segunda-feira, 30 de março de 2009

Sobre os Poetas...Pessoa e Freud

A Poesia por um poeta, Fernando Pessoa através do seu heterónimo "guardador de rebanhos":

E há poetas que são artistas

E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…

Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem construi um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!…
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre boa e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa,
E olho para as flores e sorrio…
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono.

Alberto Caeiro, Poesia


E pelo pai da Psicanálise, o digníssimo Freud:

"Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim"



Fontes:
http://assirioealvim.blogspot.com/2009/03/e-ha-poetas-que-sao-artistas.html
http://curiosaidentidade.blogspot.com/

terça-feira, 24 de março de 2009

Eh pá, isto é que é progresso!


(cliquem na imagem para aumentar)
Espantoso, hem! Qual e-book qual quê!!! Este dispositivo wireless chamado livro é que é o máximo! E tem cheiro (adoro o cheiro de um livro novo), é agradável ao tacto ( ai a vitória de pegar numa página entre os dedos e virá-la depois de lida...Modernices! ;)


Fonte: http://www.penny-arcade.com/comic/2009/3/9/

quinta-feira, 19 de março de 2009

Quando não havia televisão.../ When there was no TV

Jean Francois de Troy, "Reading from Moliere" 1728

...nem rádio nem internet. Os vestidos das senhoras faziam frou-frou nos serões opulentos dos salões e a leitura em voz alta preenchia as horas e os silêncios da noite.

domingo, 15 de março de 2009

O meu beijo para Rodin

Este é "uma espécie de" poema que eu escrevi em 2001, na altura divulgado no site Educare e que mais tarde publiquei no meu blogue O Lobo Leitor. É um bocadinho apimentado, há quem diga que é erótico...o meu único intuito foi transmitir aquilo que esta escultura de Rodin inspirava em mim.

As esculturas de Rodin deslumbram-me e emocionam-me. Em Madrid, em 1998, tive oportunidade de ver ao vivo algumas das suas obras-primas, fiquei completamente encantada, rodeando-as, olhando de todos os ângulos, cercando a sua completa perfeição...


Aqui deixo o meu O Beijo, de Rodin:






Da metamorfose do rochedo
Monstro de terra e de mar
Áspero, sólido, horrendo
Liberta-se aos poucos
Uma forma de arte... e de amar

Os músculos apenas se descobrem
Na denúncia da pulsação esquecida
Das mil energias que percorrem
A pedra viva.

Na lisura da pedra suada murmuram discretas veias
De dois corpos em concha
Onde
o tempo construiu suas imortais teias

De brilho e de cotão

Pelo torso tímido ela se enleia como Hera
Que o quer seu
E o seu gesto de jovem primavera
Guarda em si o fogo da paixão

Na brisa subtil desta ternura
Esquecida de si mesma ela se dá
E da rocha de uma teimosia dura
Os pés voam e ganham o ar.

O seu seio erguido se alonga no abraço
E roça dele o peito pujante e vigoroso
E este toque sentido
Desperta um desejo ardente e ansioso.

O amante, mais contido no seu movimento
Pousa a sua mão grande e viril
Na carne rija e sem tempo
Da sua ninfa de cinzel e vento.

E na coxa que a luz revela... firmeza
E a sombra arredonda,
Há a secreta beleza
De um segredo profundo... no escuro.

Os olhos fechados no pudor do sentimento
O tremor quente dos lábios nas órbitas nocturnas.
A urgência do desfloramento
Na avidez das ternas garras, tenra luz.

Numa penumbra sem rostos
Dois corpos, um só ensejo
Um homem, um mulher
Um só gesto, um eterno beijo.

Ana Tarouca, 2001


sexta-feira, 13 de março de 2009

Há um poeta com uma aranha nos cabelos...

Encontrei este poeta em Lisboa, logo ali no Azeite, Pão e Alho, e não resisti em trazê-lo comigo.


O Poeta em Lisboa

Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.

Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.

Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.

Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.

Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.

Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.

Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.

Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.

Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos,
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.
António José Forte

Ler na lavandaria


Ilustração de Manuel Rebollo.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Uma migalha da graça de "O Carteiro de Pablo Neruda"



Este é um daqueles livros que se lê de um fôlego só e com um imenso prazer. Surpreende-nos logo no prólogo, do qual não resisto em transcrever alguns excertos. Se gostarem, óptimo. Se não gostarem, fica pra mim! ;)


"Na altura eu trabalhava como redactor cultural de um diário de quinta categoria. A secção a meu cargo guiava-se pela concepção de arte do director que, orgulhoso das suas amizades no ambiente, me obrigava a incorrer nos crimes de entrevistas a vedetas de companhias frívolas, resenhas de livros escritos por ex-detectives, notas a circos ambulantes ou louvores desmedidos ao hit da semana que pudesse engenhar o filho de qualquer vizinho.

Outros escritores da minha idade obtinham considerável sucesso no país e até prémios no estrangeiro: o da Casa das Américas, o da Biblioteca Breve Seix-Barral, o da Sudamericana e Primera Plana. Nos gabinetes húmidos dessa redacção agonizavam todas as noites as minhas ilusões de ser escritor. Ficava até de madrugada a começar novos romances que deixava a meio do caminho desiludido com o meu talento e a minha preguiça.A inveja, mais que um incentivo para acabar alguma vez uma obra, funcionava em mim como um duche frio.

Pelos dias em que cronologicamente começo esta história — que tal como os hipotéticos leitores notarão arranca entusiasta e termina sob o efeito de uma profunda depressão — o director reparou que a minha passagem pela boémia tinha aperfeiçoado perigosamente a minha palidez e decidiu encomendar-me um serviço à beira-mar, que me consentisse uma semana de sol, vento salino, marisco e peixe fresco, e de caminho importantes contactos para o meu futuro. Tratava-se de assaltar a paz marítima do poeta Pablo Neruda, e através de encontros com ele, conseguir para os depravados leitores do nosso pasquim uma coisa assim, palavras do meu director, «como que a geografia erótica do poeta». Afinal de contas, e em bom chileno, fazer-lhe falar do modo mais gráfico possível das mulheres que tinha engatado.

Hospedagem na pensão da Ilha Negra, viático de príncipe, automóvel alugado à Hertz, e empréstimo da sua Olivetti portátil, foram os satânicos argumentos com que o director me convenceu a levar a cabo a ignóbil proeza. A estas argumentações, e com o idealismo da juventude, eu acrescentava outra acariciando um manuscrito interrompido na página 28: à tarde iria escrever a crónica sobre Neruda e durante as noites, ouvindo o som do mar, avançaria com o meu romance até acabá-lo. E mais, propus-me uma coisa que se tornou obsessão, e que me permitiu também sentir uma grande afinidade com Mario Jiménez, o meu herói: conseguir que Pablo Neruda prefaciasse o meu texto. Com esse valioso troféu bateria às portas da Editorial Nascimento e conseguiria ipso facto a publicação do meu livro dolorosamente adiado.
(...)

Sei que mais que um leitor impaciente estará a perguntar-se corno é que um mandrião acabado como eu pôde terminar este livro, por muito pequeno que seja. Uma explicação plausível é que demorei catorze anos a escrevê-lo. Se se pensar que neste lapso de tempo Vargas Llosa, por exemplo, publicou Conversação na Catedral, A Tia Júlia e o Escrevedor, Pantaleão e as Visitadoras e A Guerra do Fim do Mundo, é francamente um recorde do qual não posso orgulhar-me.
(...)
Beatriz González, (...) quis que eu contasse por ela a história de Mario, «não importa quanto demorasse nem quanto inventasse». Assim, desculpado por ela, incorri em ambos os defeitos".


Excerto do Prólogo de O CARTEIRO DE PABLO NERUDA, de António Skármeta.

Delicioso, não se fiquem por esta migalha se podem comer o bolo todo! Eu já estou toda lambusada! :)

terça-feira, 10 de março de 2009

Os livros também têm direitos!


Tim Walker



A Declaração dos Direitos do Livro foi criada por L’association des Éditeurs de la Région Centre. Aqui ficam os 8 princípios:

Artigo 1
Os livros, todos os livros, têm direito a existir.


Artigo 2
Os livros são iguais entre si, sem distinção de origem, fortuna, nascimento, opinião ou editor.


Artigo 3Todo o livro tem direito à vida, à comercialização, à possibilidade de ser exposto ao leitor e de proporcionar ao seu autor a de ser lido e renumerado com justiça.

Artigo 4
Todos os livros são iguais perante a lei, a qual os submete à igualdade de preço em qualquer lugar onde sejam expostos.


Artigo 5
Todos os livros têm direito a que, em qualquer lugar, se reconheça a sua personalidade, a personalidade do autor e do editor.


Artigo 6
O livro, como uma obra de imaginação bem como de investigação, dirige-se à imaginação e às necessidades do ser humano. Assim, na sua comercialização, não deve ser tratado como um simples produto de consumo corrente.


Artigo 7
O livro é e será garantia das nossas liberdades. Não pode em nenhum caso ser submetido a alienação, seja no plano do pensamento, seja no plano da sua vocação fundamental, que é promover o livre intercâmbio de culturas, mentalidades e saberes.


Artigo 8
O livro, motivador da abertura de espírito, da ciência, dos prazeres, depositário do saber enquanto obra de criação, deve ser tratado como um bem indispensável para a cultura, a promoção social e espiritual e a informação, não pode ser tratado como uma vulgar fonte de lucros.


Fonte: Livros e Afins

segunda-feira, 9 de março de 2009

Grandes histórias podem ficar velhinhas mas vivem para sempre! / Great stories live forever!




Cliquem nas imagens para aumentar! Vale bem a pena! "Grandes histórias vivem para sempre" é uma campanha de incentivo à leitura que a Agência Fields Comunicação criou para a livraria brasileira Sabugosa. Os criativos usaram ilustrações de personagens clássicos da literatura infantil em versão "idosa" porque "velhos são os trapos".

O Pinóquio já sofre com o bicho da madeira, a Rapunzel gasta litros e litros de tinta para o cabelo para esconder os brancos e o Capuchinho Vermelho já está demasiado rija para a dentadura postiça do lobo!

Excelente! Meeesssmo!

Fonte: www.nfactory.org

Magalhães, mais desejado que El Rey Dom Sebastião!

Enquanto continuo à espera (e não sou só eu) que a minha filha receba o Magalhães (será que vão chegar primeiro à Venezuela do que às escolas portuguesas?) já vou assistindo curiosa a algumas avaliações do seu desempenho!


Os erros do Magalhães por Henri Cartoon.

E uma carta ao Magalhães:

"Querido Magalhães

Venho aqui deichar-te uma palavra de inssentivo para que não dezanimes e procigas na tua nobre mição de dessizivo contributo para a inducassão em Portugal. Eu sei que é defissil, tens rezistido a muito. Ele é o desanho (paresses uma balanssa) ele é a prumussão (Sócrates vendeu-te na Venezuela como se fosses uma pessa de lanjeri), ele é até o nome que como sabes é defíssil de prununciar no estranjeiro. Não xegavão estas desgrassas vi ontem (e li, valha-me deus, e li) que estás xeiinho de erros ortugráficos. Cumessei a ler os erros e não cria acreditar. E quando eu pençava que a situação era sufissientemente grave para, pelo menos, pôr alguém na rua, oisso dizer que, prontes, a coisa resolve-se (vai-se a ver e o ME como não tem lucros não pode despedir ninguém, como dis o Loussã) e alguém, já nem sei quem, vai mandar corrijir o softeuére, porque a culpa foi de um senhor que é imigrante na França e não tem a quarta classe. Como ninguém me explicou porque é que um imigrante na França que não tem a quarta classe é que foi encarregado de fazer a tradussão do tal dito prugrama prás crianssinhas fiquei na esperança que o minestério da inducação fizesse alguma coisa e no mínimo, pusesse alguém na rua, em última análise a peçoa que se lembrou do tal imigrante, sem qualquer respeito pelas criancinhas que és suposto de encinar. Mas sabes o que é que a ministra diçe, sabes? Diçe, meio zangada, que o ministério não podia tratar de tudo. Prontes. A coisa fica açim, muda-se o softeuére e paga-se ao luso francês. Nada de muito grave.

* "vês" em vez de "vez" e "dirijir" são exemplos reais dos erros do Magalhães".

Texto de Nelson Reprezas, no seu blogue Espumadamente.

Quando o Magalhães vier, certamente numa manhã de nevoeiro, tirarei as minhas próprias conclusões. Pode ser até que lhe escreva também uma missiva!

sexta-feira, 6 de março de 2009

Campo de Letras

Desconhecia que a Editora Campo de Letras se encontrava em processo de insolvência, se calhar por distracção porque parece que já foi noticiado há umas semanas. (Quase) Ninguém fica impune face à crise que vivemos!
Tomei conhecimento deste facto através do blogue do escritor M.J.Marmelo, Teatro Anatómico:
"A manhã estava a chegar ao fim quando me ligou o dono maioritário da editora Campo das Letras, que publicou a maior parte dos meus livros. Confirmou os rumores, as notícias dos jornais e os meus receios. A editora está insolvente e eu transformo-me automaticamente num nome da lista de credores que poderão habilitar-se a receber alguma coisa quando a massa falida da empresa for liquidada, por conta dos direitos de autor dos livros vendidos nos últimos dois anos. Ou seja: os meus livros, bem ou mal, venderam-se, alimentaram, muito ou pouco, uma cadeia que envolve livrarias, distribuidoras, entidades bancárias e a própria editora com os seus funcionários, mas não sobrou, do produto do meu trabalho, nada que pudesse retribuí-lo, nem sequer esse ridículo euro que me cabe da venda de cada exemplar.
Vivo sensações contraditórias: a Campo das Letras arriscou publicar os meus livros quando não interessavam a mais ninguém, tratou-me com cordialidade e amizade e será sempre, de algum modo, a minha editora (como é ainda a minha escola cada uma das escolas que frequentei). Lamento a falência, portanto, como se (mais) uma parte de mim tivesse fracassado. Mas não posso, neste meu novo papel de "credor da massa falida", deixar de sentir que, por muito intelectual e emproada que possa parecer esta estúpida actividade de escrever livros, não passei, este tempo todo, de mais um dos que estão na base da pirâmide alimentar da literatura – um operariozinho dócil e pouco reinvidicativo, um murcão crédulo e, enfim, tudo aquilo que tenho sido na vida. Bem vistas as coisas, não há nenhum motivo para que pudesse ter sido diferente".


Por M.J.Marmelo
em 19 de Fevereiro de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um dos dois é burro!


"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro".

Mário Quintana

Excelente!

Mário de Miranda Quintana (1906-1994) foi poeta, tradutor e jornalista brasileiro.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um de Cem Poemas de Amor

Ilustração de Rachel Caiano.



Ontem pensei
no meu amor por ti.
Recordei
as gotas de mel dos teus lábios
e lambi o açúcar
das paredes da minha memória.



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