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quarta-feira, 30 de março de 2011

E um poema que é mesmo de amor



Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)


Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill



Poema via Bibliotecar

Adoro esta fotografia, é LINDA! Tenho pena de não saber quem é o seu autor.

Quase um Poema de Amor, quase, quase!



Quase um Poema de Amor



Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.


Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.


Miguel Torga, in 'Diário V'

sábado, 5 de março de 2011

Tocar com amor, com as mãos e a poesia




Tocar

As minhas mãos
abrem as cortinas do teu ser
vestem-te com outra nudez
descobrem os corpos do teu corpo
As minhas mãos
inventam outro corpo
para o teu corpo.


Octavio Paz in «Qual é a minha ou a tua língua - Cem poemas de amor de outras línguas», Assírio e Alvim.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Não consuma drogas, beije muito, apaixone-se e o efeito é o mesmo! :)

O Cupido de Kenyon Cox (1856 – 1919)

A bióloga norte-americana Sheril Kirshenbaum afirma, no seu livro "The Science of Kissing.", que o beijo tem um efeito semelhante no cérebro a uma dose de cocaína:

"A tese não é nova, já que nos últimos anos vários investigadores têm demonstrado que a paixão resulta de um cocktail de químicos semelhantes aos libertados pelo consumo de droga, que actuam nas zonas de gratificação do cérebro.

Helen Fisher, especialista em biologia antropológica da Universidade Rutgers, New Jersey, tem sido uma autora prolífica. Allen Gomes sublinha que, apesar de uma comparação directa entre um beijo e uma dose de cocaína poder ser excessiva, Fisher demonstrou existir uma grande proximidade entre as zonas do cérebro atingidas por uma e outra. "Tem que ver sobretudo com a dopamina e parece ser esta a base para o amor ser uma motivação natural", diz o psiquiatra. "Mas se analisarmos, o ódio também acontece perto do amor e a felicidade perto da raiva."

Kirshenbaum, citada este fim-de-semana pelo jornal espanhol "El País", explicava que o facto de a dopamina disparar durante um beijo apaixonado, como acontece no consumo de cocaína, pode explicar os "pensamentos obsessivos associados a um novo romance". "Faz-nos querer mais e sentimo-nos carregados de energia. Sob o seu efeito, perdemos o apetite, temos dificuldade em dormir e de-senvolvemos comportamentos erráticos." Allen Gomes ajuda a diagnosticar: "Como lhe chamou Fisher, a paixão é uma dependência agradável se for correspondida e privativa se houver rejeição."

Dopamina, ocitocina, adrenalina e serotonina são algumas das substâncias produzidas pelos neurónios já associadas à paixão. Com base em níveis acima da média quando se está apaixonado, muitos tentaram já impor um prazo de validade ao encantamento: seis meses a dois anos. Num artigo publicado recentemente na revista "Bipolar", Allen Gomes rejeita a limitação: "Casais com ligações de mais de 20 anos e que se declaram ainda apaixonados mostram activações cerebrais semelhantes aos casais a viverem os primeiros estádios da paixão. Quer dizer que a paixão não tem de ser necessariamente breve. Breve será, por definição, o turbilhão emocional que a acompanha." Kirshenbaum pede mais investigação nesta área: o grosso das cobaias têm sido "jovens universitários em pleno despertar sexual", disse ao "El País".

No final do ano passado, um estudo publicado por Stephanie Ortigue, da Universidade Syracuse, revelou que a activação destes circuitos numa situação de paixão demora um quinto de segundo. Segundo a investigadora, além da resposta eufórica, a paixão também incide sobre áreas intelectuais, por exemplo as que processam a imagem corporal".


Artigo de Marta F. Reis , publicado hoje no Jornal i. Leia na íntegra AQUI.

Mais um poema do Dia dos Namorados / Valentines's Day: another poem




On Valentine's Day we think of those
Who make our lives worthwhile,
Those gracious, friendly people who
We think of with a smile.

I am fortunate to know you,
That's why I want to say,
To a rare and special person:
Happy Valentine's Day!




Fonte: Love for Books

domingo, 13 de fevereiro de 2011

"Não conhece a arte de navegar quem nunca navegou no ventre de uma mulher..."


Giulio Aristide Sartorio (1860 - 1932), pintor italiano.



Não conhece a arte de navegar
quem nunca navegou no ventre
de uma mulher, remou nela,
naufragou e sobreviveu numa das suas praias.


Cristina Peri Rossi in
«Qual é a minha ou a tua língua - Cem poemas de amor de outras línguas»,
(org. Jorge Sousa Braga),
Assírio e Alvim.



Muito bonito.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

"...o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe."

 
Amor é...(des)atar-mos os atacadores um do outro. :)


Só um Mundo de Amor pode Durar a Vida Inteira

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.

Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
 
Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Expresso'
 

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