domingo, 23 de novembro de 2008

Um esclarecimento sobre pontuação.


E que até tem parecenças com o John Lennon!

Uma citação ilustrada por Céo Pontual.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Oito frases de Rui Zink


1."Todos os dias imagino que me divorcio ou quando entro no carro e ponho o cinto imagino um acidente, apenas para que não aconteça"

2."não concebo a escrita como actividade única, é preciso viver fora da escrita para escrever"

3."Para escrever histórias de amor já há o Nicholas Sparks e houve a Barbara Cartland. O que eu faço são visões paranóicas sobre o que se passa à minha volta" - no mundo"

4."Não é preciso que o escritor tenha uma grande sensibilidade, o que é preciso é que o leitor tenha uma grande sensibilidade"

5."Não gosto de dizer tudo, gosto de ir até meio do caminho e esperar que o leitor faça o mesmo. Faz-me espécie que os escritores tratem os leitores como focas, que só servem para bater palmas à genialidade virtuosa."

6."A literatura portuguesa ficou sem uma perna. De um lado temos o Saramago, o Lobo Antunes, os barrocos, do outro havia o Cardoso Pires e agora não há."

7."Os meus livros são como o homem gordo que está na cama com uma mulher de olhos fechados - e que tenha bebido um bocado - e vê a magia do romantismo e, em vez do homem gordo, o Pierce Brosnan."

8."Trabalhar, trabalhar, trabalhar e copiar, copiar muito."



Retiradas de uma entrevista do escritor ao Diário de Notícias, em 19 de Novembro de 2008. Na íntegra aqui.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E se Obama fosse africano? Por Mia Couto

Recebi este texto por e-mail. Embora seja muito extenso, penso que a sua relevância justifica a sua divulgação.
Eu também suspirei de alívio perante a vitória de Obama. Só arrisco algumas considerações: Obama surge, depois da catástrofe Bush, como uma espécie de Messias perante não só os E.U.A. mas todo o mundo. Estará este homem à altura? Esperemos que sim. Mas tem certamente um árduo caminho pela frente.
Passo agora a palavra a Mia Couto:

"Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.


Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.


Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.


Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.


E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?


1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.


2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.


3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.


4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).


5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.


6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.


Inconclusivas conclusões

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.


Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.


A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.


Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público. No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África.


No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.


Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia".

Mia Couto, Jornal "SAVANA" – 14 de Novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A TV vs O Livro: 2 cartoons

Se bem que, nos dias de hoje, não sei se a Internet e toda a panóplia de brinquedos digitais não rivaliza mais com o Livro do que a TV...

Obama vai deixar a Casa Branca mais limpinha!

E Bush volta para de onde nunca devia ter saído!


Cartoon de Rodrigo em Humoral da História, na edição on-line do Jornal Expresso de hoje.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Marilyn Monroe: "books are a girl's best friend"



Marilyn Monroe lendo Ulysses, de James Joyce, em 1954.
Fotografia de Eve Arnold.



Marilyn Monroe no Ambassador Hotel a ler um livro sobre representação, em 1955

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Olha a Padeira de Aljubarrota!

Lá está aquela história de que as meninas bem-comportadas vão para o céu, as mázinhas vão a todo o lado...nem que seja de transportes públicos!

Cá está, a história é tecida não pelas mulheres que ficam em casa a bordar mas por aquelas que rasgam a roupa toda... Não é pela inteligência nem sequer pela beleza, é por ceder ao seu lado selvagem, quebradas as amarras da submissão secular...é por não prescindirem da liberdade...


O Amante, Marguerite Duras e a beleza estrangeira da estrangeira



Acabei há poucos dias de ler O Amante de Marguerite Duras. Um livro triste, sem beleza literária suficiente para sublimar a tristeza. Parece que autobiográfico. A narração é irregula, caótica, confusa a nível temporal.
Há cenas de alguma sensualidade e poesia mas não há intimidade do leitor com as personagens: estas nem sequer têm nomes próprios: fala da adolescente magra de chapéu masculino e sapatos dourados, a mãe sofredora, o irmãozinho que morre, o idolatrado e cruel irmão mais velho, o homem chinês de Cohén…não posso dizer que tenha gostado.
Houve momentos melhores, como a súbita alegria da mãe quando lava a casa perfumada com o “cheiro delicioso da terra molhada depois da tempestade” e a descrição da “estrangeira”, Betty Fernandez (esta ainda tem nome).
“As pessoas param e olham maravilhadas a elegância desta estrangeira que passa sem ver. Soberana. Não se percebe logo de onde ela é. E depois dizemo-nos que não pode ser senão de fora, senão daí. É bela, bela por esta incidência. Veste-se com os velhos trapos da Europa, com restos de brocados, com velhos saia-e-casaco fora de moda, com velhos cortinados, com velhos restos, velhos retalhos, velhos farrapos de alta costura (…) a sua beleza é assim, rasgada, friorenta, soluçante e de exílio, nada lhe fica bem, tudo é grande demais para ela, e é bonito, ela bóia, demasiado magra, nada se lhe ajusta e, no entanto, é bonito. É feita assim, na cabeça e no corpo, de modo que cada coisa que a toca participa desde logo, indefectivelmente, dessa beleza”.
Gosto desta descrição da estrangeira, porque toda a sua beleza é estrangeira, inesperada, diferenciada e no entanto indiscutível. E eu quase que reconheço esta beleza friorenta e demasiado magra, a nadar dentro das roupas vintage em imagens de pessoas que já vi, na sua beleza intelectual.

Para uma opinião distinta da minha sobre este livro podem ler este texto publicado no blogue HÁ SEMPRE UM LIVRO...à nossa espera!

sábado, 18 de outubro de 2008

Ovos quentes


Sempre gostei deles estrelados, brilhantes de gordura, com uma grossa fatia de bacon a acompanhar. E ela parecia ficar um pouco incomodada ao ver-me degluti-los com entusiasmo e até alguma precipitação (o apetite tem as suas urgências, e eu sempre fui um homem de apetites!), enquanto comia os seus cereais com baixo teor de calorias, submersos em leite magro e colmatados por uma pecita de fruta de cultura biológica.

Mariana não tinha uma postura descontraída em relação a nada. Se não fosse aquele seu olharzinho pestanudo de mulher fatal, aquele sinalzinho à Cindy Crawford no canto superior dos lábios carnudos e aquele corpo…ai aquele corpinho de pecado…Mas o que tinha de beleza tinha de contenção beata. Éramos amantes há meses mas não se podia dizer que fôssemos íntimos. É impossível a intimidade para quem a nudez é apenas mais uma forma de vestir. Quando andava nua pelo quarto mantinha a pose de quem desfila sobre uma passerelle. Não contávamos segredos, não entrelaçávamos as mãos, não trocávamos olhares de cumplicidade.

Mas o pior de tudo era a sua miopia sexual. Era uma mulher dogmática na cama, sem imaginação ou liberdade. Sempre que eu propunha uma inovação, uma maneira diferente de tocar, um exercício mais experimental e ousado, levava com uma expressão axiomática do género: “ISSO não faço! É animalesco…é pouco higiénico”. E esta era uma proposição reiterada, sentenciosa e indiscutível. Morria ali a discussão, sem espaço a contra-argumentos! E eu que sempre fui adepto do método científico no vale dos lençoís!

“Eh pá, mas porquê?”, indagava eu, desesperado com a sua sovinice sensual. “Porque não.” E, ao ouvir isto, passava-me uma nuvem vermelha pela vista e crescia em mim a vontade de fazer uma loucura…de rasgar-lhe a roupa sempre impecável…despenteá-la…violá-la…destituí-la daquela pose de diva inatingível que me impossibilitava de a amar verdadeiramente.

Uma manhã, mais uma vez apanhado na ratoeira do mecanismo frustração afectiva – compensação alimentar, fritava os meus ovos na gordura luzidia do bacon quando desceu sobre mim uma epifania de inspiração erótica. Decerto instigado pela versão cinéfila do Kamasutra, essa maravilha da 7ª arte que é Nove Semanas e Meia, resolvi oferecer-lhe o pequeno-almoço na cama.

Ainda dormia, vestida apenas pela rebeldia dos seus cabelos ruivos, a nudez sublinhada pela finura do tecido que a cobria. Levantei lentamente o lençol. Senti o desejo pulsante sublinhado pelo travo picante da profanação. E, devagarinho, como obedecendo a um ritual sagrado, espremi o ovo estrelado, escorrendo entre os meus dedos, naquele umbiguinho de sereia.

Levantou-se de um grito. Olhou para mim como se tivesse tido uma revelação e eu fosse o diabo…

E só guardo na memória aquele corpinho nú, lindo, sem vestígios de celulite, a escapulir-se qual ninfa da Ilha dos Amores, fugindo às mãos mas oferecendo-se ao olhar deste argonauta faminto, sem amor nem pequeno-almoço.

Foi este o episódio que marcou o fim da nossa relação. E ainda hoje me arrependo de não ter deixado arrefecer um bocadinho mais o ovo.

Ana Tarouca

23 Dez. 2000, reescrito em Outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A gang dos bibliotecários

Batgirl como Bibliotecária, da DC Comics


"Põe-te a pau, ó caramelo, que QUEM SE METE COM OS BIBLIOTECÁRIOS LEVA com umas belas COTAS NA LOMBADA".




Esta frase foi retirada do blogue O Bibliotecário Anarquista. Um texto pleno de humor que me faz sentir com as costas quentes...We're bad! Don´t mess with us, man! Parece que somos um gang organizado, hihi!



Rex Libris, o James Bond das bibliotecas!




terça-feira, 30 de setembro de 2008

"Pra mim, livro é vida", diz Lygia Bojunga



Gemma Aguasca


"Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava num outro e fazia telhado.

E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro."
Lygia Bojunga

Lygia Bojunga é uma escritora brasileira que, em 1982, recebeu o Prémio Hans Christian Andersen, o mais importante prémio literário infantil, uma espécie de Prémio Nobel da Literatura Infantil, concedido pela International Board on Books for Young People.

Lygia estará amanhã, dia 1 de Outubro, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Algés, para participar no Serão de Contos.

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