segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Shakespeare pelas ilustrações de Fred Calleri / Shakespeare illustrated


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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O demónio analógico continua a assombrar o universo dos livros digitais




A revista Atual, que integra o semanário Expresso, publicou em 12 de Fevereiro de 2011 um interessante artigo de António Guerreiro intitulado "O livro digital e o demónio da analogia". Aqui publico excertos. Destaquei algumas frases a negrito, aquela que oferece a resposta à questão frequentemente colocada: Para que servem os bibliotecários na era do digital e da internet? 
As promessas contidas no livro digital exercem um grande fascínio, mas maior é a resistência do livro impresso e não se vislumbra a sua morte.

Há quase meio século, escutou-se pela primeira vez a profecia da morte do livro impresso. Foi em 1962, e o profeta tinha nome que haveria de soar a visionário: Marshall McLuhan.
 
Reiterada de tempos a tempos, reativada como um programa inevitável a partir do momento em que a Internet e os motores de busca passaram a fazer parte do quotidiano, em meados dos anos 90, a profecia não se cumpriu: a "galáxia de Gutenberg" não passou a ser uma coisa do passado, e a espécie do Homo typographicus continuou a crescer e a multiplicar-se, ainda que a sua condição seja agora híbrida, já que passou também a responder - e todos nós sabemos com que solicitude e velocidade - às solicitações da era digital.

Certo é que o caudal dos livros que se folheiam com os dedos, os livros impressos, não parou de aumentar. Robert Darnton (ver bibliografia no final do artigo), um dos mais importantes historiadores do livro e diretor da Biblioteca Universitária de Harvard, fornece os números desta marcha progressiva, num tempo que se esperava ser de abrandamento: em 1998 foram publicados em todo o mundo 700.000 novos títulos, em 2003 foram 859.000 e em 2007 foram 976.000.

Em suma, o mais velho instrumento de leitura - o códex - não apenas não foi expulso (de acordo com a velha teoria de que um novo meio de comunicação nunca exclui completamente o anterior) como manteve a sua posição de domínio absoluto.

(...)

As razões da perenidade deste aparelho extraordinário encontram-se nestas características: armazena muita informação em pouco espaço, arruma-se e transporta-se facilmente, tem um formato que o torna bastante manuseável, e a matéria de que é feito - o papel - não encontrou rival na capacidade de preservação (um dos receios mais justificados que os suportes digitais suscitam é o de estarem longe de garantir uma tal longevidade).
 
(...)

E dá-se, ao mesmo tempo, uma revolução da leitura, pois ler num ecrã não é o mesmo que ler num códex. A representação eletrónica dos textos modifica-os totalmente: a materialidade do livro dá lugar à imaterialidade do texto sem lugar próprio; e as relações de contiguidade impostas pela técnica de sucessão das páginas impressas (o que impõe uma leitura linear) opõe-se a uma livre composição fragmentária a que o digital convida.

Como observou Roger Chartier, estas mutações comandam inevitavelmente novas técnicas intelectuais.

Mas a razão pela qual os livros digitais não cumpriram exatamente o percurso triunfal que lhes tinha sido prometido no momento em que entraram em cena não tem a ver com resistências racionalmente elaboradas em função de danos e conveniências previsíveis, mas sim com hábitos, sensações e vícios incrustados no corpo e no cérebro do leitor pela civilização do livro impresso.

(...)

Mas há também uma disposição sensorial que o brilho do ecrã não satisfaz: aquela que retira prazer do cheiro e da textura do papel, das formas da encadernação.
 
De tal modo que um editor francês de livros eletrónicos (CaféScribe) tentou superar esta resistência fornecendo aos seus clientes um autocolante, para eles colocarem no computador, que emite um odor a papel.

Pode-se objetar que estes atavismos são próprios de quem se habituou à leitura nos livros impressos mas não contaminam quem se iniciou e cresceu com os computadores.

Mas, neste caso, há uma última e importante resistência que não foi ainda superada: o ecrã revela-se apto para uma leitura fragmentária e condensada, não para a leitura contínua e linear (os links da Internet levam esta aptidão ao paroxismo).

Causou algum frisson a seguinte afirmação de Bill Gates, o presidente da Microsoft: "A leitura no ecrã é ainda muito inferior à leitura no papel. Mesmo eu, que tenho ecrãs de alta qualidade e me vejo como pioneiro do modo de vida Internet, assim que um texto ultrapassa quatro ou cinco páginas, imprimo-o e gosto de o ter comigo e de o anotar. É uma verdadeira dificuldade para a tecnologia chegar a este grau de comodidade."

(...)

Parece então - e este é um ponto importante - que o modelo de leitura a que o livro desde sempre fez apelo, e que implica, entre outras coisas, um tempo próprio, não é o mesmo modelo de leitura e de operações a que induz a rede e o ecrã.
 
É por isso que os leitores de ebooks têm evoluído à medida desta determinação paradoxal: os ebooks são tanto mais perfeitos e considerados eficazes quanto mais imitam os livros.
 
Assombradas por um demónio analógico, estas manifestações supremas do mundo digital aplicam-se a proporcionar ao leitor a sensação de que está perante um novo avatar do livro impresso, que pode folhear as páginas com as pontas dos dedos, escutar o ruído do atrito no papel, sublinhar e escrever nas margens...
 
Os livros digitais parecem ter como preocupação primeira adaptar-se aos leitores do livro impresso. Percebem-se assim as razões pelas quais se extinguiram as profecias da morte do livro e se multiplicaram as apologias, como aquelas que fazem Umberto Eco e Robert Darnton.
 
Este último reserva para o livro digital um futuro que passa por jornais e revistas, incluindo revistas científicas e monografias especializadas.

(...)

Mas, mais uma vez, é sobretudo aos mais dedicados leitores do livro impresso que se dirige o livro digital, numa situação de complementaridade e não de exclusão.
 
Darnton vai mais longe: mostra como as bibliotecas de investigação se tornaram ainda mais necessárias na época do "Google Book Search" e que, sem elas, a digitalização de milhões de livros que a Google já levou a cabo pode redundar no caos bibliográfico em que não é possível aferir a autoridade da cópia digitalizada.
 
Imaginemos, por exemplo, um livro que foi sendo alterado e acrescentado pelo autor em sucessivas edições.

A Google digitaliza-as todas? Digitaliza só a última, suprimindo as várias etapas que a ela conduzem?

A Google, sublinha Robert Darnton, tem ao seu serviço um exército de informáticos, mas não consta que nas suas fileiras haja um único bibliógrafo ou filólogo.

(...)

NOTA - Para a elaboração deste artigo, foi usada a seguinte bibliografia: Robert Darnton, "The Case for Books. Past, Present and Future" (2009); Nicholas Carr, "The Shallows. What the Internet Is Doing to Our Brains" (2010); Roger Chartier, "Histoires de la lecture. Un bilan des recherches" (1995); Hans Blumenberg, "Die Lesbarkeit der Welt" (1979; ed. italiana "La leggibilità del mondo").


Bom artigo.
Leia na íntegra AQUI.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Um livro a pairar sobre uma tragédia ou um amor feliz?



Uma cena inquietante com um livro a pairar no voo de duas pombas...qual será a história deste livro, deste homem armado que nos olha de soslaio, desta mulher que dorme vulnerável e tranquila, com um sorriso a colorir-lhe o sono?

 Personalizará ela a vítima inocente face à determinação assassina dele? Não é ele que nos sobressalta com o ar astuto, dissimulado, traiçoeiro, as armas escondidas atrás das costas?

Ou será que ele apenas protege com a sua força de guerreiro o sono tranquilo da sua amada e o sorriso dela advém de se saber amada, guardada e segura?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Poemas vs Árvores: "I shall never see a poem lovely as a tree"



Trees

I think that I shall never see

A poem lovely as a tree.


A tree whose hungry mouth is prest
Against the sweet earth’s flowing breast;


A tree that looks at God all day,
And lifts her leafy arms to pray;


A tree that may in summer wear
A nest of robins in her hair;


Upon whose bosom snow has lain;
Who intimately lives with rain.


Poems are made by fools like me,
But only God can make a tree.

Joyce Kilmer


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Há poemas que caem das árvores como frutos maduros / There are poems falling from the trees


Sue Shanahan


Este foi o que caiu no meu colo:


Loss And Gain


When I compare
What I have lost with what I have gained,
What I have missed with what attained,
Little room do I find for pride.


I am aware
How many days have been idly spent;
How like an arrow the good intent
Has fallen short or been turned aside.


But who shall dare
To measure loss and gain in this wise?
Defeat may be victory in disguise;
The lowest ebb is the turn of the tide.



Henry Wadsworth Longfellow, "Loss And Gain"

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Uma inquietação constante é fundamental para a criação




"Eu penso que aquilo que faz com que nós continuemos vivos e capazes de criar é isso mesmo, uma inquietação constante. Sem ela não pode haver criação, quem não põe sempre tudo em causa, arrisca-se a ter uma vida interior de três assoalhadas, num bairro económico."

António Lobo Antunes


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O problema das citações na Internet

"The trouble with quotes in the internet is that you can never know if they are genuine"

Abraham Lincoln


(um homem realmente muito à frente do seu tempo) :)))


Realmente as citações que encontramos na Internet podem ser um problema em termos de presença e correção das fontes assim como a sua adulteração no processo de circulação pela rede (quem copia/cola um conto acrescenta um ponto). Ou podem simplesmente ser inventadas e atribuídas levianamente a algum nome célebre. É realmente um problema...a não ser que sejam tão flagrantes como a que está acima. :)))))

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vamos processar a Bela Adormecida!!!


A minha tradução muito livre:

A Princesa Aurora, vulgarmente conhecida como Bela Adormecida, ao dormir durante 100 anos negligenciou gravemente o seu reino e o seu povo. Quanto ao dragão foi preso por desacato, perturbação da ordem pública e resistência às forças da autoridade. Ambos foram julgados e executados. A partir daí o povo viveu feliz para sempre.

Sempre há histórias com finais felizes!!! :)
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