segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Uma citação de Philip Roth sobre os hábitos e o grau de loucura de um escritor







"I don’t ask writers about their work habits. I really don’t care. Joyce Carol Oates says somewhere that when writers ask each other what time they start working and when they finish and how much time they take for lunch, they’re actually trying to find out, “Is he as crazy as I am?” I don’t need that question answered."



domingo, 8 de agosto de 2010

As leitoras de Daryl Zang






A pintora fala de como a sua vida pessoal, a sua escrita e a sua pintura se interseccionam:

"Art, for me, is deeply personal and I often describe my paintings as autobiographical. The greatest turning point in my work came when I found myself at home as a new mother. I began to paint the emotions I experienced everyday in order to create relatable images of my particular time and place. In my paintings, I stress ambivalence, isolation, and exhaustion but also the private, restful moments of peace that we all treasure in our hectic lives.


Women’s lives are so multifaceted that the potential for subject matter is seemingly endless. Despite what may be perceived as a narrow niche, I have found that the personal component of my work resonates with both men and women. There are themes common to all of us which are simply human.


My process is somewhat different from other artists in that I develop my paintings from words. My journals serve as a guide and when I find myself dwelling on a particular experience, my writing becomes the foundation for a real and honest image.


I create paintings that reflect my own situation but in doing so address the unique challenges that many of us face. The emotional ups and downs of my life are the inspiration for my work. I know I have been successful when a viewer realizes they are not alone with these feelings. The stories of personal triumph and tragedy that my work often elicits validate my belief in my work. Those connections are incredibly gratifying and fuel my enthusiasm for painting.


Daryl Zang

A maior flash mob de sempre

As Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em locais públicos para realizar determinada acção inusitada previamente combinada. Muitas vezes estas dispersam-se tão depressa como se reuniram. A expressão aplica-se geralmente a reuniões organizadas através de e-mail ou meios de comunicação social.

E o melhor exemplo é também o maior: a maior flash mob de sempre ocorreu no dia 10 de Setembro de 2009: o grupo musical Black Eyed Peas conseguiu reunir cerca de 21 mil fãs na Avenida Michigan, em Chicago, nos EUA, para comemorar a passagem da 24ª temporada do programa de Oprah Winfrey na TV.

O grupo preparou-lhe uma surpresa ao tocar o grande hit I Gotta Feeling com uma coreografia inacreditável envolvendo toda a multidão presente.

Durante a entrevista que o grupo deu após a apresentação, o lider do grupo Will.i.am contou que chamou 800 fãs para ajudar na coreografia, que depois foi passada para as mais de 20 mil pessoas presentes no espectáculo.

Para quem ainda não viu, aqui fica:



Saiba mais sobre este fenómeno social AQUI.

sábado, 7 de agosto de 2010

Os seis livros preferidos de J.K. Rowling / J.K. Rowling's six favourite books

1. O livro preferido
Emma, de Jane Austen




"Virginia Woolf said of Austen, 'For a great writer, she was the most difficult to catch in the act of greatness,' which is a fantastic line. You're drawn into the story, and you come out the other end, and you know you've seen something great in action. But you can't see the pyrotechnics; there's nothing flashy".






 2. O escritor vivo preferido

Roddy Doyle


 3. Outro livro de eleição

Chéri, de Colette





E os livros preferidos da sua infância







4. The Little White Horse, de Elizabeth Goudge

"Goudge was the only one whose influence I was conscious of. She always described exactly what the children were eating, and I really liked knowing what they had in their sandwiches". 



 




5. The Story of the Treasure Seekers, de E. Nesbit

"She's the children's writer with whom I most identify. She said, 'By some lucky chance, I remember exactly how I felt and thought at 11.' That struck a chord with me. The Story of the Treasure Seekers was a breakthrough children's book. Oswald is such a very real narrator, at a time when most people were writing morality plays for children".


 

E o livro preferido do seu lado infantil da idade adulta...
 




6. Skellig, de David Almond

"It's the best children's book I have read recently". 










Fonte: O, The Oprah Magazine, em 15 de Janeiro de 2001, DAQUI.

"Black Eyed Peas", em português "Feijão Frade"

O nome resulta melhor em inglês, não é? :)

Meet Me Halfway, Black Eyed Peas

Não sou grande fã do vídeo mas a música é sexyyyyyy!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Já está disponível o InfoCEDI nº 28


Já está disponível o InfoCEDI nº 28, periódico digital de carácter mensal publicado desde Fevereiro de 2008 pelo IAC - Instituto de Apoio à Criança.

Cada número apresenta vários documentos referentes a uma temática relacionada com a Criança e os seus Direitos, tendo em conta a sua relevância científica e/ou pedagógica. Além de estudos científicos actualizados e de referência, definimos conceitos, apresentamos estatísticas e indicamos o enquadramento legal subjacente. Indicamos igualmente endereços de sites que possam complementar as leituras sugeridas.

O exemplo de como o leitor nem sempre precisa de ir à biblioteca quando a biblioteca vai todos os meses até ele.

O presente número pretende fazer uma retrospectiva de todos os temas até agora tratados.

Pode ler e subscrever AQUI.

Distinto leitor e estudioso do comportamento humano

s.id.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Don Tapscott afirma "A Internet deixa-nos mais inteligentes"



Excelente entrevista publicada no Jornal Público em 07.07.2010 sobre as Novas Tecnologias e os jovens da Geração Net:

Don Tapscott conduziu um projecto de investigação com um orçamento de quatro milhões de dólares e que envolveu 11 mil jovens em vários países. Os resultados contrariam muitas das críticas comuns ao impacto das novas tecnologias.

Investigador, professor universitário, consultor e autor de vários livros, Don Tapscott, um canadiano nascido em 1947, lançou, em 1997, o livro “Growing Up Digital - The Rise of the Net Generation”.

Mais de uma década depois, e tendo por base um projecto de investigação milionário, voltou ao tema e publicou, em 2008, “Grown Up Digital: How the Net Generation is Changing Your World” (pelo meio, escreveu outros quatro livros sobre o impacto das tecnologias, incluindo, em co-autoria, o best-seller Wikinomics).

Tapscott - que há um ano sugeriu a Barack Obama que pusesse os olhos na iniciativa portuguesa de distribuir computadores aos alunos - esteve em Portugal para a conferência A Escola do Futuro na Era da Economia Digital (organização Diário Económico). Depois da extensa investigação, Tapscott chegou à conclusão de que a maioria das críticas às novas tecnologias é infundada. Mas defende serem precisas muitas mudanças para se aproveitar o potencial da geração que já cresceu online.


Há muita gente a defender que as novas tecnologias estão a criar cérebros preguiçosos, a diminuir a capacidade de atenção e de sociabilização. Há até quem tenha escrito que o Google nos está a tornar estúpidos. A sua posição é que todas estas afirmações são erradas?

Acredito que boa parte do impacto da revolução digital na forma como pensamos, colaboramos e trabalhamos ainda é desconhecido. Mas não concordo, em geral, com quem diz isso. Os dados simplesmente não sustentam essas afirmações. Os jovens são mais espertos do que nunca, o QI está ao nível mais alto de sempre, há mais estudantes a licenciarem-se. Sou contra os argumentos de que os jovens só pensam em 140 caracteres [o limite de caracteres para as mensagens no Twitter] ou têm o nível de atenção de uma mosca.

Mas há um problema. Um terço desta geração é espectacular. Outro terço está a safar-se bastante bem. Mas os que estão em baixo, mesmo em países como os EUA, Canadá ou Portugal, nem sequer estão a acabar o liceu. Sempre foi assim, mas não devia ser. Devíamos ter melhorias nesse último terço, mas isso não está a acontecer. Algumas pessoas culpam a Internet. Mas isso é como culpar a biblioteca pela ignorância dos alunos.


Na sua pesquisa não encontrou nenhuma consequência negativa do uso das tecnologias?

Há todo o tipo de problemas. Os jovens precisam de equilíbrio e às vezes perdem-no. A minha mulher é portuguesa e está a visitar família aqui. Um dos miúdos joga videojogos 40 horas por semana. É demasiado. A privacidade também é outro problema. Os jovens expõem demasiada informação.


E isso é um problema ou é simplesmente uma questão de divisão geracional sobre o que é a privacidade?

Há muitas pessoas que não vão conseguir o emprego dos seus sonhos porque alguém os pesquisou e os viu bêbados [numa foto] no Facebook, ou a dizer algo que não deviam.

Cada um de nós está a criar uma versão virtual de si próprio. E este eu virtual sabe mais sobre nós do que nós próprios, porque nós não nos lembramos do que dissemos há anos. Isto cria uma situação em que a informação pode ser usada contra a pessoa, nomeadamente pelo Estado. Nós não temos problemas, porque temos governos democráticos. Mas ainda sou do tempo em que não havia um governo democrático em Portugal.


Os jovens não estão cientes desses riscos ou simplesmente não querem saber?

A minha pesquisa diz-me que os jovens estão a disponibilizar mais informações do que os mais velhos. Mas um estudo recente do PEW [um centro de investigação e think tank americano] disse que os jovens tinham mais conhecimento sobre os problemas da privacidade do que os mais velhos. Simplesmente porque cresceram a fazer isto.

(...)


Que razões terá esta geração para explodir nos países democráticos?

Que tal 40 por cento de desemprego em Espanha? [O desemprego] é um grande problema. É a geração mais esperta de sempre, é globalizada, tem ferramentas fabulosas. Se não tiver como ganhar a vida, vai começar a questionar o funcionamento da sociedade. E isso é um conflito de gerações.

(...) os dados mostram que os jovens estão a votar menos. Excepto nos EUA. A diferença é que os EUA tiveram um candidato que se dirigiu aos jovens [Barack Obama].

Isso foi por causa das ideias ou pelo facto de Obama ter usado todo o tipo de ferramentas on-line, desde o Twitter ao Facebook?

Ambos. Uma das razões pelas quais os jovens não estão envolvidos nas instituições democráticas é o facto de os modelos estarem errados. Temos um modelo de democracia com 100 anos: "Eu sou um político. Ouçam-me. Votem em mim. E depois vou dirigir-me durante quatro anos a receptores passivos." O cidadão vota, o político governa. Isso está bem para a minha geração. Eu cresci a ser um receptor passivo. Cresci a ver televisão 24 horas por semana, como todos os baby boomers. As escolas transmitiam-me informações e eu era um receptor passivo. Ia à igreja, onde era a mesma coisa. Cresci num modelo de família onde a comunicação funcionava só num sentido [dos pais para os filhos]. Mas estes jovens estão a crescer de forma interactiva, habituados a colaborar e a serem activos.


Muitas das instituições, como a escola e a igreja, ainda têm um modelo de comunicação unidireccional.

Isso está a mudar. Lentamente. Estamos aqui por causa desta iniciativa do e-escola. Isto não é uma questão tecnológica. Algumas pessoas pensam que sim, mas estão enganadas. É uma questão de mudar o modelo de pedagogia, afastá-lo do modelo de transmissão unidireccional. Todas as instituições precisam de mudar: a democracia, a aprendizagem nas escolas, os modelos de trabalho.


Acha que esta mudança vai acontecer quando esta geração for mais velha e estiver em posição de poder ou acontecerá antes disso?

Já há tensão. Há uma barreira geracional em muitas instituições. Por exemplo, nos locais de trabalho. Quando os jovens chegam ao mercado de trabalho, têm na mão ferramentas melhores do que as que existem nos governos e nas empresas. Têm toda uma cultura de colaboração. E nós o que fazemos? Fechamo-los em cubículos e tratamo-los como o Dilbert [o personagem criado pelo cartoonista Scott Adams]. Banimos as ferramentas que têm. Há empresas que proíbem o Facebook.
 
 
Não há o risco de desperdiçarem tempo com essas ferramentas?


O tempo que os jovens passam online não é roubado ao tempo que passam com os amigos, ou em que estão a fazer os trabalhos de casa ou a trabalhar no emprego. É roubado, sobretudo, à televisão. É isso que os dados mostram. Há quem diga que os jovens ainda vêem demasiada televisão. Mas estão a ver menos e estão a ver de forma diferente. Têm o computador ligado e a televisão é música ambiente, ao fundo. Há quem confunda o monitor da televisão com o monitor do computador. Mas têm efeitos opostos em termos de desenvolvimento do cérebro.

Se os jovens estão no local de trabalho a desperdiçar tempo no Facebook, isso não é um problema de tecnologia. É um problema de fluxos de trabalho, motivação, supervisão. A minha geração não entende a cultura de colaboração, não entende as novas ferramentas e não entende a nova geração. Os blogues, redes sociais, wikis são o novo sistema operativo das empresas.


Apesar de tudo isso, quem cria e determina o funcionamento de muitas das novas ferramentas são pessoas que estão na casa dos 50 anos e não na casa dos 20.

Isso é irrelevante. Não quero saber quem faz as ferramentas. Estamos a falar da primeira geração de nativos digitais. O Steve Jobs [da Apple] e o Michael Dell [fundador da empresa de computadores Dell] já usavam tecnologia quando eram adolescentes, por isso, de certo modo, estavam à frente. Eu comecei a usar computadores quando tinha 25 anos. O período crítico é dos 8 aos 18. E a forma como se passa o tempo nessa idade é, a seguir aos genes, a variável mais importante a determinar o funcionamento do cérebro. Quem passa 24 horas por semana a ser um receptor passivo de televisão tem um determinado tipo de cérebro. Quem passa esse tempo a ser um utilizador activo de informação, tem outro tipo de cérebro, que é um cérebro melhor, mais apropriado ao século XXI.


Pode ler esta entrevista na íntegra AQUI.

A experiência que Don Tapscott descreve em relação ao computador vs televisão é exactamente a minha! Hoje em dia, a televisão é para mim, durante a maior parte do tempo, música ambiente enquanto estou ao computador a ser uma utilizadora activa de informação. :) 

Acredito que os jovens de hoje têm mais recursos de informação e participação do que qualquer outra geração do passado.

Concordo igualmente que a internet, os blogues e as redes sociais são ferramentas de trabalho estruturantes numa empresa.

Quanto à afirmação "A Internet deixa-nos mais inteligentes", espero que sim"...pelo tempo que passo on-line (no trabalho e em casa), o Einstein que se cuide!!! :))))

Para que serve o Amor? / A Quoi ÇA Sert L'amour?

Oh, L'amour!!! :)




Um dueto de Edith Piaf e Théo Sarapo (1962)

Aqui fica a letra:

A quoi ça sert l'amour?
On raconte toujours
Des histoires insensées.
A quoi ça sert d'aimer?



L'amour ne s'explique pas!
C'est une chose comme ça,
Qui vient on ne sait d'où
Et vous prend tout à coup.



Moi, j'ai entendu dire
Que l'amour fait souffrir,
Que l'amour fait pleurer.
A quoi ça sert d'aimer ?


L'amour ça sert à quoi?
A nous donner d' la joie
Avec des larmes aux yeux...
C'est triste et merveilleux!


Pourtant on dit souvent
Que l'amour est décevant,
Qu'il y en a un sur deux
Qui n'est jamais heureux...


Même quand on l'a perdu,
L'amour qu'on a connu
Vous laisse un goùt de miel.
L'amour c'est éternel!


Tout ça, c'est très joli,
Mais quand tout est fini,
Il ne vous reste rien
Qu'un immense chagrin...



Tout ce qui maintenant
Te semble déchirant,
Demain, sera pour toi
Un souvenir de joie!


En somme, si j'ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien ?



Mais oui ! Regarde-moi!
A chaque fois j'y crois
Et j'y croirai toujours...
Ça sert à ça, l'amour!



Mais toi, t'es le dernier,
Mais toi, t'es le premier!
Avant toi, 'y avait rien,
Avec toi je suis bien!
C'est toi que je voulais,
C'est toi qu'il me fallait!
Toi qui j'aimerai toujours...
Ça sert à ça, l'amour!...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Um livro a dois numa tarde de Verão com cão e árvore ao fundo

A minha rendição a um romance de guerra

"Novels give you the matrix of emotions, give you the flavour of a time in a way formal history cannot."
Doris Lessing





Memória das Estrelas sem Brilho de José Leon Machado é um bom exemplo de como, ao embrenharmo-nos num romance, ao deixarmo-nos envolver emocionalmente pelas personagens, ao partilharmos as vivências do protagonista, entramos pelas portas do tempo numa época remota e enriquecemos o nosso conhecimento da História do nosso país:
 
"Na Memória das Estrelas sem Brilho, conta-se a história de um estudante universitário que é obrigado a interromper o curso para comandar um grupo de expedicionários que o governo português em 1917 enviou para as trincheiras da Flandres. A sua trajectória e a dos homens que comanda, nas pequenas e grandes misérias de que foram vítimas e na ligação ao que deixaram e ao que perderam, resulta num retrato emocionante e autêntico de um dos períodos mais conturbados da sociedade portuguesa.



Romance de guerra, mas também romance de amor, Memória das Estrelas sem Brilho relata a tão inútil quanto obstinada busca da paz e da felicidade através de um caminho de escombros e flores cortadas, capacho do tempo e dos seus caprichos".

(Texto da contra-capa)


Eu não sou fã de romances de guerra. As guerras implicam uma realidade grotesca, ignorante, gananciosa e ridícula. São uma manifestação de como a natureza humana pode tropeçar no défice de inteligência e cair na auto-destruição. Daí o facto de ter começado a ler este romance com algumas reticências.

No entanto, apresento aqui a minha rendição: à medida que a prosa vai ganhando ritmo, que as personagens se vão tornando familiares, que o protagonista e narrador Luís Vasques conquista a empatia do leitor (a opinião deste Alferes sobre a guerra acaba por ser essencialmente a minha) a leitura flui com uma facilidade telepática.

Além do mais, este romance é muito mais do que apenas de guerra. Traça um retrato, na minha humilde opinião fiel, da sociedade portuguesa, ao longo do Século XX (acompanhando o tempo de vida da personagem principal) com especial ênfase na participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Dá conta de uma relação de amizade vitalícia entre dois homens de natureza muito diferente. Partilha as deliciosas inconfidências da vida íntima, dos amores, das aventuras amorosas e sexuais das personagens (principalmente do Dr. Luís Vasques que era um grande marialva) :)))).

Ilustração Portugueza, No. 543, July 17 1916-22


Afirma o crítico Milton Azevedo que, «além de seu valor literário como narrativa de ficção propriamente dita, constatável à primeira leitura, o romance tem grande interesse como retrato da sociedade portuguesa, que forma o background da narrativa. O narrador, homem de seu tempo (ou tempos) e classe social, tem uma visão tão nítida da sua sociedade quanto é possível esperar de alguém que nunca pôde sair dela para observá-la de fora. É, portanto, uma visão naïve, informada apenas por elementos colhidos dentro daquela sociedade. Mas é uma visão arguta, porque o narrador é um indivíduo inteligente e lúcido. E complementada, é claro, pela visão, indirectamente transmitida ao leitor, do Rato, que é um verdadeiro co-protagonista (e não apenas um sidekick) - um pouco, mutatis mudantis, como Sancho Pança, sem o qual o Quixote ficaria impensável.»


Gosto desta analogia entre as principais personagens masculinas deste romance e D. Quixote e Sancho Pança. Adequada.



 
Ilustração Portugueza, No. 485, June 7 1915 - 17




"Não se pode falar da guerra a quem nunca a viveu. Po r mais pormenores que se contem do horror por que passámos, o que escuta nunca o poderá compreender inteiramente. Alguns fazem até um ar de incredulidade, como se não fossem possíveis tais atrocidades. Que exageramos para nos mostrarmos valentes. Que aquilo foi uma peluda, um passeio à França pago pelo governo. Só podemos partilhar o horror com alguém que também lá esteve e viu o sangue das feridas, e ouviu os gritos dos moribundos, e enterrou a cabeça na lama para escapar aos estilhaços dos obuses e dos morteiros, que sentiu o cheiro a gás, que viu pedaços de seres humanos espalhados pelo chão e ratos a passear por cima. Por mais que deseje esquecer, é o cheiro da trincheira que me perpassa pelo nariz quando, depois da chuva, dou um passeio pelo campo". (p. 25)







"Às vezes, ponho-me a pensar que o nosso esforço na guerra foi em vão. Que os milhões de mortos de um lado e do outro entre 1914 e 1918 não poderão nunca ser justificados; que a perda da inocência e da energia da juventude dos que voltaram não passou de um absoluto desperdício. O mundo, de facto, não ficou melhor. Muitos pensavam que aquela seria a última de todas as guerras e que depois o mundo viveria para sempre em paz. Porque o horror foi de tal ordem, que nenhuma nação teria a partir daí coragem para iniciar um novo conflito. Vã ilusão". (p. 28)











"A minha missão no regimento em Braga era a de preparar um pelotão de trinta recrutas para partir para a Flandres quando o comando e, antes dele, o governo, assim o determinassem. (...) Apresentaram-me trinta homens desenraizados das suas aldeias minhotas. Havia apenas três que sabiam ler e desses apenas um sabia escrever. Poucos sabiam o nome do Presidente da República e a maior parte pensava que D. Manuel II ainda era o rei. Não faziam a mínima ideia onde era a França e queriam voltar quanto antes para as suas terras, onde deixaram a família e os milheirais. Não queriam, como chegou a escrever o General Gomes da Costa mais tarde, «intervir numa guerra cujas causas ignoravam.» Este sentimento não era apenas dos recrutas. Era um sentimento generalizado em todo o exército. Havia um ou outro oficial que, ou por estupidez patriótica, ou por interesses de carreira, ou porque simplesmente era filiado nalgum dos partidos republicanos, tentava alentar as tropas". (p. 37)






"A instrução com o armamento foi o mais problemático. O quartel dispunha de espingardas do século passado, enormes e pesadas, muitas delas de carregar pela boca e quase nenhuma a funcionar. Se funcionassem, não havia munições para o tiro ao alvo. Por isso, andávamos com eles a correr na mata de Montélios a apontar ao inimigo e a simular o tiro com a boca: Pum, pum. O sargento, que tinha passado uma temporada em Moçambique e assistiu a fogo real, explicava indignado: – É prás, prás, e não pum, pum, seus nabos". (p. 39)








Pode fazer download das primeiras páginas deste romance AQUI.


Imagens da lllustração portugueza retiradas DAQUI.


As últimas quatro imagens integram a Exposição Viva República 1910-2010 AQUI.

Um apelo à leitura politicamente incorrecto /"The infamous Read a Book video"


Do cantor Bomani "D'Mite" Armah:

"I'm not a rapper, I'm a poet with a hip-hop style"







Muito politicamente incorrecto. O ritmo é bom mas é na ousadia da linguagem que reside o encanto deste íncentivo à leitura.

Via Bibliotequices

terça-feira, 3 de agosto de 2010

3 citações sobre a felicidade e uma delas é minha :)))





If only she could be so oblivious again, to feel such love without knowing it, mistaking it for laughter.

The Book Thief, Markus Zusak
 
 
 
Of all the priceless objects left behind, this is what we rescue. These artifacts. Memory cues. Useless souvenirs. Nothing you could auction. The scars left from happiness.



Chuck Palahniuk


A felicidade é a sabedoria da infância. Sem necessidades de razões ou motivos. A felicidade pura, por si mesma. Só as crianças conseguem. Os adultos precisam do porquê. É nossa a idade dos porquês. Temos que achar razões para tudo.

Ana Tarouca (sim, esta é minha)  :)))))

Declaração de amor à bibliotecári@ / Librarian in love



Esta vai catalogada e indexada para o meu maridão:)))
"Se fosses um livro de uma biblioteca,
eu jamais te devolveria".
:))

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