de referência. Todos nós fazemos isto, e é por isso que acabamos por sentir que precisamos de mais coisas apesar de estarmos muito melhor do que as pessoas alguma vez estiveram no passado. Não é que nós sejamos particularmente ingratos, é só que não nos julgamos em relação a pessoas que viveram no passado. Não conseguimos felicitar-nos por muito tempo pela nossa prosperidade em termos históricos ou geográficos. Só nos sentimos afortunados quando temos tanto como, ou mais do que, as pessoas com quem crescemos, com quem trabalhamos, que temos como amigas, e nos identificamos em termos públicos. É por isso que a melhor forma de nos sentirmos bem sucedidos é escolher amigos que são exactamente um bocadinho menos bem sucedidos do que nós…"