domingo, 22 de agosto de 2010
O romance de Ian McEwan: a única expiação possível para tamanha culpa é a escrita
domingo, 18 de julho de 2010
A minha irmã em palco
domingo, 20 de junho de 2010
A propósito da morte de José Saramago (1922-2010)
sábado, 12 de junho de 2010
terça-feira, 27 de abril de 2010
Queres ser fiel a ti mesmo ou pertencer à rebanhada? A segunda é mais fácil.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
A razão porque às vezes me sinto fora de contexto no mundo...
sábado, 27 de fevereiro de 2010
A ciência pode ser tão poética! Ou a questão da empatia.
Somos realmente um Ser Colectivo!
Literatura, Religião, Ciência...num ponto convergente.
Obrigada NN pelos vídeos e pela troca de ideias. :))
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
ON, ON, ON...never OFF life, ok?!
Evaporação literária ou simplesmente um livro esquecido sobre a cama?
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Onde, quando e como surgem as ideias, as imagens, as palavras...
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
A escrita e a ténue fronteira entre a autobiografia e a ficção.
domingo, 30 de agosto de 2009
4 citações e os poemas que troco por um beijo
Se o meu amor me exigisse um poema passaria as noites a escrever pelo beijo de cada manhã!:)
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Puxando o fio da narrativa...
...com cuidado, subtileza,
não se vá desprender o sentido,
perder-se o remate,
desatar a inspiração...
É preciso dar um nó apertado no "FIM".
Pinturas em acrílico de Erin Cone.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
"Os gatos são palavras com pêlo."
domingo, 15 de março de 2009
O meu beijo para Rodin
Este é "uma espécie de" poema que eu escrevi em 2001, na altura divulgado no site Educare e que mais tarde publiquei no meu blogue O Lobo Leitor. É um bocadinho apimentado, há quem diga que é erótico...o meu único intuito foi transmitir aquilo que esta escultura de Rodin inspirava em mim.
As esculturas de Rodin deslumbram-me e emocionam-me. Em Madrid, em 1998, tive oportunidade de ver ao vivo algumas das suas obras-primas, fiquei completamente encantada, rodeando-as, olhando de todos os ângulos, cercando a sua completa perfeição...
Aqui deixo o meu O Beijo, de Rodin:
Da metamorfose do rochedo
Monstro de terra e de mar
Áspero, sólido, horrendo
Liberta-se aos poucos
Uma forma de arte... e de amar
Os músculos apenas se descobrem
Na denúncia da pulsação esquecida
Das mil energias que percorrem
A pedra viva.
Na lisura da pedra suada murmuram discretas veias
De dois corpos
Onde
De brilho e de cotão
Pelo torso tímido ela se enleia como Hera
Que o quer seu
E o seu gesto de jovem primavera
Guarda em si o fogo da paixão
Na brisa subtil desta ternura
Esquecida de si mesma ela se dá
E da rocha de uma teimosia dura
Os pés voam e ganham o ar.
O seu seio erguido se alonga no abraço
E roça dele o peito pujante e vigoroso
E este toque sentido
Desperta um desejo ardente e ansioso.
O amante, mais contido no seu movimento
Pousa a sua mão grande e viril
Na carne rija e sem tempo
Da sua ninfa de cinzel e vento.
E na coxa que a luz revela... firmeza
E a sombra arredonda,
Há a secreta beleza
De um segredo profundo... no escuro.
Os olhos fechados no pudor do sentimento
O tremor quente dos lábios nas órbitas nocturnas.
A urgência do desfloramento
Na avidez das ternas garras, tenra luz.
Numa penumbra sem rostos
Dois corpos, um só ensejo
Um homem, um mulher
Um só gesto, um eterno beijo.
Ana Tarouca, 2001
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Aqui fica a minha gratidão por tudo e por todos os que me inspiram
sábado, 18 de outubro de 2008
Ovos quentes
Sempre gostei deles estrelados, brilhantes de gordura, com uma grossa fatia de bacon a acompanhar. E ela parecia ficar um pouco incomodada ao ver-me degluti-los com entusiasmo e até alguma precipitação (o apetite tem as suas urgências, e eu sempre fui um homem de apetites!), enquanto comia os seus cereais com baixo teor de calorias, submersos em leite magro e colmatados por uma pecita de fruta de cultura biológica.
Mariana não tinha uma postura descontraída em relação a nada. Se não fosse aquele seu olharzinho pestanudo de mulher fatal, aquele sinalzinho à Cindy Crawford no canto superior dos lábios carnudos e aquele corpo…ai aquele corpinho de pecado…Mas o que tinha de beleza tinha de contenção beata. Éramos amantes há meses mas não se podia dizer que fôssemos íntimos. É impossível a intimidade para quem a nudez é apenas mais uma forma de vestir. Quando andava nua pelo quarto mantinha a pose de quem desfila sobre uma passerelle. Não contávamos segredos, não entrelaçávamos as mãos, não trocávamos olhares de cumplicidade.
Mas o pior de tudo era a sua miopia sexual. Era uma mulher dogmática na cama, sem imaginação ou liberdade. Sempre que eu propunha uma inovação, uma maneira diferente de tocar, um exercício mais experimental e ousado, levava com uma expressão axiomática do género: “ISSO não faço! É animalesco…é pouco higiénico”. E esta era uma proposição reiterada, sentenciosa e indiscutível. Morria ali a discussão, sem espaço a contra-argumentos! E eu que sempre fui adepto do método científico no vale dos lençoís!
“Eh pá, mas porquê?”, indagava eu, desesperado com a sua sovinice sensual. “Porque não.” E, ao ouvir isto, passava-me uma nuvem vermelha pela vista e crescia em mim a vontade de fazer uma loucura…de rasgar-lhe a roupa sempre impecável…despenteá-la…violá-la…destituí-la daquela pose de diva inatingível que me impossibilitava de a amar verdadeiramente.
Uma manhã, mais uma vez apanhado na ratoeira do mecanismo frustração afectiva – compensação alimentar, fritava os meus ovos na gordura luzidia do bacon quando desceu sobre mim uma epifania de inspiração erótica. Decerto instigado pela versão cinéfila do Kamasutra, essa maravilha da 7ª arte que é Nove Semanas e Meia, resolvi oferecer-lhe o pequeno-almoço na cama.
Ainda dormia, vestida apenas pela rebeldia dos seus cabelos ruivos, a nudez sublinhada pela finura do tecido que a cobria. Levantei lentamente o lençol. Senti o desejo pulsante sublinhado pelo travo picante da profanação. E, devagarinho, como obedecendo a um ritual sagrado, espremi o ovo estrelado, escorrendo entre os meus dedos, naquele umbiguinho de sereia.
Levantou-se de um grito. Olhou para mim como se tivesse tido uma revelação e eu fosse o diabo…
E só guardo na memória aquele corpinho nú, lindo, sem vestígios de celulite, a escapulir-se qual ninfa da Ilha dos Amores, fugindo às mãos mas oferecendo-se ao olhar deste argonauta faminto, sem amor nem pequeno-almoço.
Foi este o episódio que marcou o fim da nossa relação. E ainda hoje me arrependo de não ter deixado arrefecer um bocadinho mais o ovo.
Ana Tarouca
23 Dez. 2000, reescrito em Outubro de 2008