segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Três citações sobre o poder das palavras





"We’re fascinated by the words—but where we meet is in the silence behind them."

Ram Dass 
 
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"Let me try once more,” Milo said in an effort to explain. “In other words —”
“You mean you have other words?” cried the bird happily. “Well, by all means, use them. You’re certainly not doing very well with the ones you have now."

Norton Juster, The Phantom Tollbooth

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As palavras são sagradas. Merecem respeito. Se escreveres as palavras certas, numa ordem correcta podes abanar um pouco o mundo.

Tom Stoppard

Pronto, basta um sorriso e não se pensa mais nisso / Just Smile




Nat King Cole - Smile



Smile though your heart is aching
Smile even though its breaking
When there are clouds in the sky, youll get by
If you smile through your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
Youll see the sun come shining through for you
Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
Thats the time you must keep on trying
Smile, whats the use of crying?
Youll find that life is still worthwhile
If you just smile.
Thats the time you must keep on trying
Smile, whats the use of crying?
Youll find that life is still worthwhile
If you just smile


Nem sempre é fácil, eu sei. :) 

Por isso aqui fica mais uma doce versão, desta vez pela voz de Michael Jackson e imagens de Charlie Chaplin:


domingo, 15 de agosto de 2010

Imaginação e sentido de humor são essenciais à Humanidade


"Imagination was given to man to compensate him for what he isn’t. A sense of humor was provided to console him for what he is."



Horace Walpole

Traduzindo: Foi dada ao Homem imaginação para compensá-lo pelo que ele não é. Foi-lhe concedido sentido de humor para consolá-lo pelo que é.

sábado, 14 de agosto de 2010

Dois fantasmas de biblioteca procuram colocação em casa recheada de livros


"Os Dois Fantasmas" é um conto para os mais jovens sobre dois leitores tão  insaciáveis que depois de mortos continuam a frequentar a biblioteca. :))) Posto assim pode parecer sinistro mas é na verdade uma história deliciosa com um menino de olhos grandes, dois fantasmas sedentos de Literatura Infantil, uma biblioteca e muita fantasia.


O autor é Miguel Horta. "Os Dois Fantasmas" é parte integrante do livro Dacoli e Dacolá, constituido por um conjunto de sete histórias.  Editado pela Pé de Página em 2008.



Aqui fica:

 
Moravam os dois fantasmas, “dos livros que ainda não foram lidos”, lá num casarão perdido no meio da Vila. Uma mansão mais parecida com as “casas dos Brasileiros”, bem típicas lá de Aveiro.

A casa era ampla e tinham muito espaço para deambular. Ainda por cima estava vazia, pois ninguém a queria habitar.

Voltejavam com os seus lençóis brancos, percorrendo a casa toda numa inquietude de quem procura alguma coisa. E o seu lugar favorito, dentro da grande casa, era a biblioteca escondida lá nos fundos.

Bem tentou o proprietário alugar aquela casa. Mas quem por lá passava pouco tempo ficava.

Era um desassossego durante a noite...

Som de coisas partindo-se, correntes de ar percorrendo a casa, vindas de lugar nenhum e livros tombando no chão da biblioteca. Sem nenhuma explicação...

-Ninguém pregava o olho!

Até que um dia, surgiu na vila um casal disposto a alugar aquela casa amaldiçoada. Eram gente de longe com um filho de olhos muito grandes, cheios de vontade de conhecer as coisas do mundo.

O caseiro, encarregado da transacção, ainda perguntou ao casal depois da decisão:

- Mas não têm medo da casa e da sua assombração?

E logo ali contou a história daquela triste mansão.

Tinha sido a casa de dois irmãos gémeos e professores, por sinal. Tinham vivido ali durante muito tempo e, dizem, nunca conseguiram ler a biblioteca até ao final. Morreram os dois no mesmo dia, vai-se lá saber porquê. Sem terem lido todos os livros da sua biblioteca.

O menino ficou logo curioso com a biblioteca, enquanto os pais assinavam o contrato de arrendamento.

Passado algum tempo já estavam instalados naquele velho sobrado de águas largas e árvores frondosas.

Acostumados aos ruídos da grande cidade não deram por nada, dormindo a sono solto. Mas quando a casa fez sentir seu silêncio, começaram a reparar nos sons nocturnos que vinham da vasta biblioteca.

Era um restolhar de papéis, livros caindo no soalho, janelas e portas fechando e abrindo lá no coração da noite.

Começaram logo a pensar nas palavras do velho caseiro...

Mas o menino tinha olhos grandes. É sabido que olhos grandes servem para ver o mundo até na mais completa escuridão.

Assim, uma noite em que os pais se revolviam nos lençóis sem conseguir dormir, o menino dirigiu-se à fonte de todos os ruídos: a Biblioteca.

Entrou, sentiu a corrente de ar e viu um livro aberto no chão. Tinha talvez tombado de uma das grandes estantes... Pegou nele e leu precisamente a página que estava aberta:

“Assim que entrou em casa, Gepeto agarrou logo nas ferramentas e pôs-se a esculpir e a construir o seu boneco.

Que nome lhe hei-de dar? – disse de si para si. – Quero que se chame Pinóquio”

- Mas eu conheço esta história... - pensou o menino.

E continuou a ler, desta vez em voz alta, recostando-se num cadeirão.

As correntes de ar cessaram e, até teve a sensação de que alguém lia o livro ao mesmo tempo do que ele, espreitando por cima do seu ombro. Quando terminou a história foi-se deitar numa casa agora mergulhada em sossego. O pai já ressonava com a mãe agarrada ao seu corpo.

Neste ponto, terei que dar uma explicação aceitável sobre os nossos fantasmas dos “livros que ainda não foram lidos” ou, se quiserem, dos “livros que ainda estão por ler”.

Como é sabido, os fantasmas não têm dedos. Como hão-de consultar uma biblioteca? Ora bem... Só provocando correntes de ar ou outras coisas menos materiais para fazer tombar os livros das estantes... Caído o livro no chão, basta só uma pequena aragem para virar a página... o que nem sempre é fácil. O problema reside em tirar os livros que ainda não foram lidos das prateleiras. É necessária uma boa dose de esforço e de sorte.

-Este menino veio mesmo a calhar. -pensou logo um dos irmãos fantasmas, sentindo a concordância do outro que agitou o seu lençol afirmativamente.

No dia seguinte, ou melhor, na noite seguinte, o menino dirigiu-se à biblioteca assim que escutou o som da escova de dentes percorrendo energicamente a boca do pai.

Já lá estava alguma agitação... A janela abriu-se de repente e o acervo da estante superior agitou-se destacando uma lombada.

-Grimm? Os contos dos irmãos Grimm?- interrogou-se o menino.

-Pois bem, então seja...

Sentou-se confortavelmente no cadeirão da biblioteca e começou a ler, sentindo de novo aquele arrepiozinho agradável de quem não está só. Mas os “contos de Grim” são extensos e o menino começou a ficar com sono. Então poisou o livro, aberto, sobre a grande mesa da biblioteca e foi-se deitar. A casa estava calma e cheirava a sono.

Na manhã seguinte, foi dar uma espreitadela à biblioteca. O livro que havia deixado aberto, estava agora fechado com a contracapa para cima.

-Ahhh...Então leram. - pensou, cheio de vontade que chegasse a noite. Mas o pai já estava lá fora às apitadelas convocando-o para um dia de escola.

Chegada a noite, sentindo que os pais já se recolhiam no quarto, entrou na biblioteca assombrada: E lá estava um livro tombado no chão!

Pegou no livro e leu... Matilde Rosa Araújo.

Chegou rapidamente à conclusão que aqueles dois fantasmas se tinham esquecido de ler os livros das suas infâncias. Só assim se justificava aquele tipo de escolha. Não leram nada quando eram meninos...- pensou.

De qualquer forma estava a divertir-se bastante com aquelas leituras nocturnas.

Leu um pedacinho do livro e deixou-o ficar aberto em cima da mesa.

Claro está, durante a noite, os fantasmas leram o livro todo.

A partir daquele momento, o grande casarão passou a ser uma casa serena.

E um dia, o Pai, vendo o filho descer as escadas perguntou:

-Onde vais a esta hora?

-Vou dar de ler aos fantasmas. - respondeu a criança.


Agora tenho uma pergunta para vocês, leitores.

E quando se acabarem os livros da grande biblioteca? Será que podem levar convosco estes dois fantasmas, que ainda não leram tudo, para vossa casa?

É que à velocidade a que os livros tombam no chão da biblioteca, daqui a pouco acaba-se a literatura para a infância.



Deixo abaixo uma apresentação dos trabalhos dos alunos da Turma C da Escola Major David Neto sobre "Os Dois Fantasmas":



 
 
Um  agradecimento especial a Miguel Horta por permitir aqui a reprodução do seu conto. :)
 

Que ideia fazia Mário de Sá Carneiro das mulheres?! :(


‘Standing Girl in Plaid Dress’ - Egon Schiele, 1909



Que raio, mas quantas mulheres conhecia Mario de Sá Carneiro?! Obviamente poucas, e as que conhecia não devia conseguir entender!!! Era só palavreado!
Ora leiam.


Feminina


Eu queria ser mulher pra me poder estender
Ao lado dos meus amigos, nos banquetes dos cafés.
Eu queria ser mulher para poder estender
Pó de arroz pelo meu rosto, diante de todos, nos cafés.

Eu queria ser mulher pra não ter que pensar na vida
E conhecer muitos velhos a quem pedisse dinheiro -
Eu queria ser mulher para passar o dia inteiro
A falar de modas e a fazer «potins» - muito entretida.


Eu queria ser mulher para mexer nos meus seios
E aguçá-los ao espelho, antes de me deitar -
Eu queria ser mulher pra que me fossem bem estes enleios,
Que num homem, francamente, não se podem desculpar.


Eu queria ser mulher para ter muitos amantes
E enganá-los a todos - mesmo ao predilecto -
Como eu gostava de enganar o meu amante loiro, o mais esbelto,
Com um rapaz gordo e feio, de modos extravagantes...


Eu queria ser mulher para excitar quem me olhasse,
Eu queria ser mulher pra me poder recusar...


Mário de Sá Carneiro

 
Poema via Pó dos Livros

Aqui este cão que come livros continua a preferi-los em papel

:)))

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma leitora encantadora / A charming reader

Não sei quem é o autor desta pintura mas adoraria saber. Se alguém souber...agradeço. :)

Como estar Sozinho / How to be Alone. Um poema de Tanya Davis.




HOW TO BE ALONE por Tanya Davis



If you are at first lonely, be patient. If you've not been alone much, or if when you were, you weren't okay with it, then just wait. You'll find it's fine to be alone once you're embracing it.


We could start with the acceptable places, the bathroom, the coffee shop, the library. Where you can stall and read the paper, where you can get your caffeine fix and sit and stay there. Where you can browse the stacks and smell the books. You're not supposed to talk much anyway so it's safe there.

There's also the gym. If you're shy you could hang out with yourself in mirrors, you could put headphones in (guitar stroke).

And there's public transportation, because we all gotta go places.

And there's prayer and meditation. No one will think less if you're hanging with your breath seeking peace and salvation.

Start simple. Things you may have previously (electric guitar plucking) based on your avoid being alone principals.

The lunch counter. Where you will be surrounded by chow-downers. Employees who only have an hour and their spouses work across town and so they -- like you -- will be alone.

Resist the urge to hang out with your cell phone.

When you are comfortable with eat lunch and run, take yourself out for dinner. A restaurant with linen and silverware. You're no less intriguing a person when you're eating solo dessert to cleaning the whipped cream from the dish with your finger. In fact some people at full tables will wish they were where you were.

Go to the movies. Where it is dark and soothing. Alone in your seat amidst a fleeting community.

And then, take yourself out dancing to a club where no one knows you. Stand on the outside of the floor till the lights convince you more and more and the music shows you. Dance like no one's watching...because, they're probably not. And, if they are, assume it is with best of human intentions. The way bodies move genuinely to beats is, after all, gorgeous and affecting. Dance until you're sweating, and beads of perspiration remind you of life's best things, down your back like a brook of blessings.

Go to the woods alone, and the trees and squirrels will watch for you.

Go to an unfamiliar city, roam the streets, there're always statues to talk to and benches made for sitting give strangers a shared existence if only for a minute and these moments can be so uplifting and the conversations you get in by sitting alone on benches might've never happened had you not been there by yourself.

Society is afraid of alonedom, like lonely hearts are wasting away in basements, like people must have problems if, after a while, nobody is dating them. But lonely is a freedom that breaths easy and weightless and lonely is healing if you make it.

You could stand, swathed by groups and mobs or hold hands with your partner, look both further and farther for the endless quest for company. But no one's in your head and by the time you translate your thoughts, some essence of them may be lost or perhaps it is just kept.

Perhaps in the interest of loving oneself, perhaps all those sappy slogans from preschool over to high school's groaning were tokens for holding the lonely at bay. Cuz if you're happy in your head than solitude is blessed and alone is okay.

It's okay if no one believes like you. All experience is unique, no one has the same synapses, can't think like you, for this be releived, keeps things interesting lifes magic things in reach.

And it doesn't mean you're not connected, that communitie's not present, just take the perspective you get from being one person in one head and feel the effects of it. Take silence and respect it. If you have an art that needs a practice, stop neglecting it. If your family doesn't get you, or religious sect is not meant for you, don't obsess about it.

You could be in an instant surrounded if you needed it
If your heart is bleeding make the best of it
There is heat in freezing, be a testament.


Bonito.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Nos bastidores de uma biblioteca

A Vancouver Public Library

Escritor = precisão do poeta + imaginação do cientista

Jonathan Wolstenholme


Esta minha equação resulta da afirmação de Vladimir Nabokov:




"A writer should have the precision of a poet and the imagination of a scientist".

"Um escritor dever ter a precisão de um poeta  e a imaginação de um cientista".


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Eu leio porque.../ I read because...




I read because one life isn’t enough, and in the page of a book I can be anybody;



I read because the words that build the story become mine, to build my life;


I read not for happy endings but for new beginnings; I’m just beginning myself, and I wouldn’t mind a map;


I read because I have friends who don’t, and young though they are, they’re beginning to run out of material;


I read because every journey begins at the library, and it’s time for me to start packing;


I read because one of these days I’m going to get out of this town, and I’m going to go everywhere and meet everybody, and I want to be ready.


Richard Peck, Anonymously Yours (1995)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"O que há num nome?" - Um Shakespeare e dois Sócrates

"O que há num nome?", perguntou Shakespeare pela boca de Julieta - prática que, a propósito, parece ser extremamente anti-higiénica. Uma rosa, dizia a rapariga que, certamente por perfeccionismo, primeiro fingiu matar-se e só depois se matou mesmo, teria igual beleza e o mesmo cheiro caso tivesse outro nome. É verdade. Se a rosa se chamasse, digamos, bidé, seria igualmente bela, por muito que pudesse ser um pouco embaraçoso oferecer a alguém um lindo ramo de bidés. Mas o Bardo refletiu apenas acerca do objeto que, mudando de nome, mantém as características. Por esquecimento ou preguiça, não se debruçou sobre os objetos que, tendo características diferentes, partilham o mesmo nome. Por exemplo, o que há num Sócrates? Será possível que dois Sócrates diferentes encontrem, no entanto, o mesmo destino? Não deixa de ser inquietante que Julieta não tenha colocado esta questão a Romeu, tendo preferido entreter-se com considerações sobre rosas. Mais sobra para nós, amigo leitor, meditarmos.

O que começa por ser curioso na comparação entre o Sócrates grego e o Sócrates português é o facto de as próprias diferenças os aproximarem. Repare: o Sócrates grego nunca disse ser sábio. Ao Sócrates português, até lhe atestaram a sabedoria ao domingo...

Excerto da última crónica de Ricardo Araújo Pereira para a revista Visão. Leia na íntegra AQUI. 

Brilhante pergunta! Eu também não sei.

Medo, por Thienbao.


"How strange it is. We have these deep terrible lingering fears about ourselves and the people we love. Yet we walk around, talk to people, eat and drink. We manage to function. The feelings are deep and real. Shouldn’t they paralyze us? How is it we can survive them, at least for a little while? We drive a car, we teach a class. How is it no one sees how deeply afraid we were, last night, this morning? Is it something we all hide from each other, by mutual consent? Or do we share the same secret without knowing it? Wear the same disguise?"



Don DeLillo, White Noise

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"As mulheres são um cheiro. É pelo cheiro que as catalogamos no íntimo arquivo dos desejos"







«-...As mulheres são um cheiro. É pelo cheiro que as catalogamos no íntimo arquivo dos desejos. A que cheira uma mulher? -- perguntou-me um dia a Diana. Uma rosa cheira a rosa. Um cravo cheira a cravo. Não sei a que cheira uma orquídea. Mas sei que todas as orquídeas cheiram igual, respondi. Já as mulheres, nenhuma repete o cheiro. As que nos refrescam têm cheiro de rio, as que nos enchem têm cheiro de mar.



Todas as mulheres têm um cheiro húmido. Como a boca. Como o sexo. Só gostamos de uma mulher quando gostamos do seu cheiro. Quando tudo nos leva a bebe-la, como um chá quente, excitante, aromático. Se não gostarmos do seu cheiro não conseguimos ama-la, nem na pele nem na alma. Podemos ser amigos, companheiros, nunca amantes. Amar é beber um cheiro. É transporta-lo para dentro de nós. Amamos uma mulher quando cheiramos ao seu cheiro...»

João Morgado, Diário dos Infiéis, Oficina do Livro, 2010


Voz: Rui Almeida.
Fotos: GD Fotografias (Brasil)
Produção de vídeo: Francisco Cardona.

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