segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O livro é uma prenda que pode abrir vezes sem conta


Ofereça livros neste Natal porque:

Books are works of art and science, and vehicles for ideas. They magnificently materialize creative diversity, generate universal knowledge and contribute to intercultural dialogue. They are instruments for peace.

Irina Bokova

domingo, 19 de dezembro de 2010

Natal à Beira-Rio, de David Mourão-Ferreira



Natal à Beira-Rio


É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.




Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...




Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.




Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?




David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988

Pai Natal leitor / Santa likes to read




Posted by Picasa

O Elogio da Castidade por Miguel Esteves Cardoso

O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado.


Desengane-se de vez a rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem «experiente». O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O pudor que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente ideia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se tigres quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é «sexy». Nos homens como nas mulheres. A promiscuidade tira a vontade.


Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ainda nenhuma conseguiu tocar. O que é erótico é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a «liberdade», a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser «livre», que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens querem das mulheres? Ser conquistador é ser conquistado. Ninguém gosta de um ser conquistado. O que é preciso conquistar é a castidade.
 
Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

Fonte: Citador




sábado, 18 de dezembro de 2010

Equação do romance de Enid: Jane Austen + sexo escaldante / Enid Wilson new novel equation: Jane Austen + steamy sex

Tal como mencionei no post anterior, hoje o 'Cão' está muito contente porque tem uma escritora convidade, Enid Wilson, da Austrália, e que apresenta aqui o seu último romance Fire and Cross.


Thanks Ana for hosting me today. I read some steamy posts on this blog and suggested to Ana that I would write about steamy Darcy.

I love Pride and Prejudice. About three years ago, I came across some steamy Pride and Prejudice fan fiction. Since then, I just couldn’t stay away from them. From a vivid reader to an obsessed writer, I’ve put my beloved Mr. Darcy and Elizabeth Bennet in many what-if scenarios. Martian Darcy, foul-mouthed Darcy, Dragon Darcy and so on. It was a fun ride.

One thing I haven’t tried before is writing a mystery. So I’m happy that I completed Fire and Cross, Pride and Prejudice with a steamy mystery twist:


The combination of a lethal blaze and a garnet cross have ensured that ever since he was a boy, Fitzwilliam Darcy’s future is promised to an unknown lady.

With danger looming from a suspected spy, and with murder close at hand, will Mr. Darcy cross paths with Elizabeth Bennet and win her affections? Mr. Darcy’s journey to overcome his pride and find eternal love in Pride and Prejudice takes on a mysterious twist.

This sexy what-if story, told from Darcy’s viewpoint, explores the demands of family members and other involved parties.

Below is an excerpt from Fire and Cross right after Mr. Darcy, my hot and steamy one, engaged to Miss Elizabeth Bennet:

Mr. Darcy sat down once again, very close to her, and pulled her hands into his again. “Miss Bennet, it is my greatest honour and pleasure to have you as my wife.”

She opened her mouth to say something but he was so happy that he could express himself as only a young man violently in love could. He lowered his head and kissed her.

Her lips were soft and tender. She tasted of tea and lavender. The delectable scent stirred him. Turning his head slightly, he touched her lips with his own. He felt her gasp slightly and heard her release a low moan.

His hands let go of hers and wandered to her waist. Pulling her closer to him, he could feel her lush bosom pressed onto his hard chest. He groaned in ecstasy as her soft form cleaved to his masculine shape. He put his mouth to her delicious earlobe and nibbled at her neck.

As he lowered his head to breathe in the aroma of her bosom, he would have pushed down the sleeves of her elegant evening gown had she not seized his hair.

The pull on his head startled him. He raised his eyes to her face and breathed deeply to calm himself. She had her eyes closed and her head rested on the chaise. How he wanted to teach her the pleasure of union! But he remembered her father’s words: Mr. Bennet was waiting for them to return to Longbourn.

Well, what do you think of this steamy Darcy? Tell me how dreamy you want your Mr. Darcy to act?



Thanks again Ana for hosting me today. I’m delighted to give out an ebook of Fire and Cross in pdf format and a lovely souvenir to one lucky reader. Please head over to http://www.enidwilson.com/ and register for news and leave a comment here. Warning: The novel and my site contain explicit adult content.



Contest is open to worldwide readers.

 Big hugs from rainy Sydney, Enid.



Enid fez questão de apresentar o excerto de Fire and Cross (tradução: Fogo e Cruz) acima apresentado traduzido para português. A tradução foi enviada por Enid e está em português do Brasil.

A acção ocorre logo após o noivado do sensual e escaldante Sr. Darcy com a jovem Elizabeth Bennet:
O Sr. Darcy sentou-se mais uma vez, muito próximo dela, e segurou novamente suas mãos. “Menina Bennet, tenho a maior honra e prazer em tê-la como minha esposa.”

Ela abriu a boca para dizer algo, mas ele estava tão feliz por se expressar como somente um jovem violentamente apaixonado poderia. Ele baixou a cabeça e a beijou.

Os lábios dela eram suaves e macios. Ela tinha sabor a chá e a lavanda. O odor delicioso o estimulou. Virando o rosto levemente, ele tocou os lábios dela com os seus. Ele sentiu um leve suspiro dela e depois ouviu um leve gemido.

Suas mãos soltaram as dela e desceram até a cintura. Puxando-a para mais perto, ele pôde sentir os seios exuberantes contra o seu peito rijo. Ele murmurou em êxtase quando o corpo suave dela se juntou à sua forma masculina. Ele levou a boca ao delicado lóbulo da orelha dela e deu uma mordidela em seu pescoço.

Conforme ele baixava o rosto para sentir o cheiro dos seios dela, ele teria-lhe despido o elegante vestido de noite se ela não tivesse agarrado seus cabelos.

O puxão o assustou. Ele elevou os olhos para o rosto dela e respirou profundamente para se acalmar. Ela estava de olhos fechados e sua cabeça se apoiava na chaise longue. Como ele queria ensiná-la o prazer da união! Mas ele lembrou-se das palavras do pai dela: o Sr. Bennet aguardava seu retorno a Longbourn.



Caros leitores, podem saber mais no site da Enid, em http://www.enidwilson.com e se se registarem podem receber uma lembrança da Austrália e este livro em formato .pdf.

Quanto a mim, agradeço à Enid o entusiasmo e a simpatia com que me contactou e gostei da sua visita virtual.

Thank you Enid for your enthusiasm and liking. It was my pleasure to have you writting for "The Dog who ate the Book" :)

Good luck with your book.

And we will always have Jane Austen. :))))

Enid Wilson vem ao 'Cão' apresentar o seu novo romance escaldante / The steamy prose of Enid Wilson is here!

Sobre romances que adoramos, de que somos fãs confessos, que nos deixam com um apetite literário para mais do mesmo...

Diz Stephen King no seu brilhante On Writing, p. 154:

Sometimes it’s beautiful and we fall in love with all that story, more than any film or TV program could ever hope to provide. Even after a thousand pages we don’t want to leave the world the writer has made for us, or the make-believe people who live there. You wouldn’t leave after two thousand pages, if there were two thousand. The Rings trilogy of J. R. R. Tolkien is a perfect example of this. A thousand pages of hobbits hasn’t been enough for three generations of post–World War II fantasy fans; even when you add in that clumsy, galumphing dirigible of an epilogue, The Silmarillion, it hasn’t been enough. Hence Terry Brooks, Piers Anthony, Robert Jordan, the questing rabbits of Watership Down, and half a hundred others. The writers of these books are creating the hobbits they still love and pine for; they are trying to bring Frodo and Sam back from the Grey Havens because Tolkien is no longer around to do it for them.


E a propósito surge o conceito de "sequel". (Custa-me usar o termo "sequela" que por aí circula por recear pisar os calcanhares à Exma. Sra. D. Língua Portuguesa que muito respeito).


A sequel is a work in literature, film, or other media that portrays events set in the same fictional universe as a previous work, usually chronologically following the events of that work. In many cases, the sequel continues elements of the original story, often with the same characters and settings.



O que se passa com Tolkien (como mencionou Stephen King) acontece também com Jane Austen, especialmente com Orgulho e Preconceito. Apaixonamo-nos  pelo romance, pelas personagens, pelos diálogos, pelo ambiente georgiano do Reino Unido dos fins do Séc. 18. Quando o livro acaba a vontade de ler permanece. Ficamos presos de forma afectiva áquele universo ficcional. Queremos mais do mesmo, da mesma época, da mesma sociedade, das mesmas personagens, das suas vidas, dos seus gestos, das suas palavras. Queremos continuar a conviver com o reservado Mr. Darcy e a determinada Elizabeth Bennet.

Surgem então as mais diversas "sequels". Já li algumas. O curioso da relação do clássico inspirador com as actuais continuações da história está na dicotomia contenção - carnalidade.
 
Em Orgulho e Preconceito (como aliás em todos os romances de Jane Austen ) não chega a haver sequer um beijo romântico e o simples gesto de roçar a pele da mão do outro numa dança de salão constituirá o contacto mais íntimo, ousado e perturbador.
 
Por outro lado, todas as "sequelas" deste romance que conheço libertam-se da contenção de Jane e encarrilam por escaldantes relações carnais e descrições bastante explícitas de carácter erótico na consumação do amor entre Darcy e Elizabeth. Como se não houvesse fome que não desse em fartura! :)
Hoje recebo aqui, no Cão, em termos virtuais :), Enid Wilson, vinda directamente da quente e solarenta Austrália para a nossa fria e acinzentada invernia lisboeta. :)
Enid é autora de várias "sequels" escaldantes de Orgulho e Preconceito já publicadas e que podem conhecer no seu blogue.  Vem aqui apresentar o seu novo livro Fire and Cross.


É hoje, no próximo post, pelas 21 horas.




Uma leitora vestida a rigor para a quadra natalícia / Christmas reading illustration

Kanako and Yuzuru

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"Chove. É Dia de Natal"...Fernando Pessoa no seu melhor :)

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.


E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.




Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.




Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.



Fernando Pessoa

Acabou o Carnaval! Podem tira a FantaCIA.


Cartoon FantaCIA da Verdade, de Rodrigo

A biblioteca pública é o que há de mais democrático no mundo...


A public library is the most democratic thing in the world. What can be found there has undone dictators and tyrants: demagogues can persecute writers and tell them what to write as much as they like, but they cannot vanish what has been written in the past, though they try often enough. People who love literature have at least part of their minds immune from indoctrination. If you read, you can learn to think for yourself.

Doris Lessing

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"Falavam-me de Amor",um poema de Natal de Natália Correia

Falavam-me de Amor


Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,


menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.


Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.


O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.

Natália Correia, O Dilúvio e a Pomba, 1979 

Deixa-te de críticas literárias! Cala-te e come! / Bookworms

Posted by Picasa

Uma girafa na biblioteca / A giraffe in the library



Brilhante ilustração. :)
Só tenho pena de não saber o nome do autor.
Posted by Picasa

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

"Litania do Natal" por José Régio

Tara Chang


Litania do Natal




A noite fora longa, escura, fria.
Ai noites de Natal que dáveis luz,
Que sombra dessa luz nos alumia?
Vim a mim dum mau sono, e disse: «Meu Jesus…»
Sem bem saber, sequer, porque o dizia.




E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Na cama em que jazia,
De joelhos me pus
E as mãos erguia.
Comigo repetia: «Meu Jesus…»
Que então me recordei do santo dia.




E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
Ai dias de Natal a transbordar de luz,
Onde a vossa alegria?
Todo o dia eu gemia: «Meu Jesus…»
E a tarde descaiu, lenta e sombria.




E o Anjo do Senhor: «Ave, Maria!»
De novo a noite, longa, escura, fria,
Sobre a terra caiu, como um capuz
Que a engolia.
Deitando-me de novo, eu disse: «Meu Jesus…»




E assim, mais uma vez, Jesus nascia.






José Régio

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin