quinta-feira, 7 de abril de 2011

Para pintar um pássaro faz um poema



Para fazer o retrato de um pássaro




Pinta primeiro uma gaiola
com a porta aberta
pinta a seguir
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro
agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta
esconde-te atrás da árvore
sem dizeres nada
sem te mexeres...
Às vezes o pássaro não demora
mas pode também levar anos
antes que se decida
Não deves desanimar
espera
espera anos se for preciso
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
mergulha no mais fundo silêncio
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho com o pincel
depois
apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
a poeira do sol
e o ruído dos bichos entre as ervas no calor do verão
e agora espera que o pássaro se decida a cantar
se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se cantar é bom sinal
sinal de que podes assinar
então arranca com muito cuidado
uma das penas do pássaro
e escreve o teu nome num canto do quadro.


Jacques Prévert / trad. Eugénio de Andrade

Fonte: PNL

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mulheres belas, famosas e leitoras / Beautiful, famous women and...books


Julia Roberts, Kirsten Dunst...ui, relembram-me o nome das outras duas, por favor?

Desconheço o nome do fotógrafo autor desta imagem.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O poema de um ex-soldado americano / The poem of a former american soldier

Um soldado americano inspecciona livros deixados pelos alemães (1944).



What Are You Doing?


What are you doing, where are you going, what is your five-year plan?
We cannot help you without knowing, then we will understand.


Where are you going, what are you doing, what is your five-year plan?
Handing me a flag, they sent me off to war, and said you'll come back a man.


Where am I at, what am I doing, what is my five-year plan?
Crippled children, burning villages, walking with blood on my hand.


Where are you going, where have you been, what is your five-year plan?
I've been to hell to fight your war, and now I'm back again.


Where are you going, what are you doing, what is your five-year plan?
I'm wiping this blood on your political white shirt, so you will understand.


What are you doing, where are you going, what is your five-year plan?
To heal the suffering I have caused, on my journey to become a man.



quarta-feira, 30 de março de 2011

E um poema que é mesmo de amor



Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)


Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.


Alexandre O'Neill



Poema via Bibliotecar

Adoro esta fotografia, é LINDA! Tenho pena de não saber quem é o seu autor.

Quase um Poema de Amor, quase, quase!



Quase um Poema de Amor



Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.


Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
— Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.


Miguel Torga, in 'Diário V'

quarta-feira, 23 de março de 2011

Eva (sem Adão) no CCB/Fábrica das Artes

Clique na imagem para aumentar.


Em 2009, Margarida Botelho criou um projeto de arte e literacia comunitária, com o apoio do Ministério da Cultura e da UNESCO, ao qual deu o nome de Encontros. Durante oito meses viajou por Moçambique com uma mochila cheia de livros em branco, que foram pouco a pouco ganhando vida através das experiências de muitos meninos grandes e pequenos que participaram no projeto.

Com base nesta experiência nasceu o livro Eva, um livro com duas histórias, com dois retratos de duas meninas, ambas de nome Eva; uma vive na Europa, num país que poderá ser Portugal, e outra em África num país que poderá ser Moçambique.

Depois do lançamento do livro Eva, em Dezembro de 2010, Margarida Botelho regressa durante duas semanas para trazer o seu trabalho ao Espaço CCB/Fábrica das Artes  e apresentá-lo aos nossos diversos públicos: miúdos e graúdos através de uma exposição e várias oficinas, um encontro com mediadores de arte e educação através de uma formação “Modos de Aparição das Artes” e um encontro debate sobre o projeto.

Clique na imagem para aumentar.


Saiba mais AQUI.

terça-feira, 22 de março de 2011

Do amor entre a poesia e o teatro nasce a poesia falada

Não declamada e extrapoladamente dramática mas falada de forma informal e emotiva, pessoal, mais verdadeira que fingida, sentida, original, inspiradora, única. São 18 minutos...é muito, eu sei, mas talvez fiquem presos como eu e os 18 minutos sejam um instante.





"If I should have a daughter, instead of Mom, she's gonna call me Point B ... " began spoken word poet Sarah Kay, in a talk that inspired two standing ovations at TED2011. She tells the story of her metamorphosis -- from a wide-eyed teenager soaking in verse at New York's Bowery Poetry Club to a teacher connecting kids with the power of self-expression through Project V.O.I.C.E. -- and gives two breathtaking performances of "B" and "Hiroshima."

Sarah Kay is a  performing poet since she was 14 years old, Sarah Kay is the founder of Project V.O.I.C.E, teaching poetry and self-expression at schools across the United States.


"hands are not about politics
this is a poem about love
and fingers
fingers interlock like a beautiful zipper of prayer"



Sarah Kay



Fonte: TED

segunda-feira, 21 de março de 2011

"O problema não é meter o mundo no poema"


 Fernando Vicente tem ilustrações simplesmente fantásticas!!! Como esta.


Do Poema


O problema não é
meter o mundo no poema; alimentá-lo
de luz, planetas, vegetação. Nem
tão-pouco
enriquecê-lo, ornamentá-lo
com palavras delicadas, abertas
ao amor e à morte, ao sol, ao vício,
aos corpos nus dos amantes —


o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja
mais só
do que as palavras
acompanhadas
no poema.



Casimiro de Brito, in "Canto Adolescente"

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