sexta-feira, 13 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
Uma migalha da graça de "O Carteiro de Pablo Neruda"
Este é um daqueles livros que se lê de um fôlego só e com um imenso prazer. Surpreende-nos logo no prólogo, do qual não resisto em transcrever alguns excertos. Se gostarem, óptimo. Se não gostarem, fica pra mim! ;)
"Na altura eu trabalhava como redactor cultural de um diário de quinta categoria. A secção a meu cargo guiava-se pela concepção de arte do director que, orgulhoso das suas amizades no ambiente, me obrigava a incorrer nos crimes de entrevistas a vedetas de companhias frívolas, resenhas de livros escritos por ex-detectives, notas a circos ambulantes ou louvores desmedidos ao hit da semana que pudesse engenhar o filho de qualquer vizinho.
Outros escritores da minha idade obtinham considerável sucesso no país e até prémios no estrangeiro: o da Casa das Américas, o da Biblioteca Breve Seix-Barral, o da Sudamericana e Primera Plana. Nos gabinetes húmidos dessa redacção agonizavam todas as noites as minhas ilusões de ser escritor. Ficava até de madrugada a começar novos romances que deixava a meio do caminho desiludido com o meu talento e a minha preguiça.A inveja, mais que um incentivo para acabar alguma vez uma obra, funcionava em mim como um duche frio.
Pelos dias em que cronologicamente começo esta história — que tal como os hipotéticos leitores notarão arranca entusiasta e termina sob o efeito de uma profunda depressão — o director reparou que a minha passagem pela boémia tinha aperfeiçoado perigosamente a minha palidez e decidiu encomendar-me um serviço à beira-mar, que me consentisse uma semana de sol, vento salino, marisco e peixe fresco, e de caminho importantes contactos para o meu futuro. Tratava-se de assaltar a paz marítima do poeta Pablo Neruda, e através de encontros com ele, conseguir para os depravados leitores do nosso pasquim uma coisa assim, palavras do meu director, «como que a geografia erótica do poeta». Afinal de contas, e em bom chileno, fazer-lhe falar do modo mais gráfico possível das mulheres que tinha engatado.
Hospedagem na pensão da Ilha Negra, viático de príncipe, automóvel alugado à Hertz, e empréstimo da sua Olivetti portátil, foram os satânicos argumentos com que o director me convenceu a levar a cabo a ignóbil proeza. A estas argumentações, e com o idealismo da juventude, eu acrescentava outra acariciando um manuscrito interrompido na página 28: à tarde iria escrever a crónica sobre Neruda e durante as noites, ouvindo o som do mar, avançaria com o meu romance até acabá-lo. E mais, propus-me uma coisa que se tornou obsessão, e que me permitiu também sentir uma grande afinidade com Mario Jiménez, o meu herói: conseguir que Pablo Neruda prefaciasse o meu texto. Com esse valioso troféu bateria às portas da Editorial Nascimento e conseguiria ipso facto a publicação do meu livro dolorosamente adiado.
(...)
Pelos dias em que cronologicamente começo esta história — que tal como os hipotéticos leitores notarão arranca entusiasta e termina sob o efeito de uma profunda depressão — o director reparou que a minha passagem pela boémia tinha aperfeiçoado perigosamente a minha palidez e decidiu encomendar-me um serviço à beira-mar, que me consentisse uma semana de sol, vento salino, marisco e peixe fresco, e de caminho importantes contactos para o meu futuro. Tratava-se de assaltar a paz marítima do poeta Pablo Neruda, e através de encontros com ele, conseguir para os depravados leitores do nosso pasquim uma coisa assim, palavras do meu director, «como que a geografia erótica do poeta». Afinal de contas, e em bom chileno, fazer-lhe falar do modo mais gráfico possível das mulheres que tinha engatado.
Hospedagem na pensão da Ilha Negra, viático de príncipe, automóvel alugado à Hertz, e empréstimo da sua Olivetti portátil, foram os satânicos argumentos com que o director me convenceu a levar a cabo a ignóbil proeza. A estas argumentações, e com o idealismo da juventude, eu acrescentava outra acariciando um manuscrito interrompido na página 28: à tarde iria escrever a crónica sobre Neruda e durante as noites, ouvindo o som do mar, avançaria com o meu romance até acabá-lo. E mais, propus-me uma coisa que se tornou obsessão, e que me permitiu também sentir uma grande afinidade com Mario Jiménez, o meu herói: conseguir que Pablo Neruda prefaciasse o meu texto. Com esse valioso troféu bateria às portas da Editorial Nascimento e conseguiria ipso facto a publicação do meu livro dolorosamente adiado.
(...)
Sei que mais que um leitor impaciente estará a perguntar-se corno é que um mandrião acabado como eu pôde terminar este livro, por muito pequeno que seja. Uma explicação plausível é que demorei catorze anos a escrevê-lo. Se se pensar que neste lapso de tempo Vargas Llosa, por exemplo, publicou Conversação na Catedral, A Tia Júlia e o Escrevedor, Pantaleão e as Visitadoras e A Guerra do Fim do Mundo, é francamente um recorde do qual não posso orgulhar-me.
(...)
Beatriz González, (...) quis que eu contasse por ela a história de Mario, «não importa quanto demorasse nem quanto inventasse». Assim, desculpado por ela, incorri em ambos os defeitos".
(...)
Beatriz González, (...) quis que eu contasse por ela a história de Mario, «não importa quanto demorasse nem quanto inventasse». Assim, desculpado por ela, incorri em ambos os defeitos".
Excerto do Prólogo de O CARTEIRO DE PABLO NERUDA, de António Skármeta.
Delicioso, não se fiquem por esta migalha se podem comer o bolo todo! Eu já estou toda lambusada! :)
terça-feira, 10 de março de 2009
Os livros também têm direitos!
Tim Walker
A Declaração dos Direitos do Livro foi criada por L’association des Éditeurs de la Région Centre. Aqui ficam os 8 princípios:
Artigo 1
Os livros, todos os livros, têm direito a existir.
Artigo 2
Os livros são iguais entre si, sem distinção de origem, fortuna, nascimento, opinião ou editor.
Artigo 3Todo o livro tem direito à vida, à comercialização, à possibilidade de ser exposto ao leitor e de proporcionar ao seu autor a de ser lido e renumerado com justiça.
Artigo 4
Todos os livros são iguais perante a lei, a qual os submete à igualdade de preço em qualquer lugar onde sejam expostos.
Artigo 5
Todos os livros têm direito a que, em qualquer lugar, se reconheça a sua personalidade, a personalidade do autor e do editor.
Artigo 6
O livro, como uma obra de imaginação bem como de investigação, dirige-se à imaginação e às necessidades do ser humano. Assim, na sua comercialização, não deve ser tratado como um simples produto de consumo corrente.
Artigo 7
O livro é e será garantia das nossas liberdades. Não pode em nenhum caso ser submetido a alienação, seja no plano do pensamento, seja no plano da sua vocação fundamental, que é promover o livre intercâmbio de culturas, mentalidades e saberes.
Artigo 8
O livro, motivador da abertura de espírito, da ciência, dos prazeres, depositário do saber enquanto obra de criação, deve ser tratado como um bem indispensável para a cultura, a promoção social e espiritual e a informação, não pode ser tratado como uma vulgar fonte de lucros.
Fonte: Livros e Afins
segunda-feira, 9 de março de 2009
Grandes histórias podem ficar velhinhas mas vivem para sempre! / Great stories live forever!
Cliquem nas imagens para aumentar! Vale bem a pena! "Grandes histórias vivem para sempre" é uma campanha de incentivo à leitura que a Agência Fields Comunicação criou para a livraria brasileira Sabugosa. Os criativos usaram ilustrações de personagens clássicos da literatura infantil em versão "idosa" porque "velhos são os trapos".
O Pinóquio já sofre com o bicho da madeira, a Rapunzel gasta litros e litros de tinta para o cabelo para esconder os brancos e o Capuchinho Vermelho já está demasiado rija para a dentadura postiça do lobo!
Excelente! Meeesssmo!
O Pinóquio já sofre com o bicho da madeira, a Rapunzel gasta litros e litros de tinta para o cabelo para esconder os brancos e o Capuchinho Vermelho já está demasiado rija para a dentadura postiça do lobo!
Excelente! Meeesssmo!
Fonte: www.nfactory.org
Magalhães, mais desejado que El Rey Dom Sebastião!
Enquanto continuo à espera (e não sou só eu) que a minha filha receba o Magalhães (será que vão chegar primeiro à Venezuela do que às escolas portuguesas?) já vou assistindo curiosa a algumas avaliações do seu desempenho!

Os erros do Magalhães por Henri Cartoon.
E uma carta ao Magalhães:
"Querido Magalhães
Venho aqui deichar-te uma palavra de inssentivo para que não dezanimes e procigas na tua nobre mição de dessizivo contributo para a inducassão em Portugal. Eu sei que é defissil, tens rezistido a muito. Ele é o desanho (paresses uma balanssa) ele é a prumussão (Sócrates vendeu-te na Venezuela como se fosses uma pessa de lanjeri), ele é até o nome que como sabes é defíssil de prununciar no estranjeiro. Não xegavão estas desgrassas vi ontem (e li, valha-me deus, e li) que estás xeiinho de erros ortugráficos. Cumessei a ler os erros e não cria acreditar. E quando eu pençava que a situação era sufissientemente grave para, pelo menos, pôr alguém na rua, oisso dizer que, prontes, a coisa resolve-se (vai-se a ver e o ME como não tem lucros não pode despedir ninguém, como dis o Loussã) e alguém, já nem sei quem, vai mandar corrijir o softeuére, porque a culpa foi de um senhor que é imigrante na França e não tem a quarta classe. Como ninguém me explicou porque é que um imigrante na França que não tem a quarta classe é que foi encarregado de fazer a tradussão do tal dito prugrama prás crianssinhas fiquei na esperança que o minestério da inducação fizesse alguma coisa e no mínimo, pusesse alguém na rua, em última análise a peçoa que se lembrou do tal imigrante, sem qualquer respeito pelas criancinhas que és suposto de encinar. Mas sabes o que é que a ministra diçe, sabes? Diçe, meio zangada, que o ministério não podia tratar de tudo. Prontes. A coisa fica açim, muda-se o softeuére e paga-se ao luso francês. Nada de muito grave.
* "vês" em vez de "vez" e "dirijir" são exemplos reais dos erros do Magalhães".
Texto de Nelson Reprezas, no seu blogue Espumadamente.
Quando o Magalhães vier, certamente numa manhã de nevoeiro, tirarei as minhas próprias conclusões. Pode ser até que lhe escreva também uma missiva!
sexta-feira, 6 de março de 2009
Campo de Letras
Desconhecia que a Editora Campo de Letras se encontrava em processo de insolvência, se calhar por distracção porque parece que já foi noticiado há umas semanas. (Quase) Ninguém fica impune face à crise que vivemos!
"A manhã estava a chegar ao fim quando me ligou o dono maioritário da editora Campo das Letras, que publicou a maior parte dos meus livros. Confirmou os rumores, as notícias dos jornais e os meus receios. A editora está insolvente e eu transformo-me automaticamente num nome da lista de credores que poderão habilitar-se a receber alguma coisa quando a massa falida da empresa for liquidada, por conta dos direitos de autor dos livros vendidos nos últimos dois anos. Ou seja: os meus livros, bem ou mal, venderam-se, alimentaram, muito ou pouco, uma cadeia que envolve livrarias, distribuidoras, entidades bancárias e a própria editora com os seus funcionários, mas não sobrou, do produto do meu trabalho, nada que pudesse retribuí-lo, nem sequer esse ridículo euro que me cabe da venda de cada exemplar.
Vivo sensações contraditórias: a Campo das Letras arriscou publicar os meus livros quando não interessavam a mais ninguém, tratou-me com cordialidade e amizade e será sempre, de algum modo, a minha editora (como é ainda a minha escola cada uma das escolas que frequentei). Lamento a falência, portanto, como se (mais) uma parte de mim tivesse fracassado. Mas não posso, neste meu novo papel de "credor da massa falida", deixar de sentir que, por muito intelectual e emproada que possa parecer esta estúpida actividade de escrever livros, não passei, este tempo todo, de mais um dos que estão na base da pirâmide alimentar da literatura – um operariozinho dócil e pouco reinvidicativo, um murcão crédulo e, enfim, tudo aquilo que tenho sido na vida. Bem vistas as coisas, não há nenhum motivo para que pudesse ter sido diferente".
quinta-feira, 5 de março de 2009
Um dos dois é burro!
"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro".
Mário Quintana
Excelente!
Mário de Miranda Quintana (1906-1994) foi poeta, tradutor e jornalista brasileiro.
segunda-feira, 2 de março de 2009
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Um de Cem Poemas de Amor

Ontem pensei
no meu amor por ti.
Recordei
as gotas de mel dos teus lábios
e lambi o açúcar
das paredes da minha memória.
Nizar Kabanni, in Jorge Sousa Braga (org.), Qual É a Minha ou a Tua Língua – Cem poemas de amor de outras línguas.
A ironia é mais do que uma figura de estilo...
Ironia - figura de estilo que veicula um significado contrário daquele que deriva da interpretação literal do enunciado; zombaria.
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Mas também é uma forma elegante de ser mau!
Ilustração de Ceó Pontual.
Ah, pois é! Mauzinho mesmo mas com alguma sofisticação! :)
A pornografia dos bibliófilos!
"My goodness, it’s like porn for book lovers! "
Este é um comentário hilariante publicado em Librophiliac Love Letter: A Compendium of Beautiful Libraries que publica fotos de algumas das mais belas catedrais do livro. Algumas talvez demasiado imponentes e intimidantes...a grandiosidade impressiona. Eu acabo por preferir algo mais íntimo e acolhedor!
Mas vale a pena visitar!
Mas vale a pena visitar!
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Ainda para os fãs do filme A Guerra das Estrelas...
"Lê e a força estará contigo".
Mais um um cartaz para promoção da leitura da ALA, a American Library Association.
Mais em:
Mais em:
A receita de Dr. House? Leia!
Para os fãs da Guerra das Estrelas...

Este Obi One Kãonobi é de Nuno Markel e das suas t-shirts Cão Azul. Podem fazer uma divertida visita ao seu site. O "néon" piscante com o link está na coluna (ou direi antes cãoluna?) da direita deste blogue.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
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