segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mulher, teimo em ti pousar

Quem conhece esta música e poema fenomenais? Manhã. A voz é de Carlos do Carmo e a música de Pedro Abrunhosa.




Manhã, que em ti encerra

Este mar que nao se altera,
este vento na galera
que teima em ti pousar.



Madrugada, de repente
Sou pássaro sou gente,
Tão distante e nunca ausente
E teimo em ti pousar.



Mulher, minha alvorada
Tu és o vento que tarda,
Por ti pouso o cansaço
Na verdade de um poema
Na mentira de um abraço,
Teu leito é o meu regaço
Eu quero assim ficar.




Barco que torna ao porto
No teu corpo eu me aporto,
Ai fico e me recordo
E teimo em ti pousar.



Neblina, despertada
Tao leve quanto a espada,
Que se bate por tudo e nada
E teima em ti pousar.


Mulher, minha alvorada
Tu és o vento que tarda,
Por ti pouso o cansaço
Na verdade de um poema
Na mentira de um abraço,
Meu leito é o meu regaço
Eu quero assim ficar.
Na verdade de um poema
Na mentira de um abraço,
Meu leito é o teu regaço
Eu quero assim ficar.

Deixa-te ficar na minha casa...

Filarmínica Gil com a bela voz rouca de Nuno Norte.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Caçada nocturna pelas ruas de Lisboa

Roteiros de solidão e de gente que se perde pela vida, sempre a procurar em círculos nem sabem bem o quê.

Caçada nocturna



À noite todas as putas são pardas. Sigo pelas ruas secundárias da cidade, mas a bicha faz parecer que estamos na hora de ponta. Bom, a zona das bichas é mais no Conde Redondo, mas não pode dizer-se que, por aqui, não estejamos na hora de ponta.

É vê-los. É verem-me. A fila de putanheiros sabe do que falo. Temos que esperar pela nossa vez. Há um código de respeito. E de vergonha. Não me vejam. E eu não os vejo. Só as putas são visíveis. Os olhos têm destinatários. Mas os meus fraquejam.

Durante o dia, parado nas filas de trânsito, penso no que irei fazer nestas noites. E nestas noites, parado num trânsito de pilas, penso no que ando a fazer dos meus dias. Estradas alternativas que vão dar a casa de alguém. Onde alguém espera por alguém.

Sigo pelo Técnico ao Saldanha. Aqui tudo piora. Estou a subir, mas sinto o sangue a baixar-me o juízo. Temos que esperar a nossa vez. E procurar, procurar sempre. Não ver para não ser visto. É essa a regra. Respeito ao código dos putanheiros.

Uma volta ao quarteirão. Duas voltas ao quarteirão. E elas não ficam mais bonitas nem à terceira. Nem à quarta. Eu também não fico mais sóbrio. Estou cansado. Farto.


Aqui não há desejo. É tudo expectativa. Sigo pela Artilharia Um. Dois. Três. Queimei um vermelho junto à prisão. E penso queimar um verde. Para mim, as quintas-feiras são verdes. As quartas amarelas. E as putas são pardas. Pardo não é bem uma cor. E isto não é bem uma vida. Quanto muito, algo suspenso no meio disso. Amanhã é quinta e será queimada pelo sol que não tarda. Esperar pela nossa vez e respeitar o código.

Houve um tempo em que eu parava o carro quando chegava a minha vez. Aqui não há prazer. É tudo consumação. Desilusão e cansaço. Havia a Kali, a rainha senegalesa. E havia a Veronika, a bailarina ucraniana. Veronika não falava português, era toda gesto. Mas isso pouco importava. A comunicação entre putas e putanheiros dispensa a palavra e até a língua. Sai mais caro. De resto, é tudo o mesmo. Putas e putanheiros. Até a palavra é a mesma. Caça e caçador. O caçador carrega a dor que a caça não sentirá.


Nós somos aquilo que consumimos. E aquilo que nos consome reclama, com razão, a nossa propriedade. Sigo pela rua António Maria Cardoso e viro à direita. Era ali que costumava estar a Senhora Dona. Acho que morreu de tudo. Abatida por tudo. Logo ela, tão dada a nada. Ao fim de alguns anos, estas caçadas tornam-se muito parecidas.


Indistintas como as noites. O lado bom é que as presas são muitas. O mau é que sabem todas ao mesmo. O preço a pagar também é sempre o mesmo. Pouco e demasiado.


Sigo pela Antero de Quental. Agora, de repente, sinto que podia parar. Podia inverter a marcha, virar à esquerda e seguir em frente. Parar no vermelho e salvar o verde. Estaria em casa. Onde habito. Mas é cedo como se fosse ainda ontem. Anteontem e antes disso. Ou talvez seja tarde. Depois de amanhã e ainda depois de depois de amanhã. Esperar.

Temos que esperar a nossa vez. Procurar. Insistir. Não ver para não ser visto. É essa a regra. O código. Viro à direita para mais umas voltas ao quarteirão. Tudo o que eu quero é parar. Ir para casa. Arranjar uma casa. Dormir. Arranjar alguém com quem dormir. Parar. Arranjar alguém que me faça parar. Só quero que acabe. Que pare. Mas também sei que é então que tudo, normalmente, começa. Não sei se estão a ver.




Pastor Flores, in Nunca Nada Ninguém


Publicado no Jornal de Letras em 7 de Janeiro de 2011

Elizabeth Gilbert sobre como alimentar a criatividade artística / Elizabeth Gilbert on nurturing creativity

Uma vez que estou a ler com prazer


Quis saber mais e descobri este fascinante discurso da escritora, Elizabeth Gilbert, sobre como alimentar a criatividade artística. Questões que se aplicam não apenas à escrita como à música e à dança.





"Elizabeth Gilbert medita sobre as coisas impossíveis que esperamos dos artistas e dos génios - e partilha a ideia radical de que, em vez de uma pessoa rara "ser" um génio, todos nós "temos" um génio. É uma apresentação divertida, pessoal e surpreendentemente tocante".

Fonte: TED

sábado, 8 de janeiro de 2011

José Leon Machado fala de "A Vendedora de Cupidos"

José Leon Machado: já AQUIALI falei dos seus livros. Encontro agora a sua entrevista ao Jornal de Letras.

"Agrada-lhe imaginar como seria o mundo em épocas distantes. José Leon Machado, 44 anos, fá-lo através da escrita, para melhor conhecer e compreender as suas "origens". Em A Vendedora de Cupidos, o seu mais recente livro, parte da morte misteriosa do padre de uma aldeia para criar um retrato pitoresco do país, atrasado e rústico, durante a II Guerra Mundial. Com a chancela das Edições Vercial, o romance é o segundo título de uma trilogia que atravessa a História do século XX em Portugal, desde a queda da Monarquia até ao 25 de Abril".

As leitoras de sonho de Igor Zharkov



A dormir sobre o livro aberto.



O livro conta a história das personagens, do cenário, de mil e uma aventuras...



A leitora adormecida de livro no colo.

Igor Zharkov

Posted by Picasa

Livro aberto à sombra de uma jarra de rosas vermelhas


“Roses & Cockscomb” de Daniel Gerhartz

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os livros pela pintura de Pierre-Jean Couarraze

Hoje pus-me a desbravar novos caminhos e a fazer um vídeo no Picasa com direito a upload no Youtube e tudo. Foi este o resultado final. Impõem-se progressos futuros. :)


Os guerrilheiros infiltrados em cada sala de aula

O testemunho de uma professora, um  artigo escrito por maphalda para a Visão, em 25 de Novembro de 2010:



Pois é, há dois guerrilheiros infiltrados em cada aula onde lecciono a minha disciplina, e que lhe retiram a disciplina. Acredito que esses alunos até tenham as suas razões para se portarem mal, mas mesmo os cães ladrando, a caravana tem que passar.


O Pedro e o Paulo divertem-se a aterrorizar os outros. Porque são mais brutos porque se afastaram dos seus corações e habituaram-se a viver longe deles. Assim o Paulo não aproveita nem deixa aproveitar. É a vingança. A vingança por não ter nada. Por não ter nada que outros têm, por nem sequer ter pai, nem ter tido alguma vez. E por ter a mãe pela metade, já não é a mãe, é a sombra dela; a vaguear pela casa escura, de cortinas fechadas, onde o sol é temido. E o Paulo esgueira-se por entre o seu espectro, directo para a rua, ávido de oxigénio e da vida que se lhe nega também. Já desejou muito abraçar a mãe e dizer-lhe: "Não te preocupes. Vês? Tens à tua frente o homem da casa! Não te vai faltar nada, nem beijos, nem no prato! Prometo-te!". E foi a primeira vez que lhe deu umas ganas furiosas de roubar; para cumprir o maior e mais puro desejo que lhe tinha atravessado o coração! Mas a mãe não se salvou. Vive do subsídio, pois foi atacada por todas as doenças, mas a mais incurável é a conta da farmácia. Por isso o único remédio que não se importa de pagar, que até dava tudo por ele é o calmante. É o deus dela, é o que lhe barra o caminho para o coração... em chaga.


O Paulo quando chega à escola e vê o sorriso parvo dos fins-de-semana bem passados de alguns colegas, só lhe apetece é juntar-se ao Pedro... e arrasá-los. Porque a escola é o espaço afectivo mais normal que vivencia, o único onde vão tolerando os seus abusos. Há esses colegas parvos, mas tambem há todos os outros não mais felizes do que ele, mas desprovidos da carapaça com que ele e o Pedro se vestiram; esses seus colegas nus, que acusam todas as alfinetadas, setas, lanças, mísseis, que as fábricas de armamento dos meninos perversos produzem, a par das carapaças.




Leia na íntegra AQUI.

Baby Blues combatem a iliteracia





LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin