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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Um poema sobre livros de Eugénio de Andrade / Beautiful woman reading



Frederic Soulacroix,  1858-1933


Num exemplar das Geórgicas

Os livros. A sua cálida,
terna, serena pele. Amorosa
companhia. Dispostos sempre
a partilhar o sol
das suas águas. Tão dóceis,
tão calados, tão leais.
Tão luminosos na sua
branca e vegetal e cerrada
melancolia. Amados
como nenhuns outros companheiros
da alma. Tão musicais
no fluvial e transbordante
ardor de cada dia.


Eugénio de Andrade

terça-feira, 26 de maio de 2015

"Na biblioteca": um poema de Manuel António Pina




Na biblioteca

O que não pode ser dito
guarda um silêncio feito
de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiado tarde,


quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,


em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,


as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.


Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
o poema está só.
E, incapaz de suportar sozinho a vida, canta.


Manuel António Pina


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Um poema sobre a morte: é triste mas muito bonito / W.H. Auden's poem "Funeral Blues"




Cena do filme Quatro Casamentos e Um Funeral.

Funeral Blues


Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

W. H. Auden

William Etty, 1828

 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Um café e um poema



ARTE POÉTICA

Num romance, uma chávena é apenas
uma chávena — que pode derramar
café sobre um poema, se o poeta,
bem entendido, for a personagem.

Num poema, mesmo manchado
de café, a chávena é certamente a
concha de uma mão — por onde eu
bebo o mundo, em maravilha, se tu,
bem entendido, fores o poeta.

No nosso romance, não sou sempre
eu quem leva as chávenas para a mesa
aonde nos sentamos a noite, de mãos dadas,
a dizer que a lata do café chegou ao fim,
mas a pensar que a vida é
que já vai bastante adiantada para os
livros todos que ainda pensamos ler.

No meu poema, não precisamos
de café para nos mantermos acordados:
a minha boca está sempre na concha da tua mão,
todos os dias há páginas nos teus olhos,
escreve-se a vida sem nunca envelhecermos.


sábado, 4 de abril de 2015

Ela / "She walks in beauty, like the night..."




She walks in beauty, like the night
Of cloudless climes and starry skies;
And all that's best of dark and bright
Meet in her aspect and her eyes...

Lord Byron

sexta-feira, 3 de abril de 2015

sábado, 28 de março de 2015

De onde vem um poema? / Where does a poem come from?



 Joseph Severn (1793-1872)
 


"A poem can come out of something seen, something overheard, listening to music, an article in a newspaper, a book, a combination of all these…There’s a kind of emotional release that I then find in the act of writing the poem. It’s not, ‘I’m now going to sit down and write a poem about this.’"

sexta-feira, 27 de março de 2015

O meu amor e o mar / My love and the sea


In the summer
I stretch out on the shore
And think of you. Had I told the sea
What I felt for you,
It would have left its shores,
Its shells,
Its fish,
And followed me. 




segunda-feira, 23 de março de 2015

"Os livros" por Manuel António Pina / "La Madeleine lisant"

"La Madeleine lisant", Jean-Baptiste Camille Corot


Os livros

É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca, 
se abre desamparadamente
como uma boca
falando com a nossa voz?
É isto um livro,
esta espécie de coração (o nosso coração)
dizendo "eu" entre nós e nós?

Manuel António Pina, in Como Se Desenha Uma Casa, Assírio & Alvim, 2011

sábado, 21 de fevereiro de 2015

O livro é um portão / A book is a gate



O livro é o portão de acesso
à liberdade e ao saber.
E nem sequer cobra ingresso:
basta abri-lo, entrar… e ler!

Antônio Augusto de Assis

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Um pequeno espaço para sonhar / "...a little space to dream"



I have no restless longing
For the lure of distant towns;
I'll take the sun and shadows
And the country's ups and downs;
All I want is just a cottage,
Beside a rippling stream,
With the country all around me,
And a little space to dream.
  "All I Want from Blue Hills Calling" by William Allen Allhands

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pablo Neruda por M. Behroozi / Pablo Neruda by M. Behroozi


M. Behroozi


"Eu Simplesmente Amo-te  

Eu amo-te sem saber como, ou quando, ou a partir de onde. Eu simplesmente amo-te, sem problemas ou orgulho: eu amo-te desta maneira porque não conheço qualquer outra forma de amar sem ser esta, onde não existe eu ou tu, tão intimamente que a tua mão sobre o meu peito é a minha mão, tão intimamente que quando adormeço os teus olhos fecham-se".

Pablo Neruda, in "Cem Sonetos de Amor"

terça-feira, 17 de junho de 2014

Reflexões de um poeta / "A Poet Reflects"


 "A Poet Reflects", Christian Schloe
(uma das minhas artistas preferidas)


"Às vezes, pequenos grandes terramotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro".


Affonso Romano de Sant'Anna




terça-feira, 13 de maio de 2014

A poesia de uma vida sofrida em contagem decrescente / He's counting down from 21 and at 15 you're already sad for him

Ele conta-nos a sua vida do presente para o passado, em contagem decrescente e triste...Uma vida ainda breve mas já sofrida. É duro crescer assim! 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Chuvas de Abril / April showers





"When April showers may come your way
They bring the flowers that bloom in May
So when it's raining have no regrets
Because it isn't raining rain you know
It's raining violets".



Não sei quem escreveu isto mas, por mim, quais violetas quais carapuça, estou fartinha de tanta chuva!!! :)

sábado, 8 de março de 2014

Um poema para a Mulher porque hoje é o seu/meu/nosso dia


Jessica Rae Gordon 


MULHER


A mulher não é só casa
mulher-loiça, mulher-cama
ela é também mulher-asa,
mulher-força, mulher-chama


E é preciso dizer
dessa antiga condição
a mulher soube trazer
a cabeça e o coração


Trouxe a fábrica ao seu lar
e ordenado à cozinha
e impôs a trabalhar
a razão que sempre tinha


Trabalho não só de parto
mas também de construção
para um filho crescer farto
para um filho crescer são


A posse vai-se acabar
no tempo da liberdade
o que importa é saber estar
juntos em pé de igualdade


Desde que as coisas se tornem
naquilo que a gente quer
é igual dizer meu homem
ou dizer minha mulher


José Carlos Ary dos Santos

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hoje é dia de ler cartas de amor...ridículas / Time for love letters


s.id.

Quando se fala de cartas de amor (que já as escrevi) vem-me sempre à cabeça Fernando Pessoa:

    Todas as cartas de amor são
    Ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,
    Ridículas.

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas.

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)


                  Álvaro de Campos, 21-10-1935

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