quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Os livros a preto e branco de Chema Madoz: fotografias com figuras de estilo









Fotografias sempre inesperadas de Chema Madoz



"No todo es lo que parece, y Chema Madoz (Madrid,1958) se encarga de ponerlo en evidencia. Ocultos entre la cotidianeidad surgen nuevos mundos. Nuevas dimensiones que de la mano de la metáfora alteran la percepción de la realidad más inmediata. El absurdo, la paradoja, el humor -por qué no la gregería- se dan cita en el estudio del fotógrafo. La idea inicia su proceso de superación del objeto y establece una descontextualización Dadá. La ironía con la que Madoz asalta modelos reconocibles establece una relación con el espectador que le conduce por los caminos de un universo paralelo".

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A leitura enquanto tapete voador

«Ler um livro é desinteressar-se a gente deste mundo comum e objectivo para viver noutro mundo. A janela iluminada noite adentro isola o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro da vida subjectiva. Árvores ramalham. De vez em quando passam passos. Lá no alto estrelas teimosas namoram inutilmente a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da lâmpada, apenas ligado a este mundo pela fatalidade vegetativa do seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra dimensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há lugar para dois passageiros: leitor e autor.»

Augusto Meyer, in «À Sombra da Estante»

A alegria de uma boa livraria









Imagens do filme de animação A Bela e o Monstro, com a princesa leitora da Disney.

Booklife: dicas para o escritor do Séc. XXI



A acompanhar o livro Booklife: Strategies and Survival Tips for the 21st Century Writer, de Jeff VanderMeer, existe o blogue Booklifenow.com:

"Booklife integrates discussion of the topics traditional to such manuals with how the landscape has changed as a result of the innovations of the electronic age. Although many of these changes are wonderful, it isn’t a uniformly positive development—new media can fragment you, disrupt your ability to be creative, and make you pursue tactical goals that don’t support your overall career. It also may be hard to determine how to be an effective advocate for your book without sacrificing what’s most important: your personal joy stemming from the creative impulse, your intimate relationship with your writing".


domingo, 25 de outubro de 2009

A biblioteca digital da União Europeia

A União Europeia lançou no dia 16 uma biblioteca digital, a  EU Bookshop, que  permite o acesso a publicações de instituições e agências europeias. Disponibiliza também um catálogo e arquivo de todas as publicações da União Europeia. Dá jeito.

Há livros que nos dão esperança...



Mais Garfield. :)))))

sábado, 24 de outubro de 2009

Caidinho pela bibliotecária gira...



As tiras de Garfield, o gato mais encantadoramente egoísta, preguiçoso e cruel da história. E do seu dono socialmente desajustado a quem deviam oferecer o livro "Animais de estimação para tótós".

Uma criação deliciosa de Jim Davis.
Posted by Picasa

É na cauda da Europa que se enxota as moscas!



Excertos da crónica de Ricardo Araújo Pereira, ilustre esmiuçador, na revista Visão desta semana:

"Quando eu nasci (eu sou da mesma colheita do RAP, mais ano menos ano, por isso identifico-me com o que ele aqui escreve) , Portugal estava na cauda da Europa. Veio o PREC, e Portugal continuou na cauda da Europa. Depois chegou alguma estabilidade, e aí Portugal continuou na cauda da Europa. Entrámos na CEE, e permanecemos na cauda da Europa. Vieram os governos de Cavaco Silva, mais os milhões comunitários, e - então sim - Portugal continuou na cauda da Europa. Nisto, o PS voltou ao poder. E Portugal manteve-se na cauda da Europa. A seguir, o PSD regressou ao governo. E Portugal na cauda da Europa. Depois, mais governos do PS até hoje. E Portugal firme na cauda da Europa. Onde fica Portugal? Na cauda da Europa. Não se sabe que bicho é a Europa, mas lá que tem uma cauda é garantido. E não há dúvidas nenhumas de que Portugal está nela sozinho.

(...)

Como se explica este fenómeno da nossa longa estada na cauda da Europa? Creio que só pode ser uma opção. E, sendo uma opção, tem de ser estratégica. É muito raro uma opção não ser estratégica. Já tivemos vários governos e regimes, e todos, sem excepção, optaram por nos manter na cauda. Deve haver um plano. Outros países, que não têm coragem de permanecer na cauda, foram avançando para a garupa. É lá com eles. Mais fica de cauda para nós.

A verdade é que alguém tem de ficar na cauda. E, no que diz respeito a caudas de continentes, a estar nalguma que seja na da Europa. Temos a experiência, o talento e, pelos vistos, a vocação para estar na cauda. Seria uma pena desperdiçar décadas e décadas de prática. Será sensato que um país com o tamanho do nosso se aventure para fora da cauda da Europa? É importante não esquecer que é com a cauda que se enxotam as moscas. E que a cauda consegue enxotar tudo, menos o que está na cauda. Os pessimistas dirão: temos o último lugar garantido. Os optimistas hão-de notar que, ao menos, é um lugar. E que está garantido. Já não é nada mau".

Não está aqui o texto todo e já contei 20 vezes "cauda" e uma "caudas": a repetição pode ser um recurso estilístico eloquente, ou não cantava agora Sócrates a modinha do "diálogo"!

A  crónica Portugal, rabejador da Europa pode ser lida na íntegra aqui.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Adoro as tuas unhas de puta "

   "- Adoro as tuas unhas de puta
como adoro a cabeça de perfil e os olhos fechados, o modo de dizer
   - Minha riqueza
os dentes no meu ombro. Tudo treme no vento e se refaz, tudo se desarticula na água e permanece inteiro, os teus pés descalços nos pedais do carro, os calcanhares, um após outro, no apoio do lavatório para o creme das pernas, os pontinhos brancos que distribuis pela cara antes de os espalhar, o secador levantando o cabelo molhado, o modo de apertar o soutien nas costas numa habilidade de contorcionista, o nariz franzido vasculhando o frigorifico, uma joaninha num ramo de rosas, o modo rápido de lidar com os objectos e nisto, de repente, a surpresa de uma ternura vagarosa, ávida, os bicos do peito a crescerem, a mansa ferocidade dos dentes".

Excerto da crónica de António Lobo Antunes, Gaivotas pequeninas, publicada na Visão desta semana.



Leio e penso logo: Intimidade. Casal. Gestos quotidianos em comum.

E fico a imaginar como serão as unhas de puta... :)

António Lobo Antunes fala da verdade intocada e da arte que imortaliza

O novo livro de António Lobo Antunes, “Que Cavalos são Aqueles que fazem Sombra no Mar?”, foi apresentado no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa. O escritor fez uma série de alusões e citações que vale a pena reter:

"Depois de afirmar que “é muito difícil falar de um livro” e de citar o seu falecido amigo José Cardoso Pires, que dizia que nenhum escritor gostava de falar sobre o que escrevera, Lobo Antunes tentou, embora admitindo: “Há ali uma parte que me escapa”.

Falou de um verso de Ovídio que sempre o obcecou e continua a obcecar - “Lentos, lentos ide, ó cavalos da noite” - do seu quadro preferido, “As Meninas” de Velásquez, e de uma frase de Einstein citada pelo pianista Alfred Brendel: “É preciso fazer as coisas o mais simplesmente possível mas não mais simplesmente do que isso”.

Observou, depois, que “a arte é a nossa única hipótese de vitória sobre a morte”. “Daí o medo que existe da arte - é que ela contém em si uma outra forma de olhar para as coisas, que nós recusamos. Então, é muito tranquilizador as telenovelas, aquilo a que chamam ‘literatura light’, que não sei o que é... todas essas formas de expressão de sentimentos que nos impedem, de facto, de entrar no íntimo de nós”, referiu.


(...)


António Lobo Antunes anunciou a intenção de “continuar a viver com a orgulhosa humildade” com que sempre tem vivido e concluiu com uma frase de Newton: “Não sei o que o futuro pensará de mim. Sempre me imaginei uma criança a brincar na praia, que às vezes encontra um seixo mais polido, uma conchinha mais bonita, enquanto o grande oceano da verdade permanece intacto à minha frente.

Excerto de um artigo do jornal Público de hoje.

Bonita citação a de Newton! É tão fácil distrair-mo-nos e lutarmos por grãos de areia ignorando miseravelmente a imensão da verdade maior!

E defendo a simplicidade às vezes tão difícil que Einstein defende (é tão fácil cair nos buracos da complicação!).


Porque a literatura é memória.

"Porque a literatura é memória. A literatura o que faz é resgatar os mortos. Há um poema de Thomas Hardy sobre a segunda morte, a morte definitiva, que é quando já não existe ninguém que se lembre de nós. Pois a literatura é uma batalha para que essa segunda morte não aconteça. É como Orfeu buscando Eurídice no inferno. É arrancar os mortos à morte. E é também como se os mortos se agarrassem a nós com todas as forças, para não morrer de vez. A literatura não pode ser outra coisa a não ser isto. Uma batalha contra o esquecimento, contra a morte. Porque as palavras não morrem. Porque a linguagem não morre."

Javier Cercas
 
Fonte: o blogue do escritor João Tordo que venceu este ano a sexta edição do Prémio Literário José Saramago com "As Três Vidas". Aqui.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Ainda a pirataria de livros: a opinião de Neil Gaiman

O escritor Neil Gaiman, a propósito da pirataria dos (seus) livros na internet, afirma: 


“O perigo não está em livros serem lidos de graça. Mas, neles não serem lidos”




Deste autor li Coraline, uma história de terror para crianças que não apreciei particularmente e Stardust, um conto de fadas para adultos do qual gostei bastante. Nenhum dos livros foi pirateado, mas ambos foram ou vieram emprestados, portanto, há por aqui quem tenha lido sem comprar o livro!!!oh yes!:)

16 lemas, uns mais duvidosos que outros, de incentivo à leitura




Um blogue que me apraz ler é Pó dos Livros de Jaime Bulhosa.

Foi lá que encontrei estas pérolas de incentivo à leitura.

"Numa empresa onde trabalhei, foi pedido a alguns funcionários, em jeito de brainstorming, que pensassem numa ou várias frases de incentivo à leitura, para depois algumas serem usadas em cartazes publicitários de livraria. As frases que se seguem são algumas das que resultaram desse brainstorming, tendo sido recusadas, por razões óbvias, pela gerência. Contudo, guardei-as por achá-las engraçadas e nonsense. Não resisto a publicá-las, agora devidamente organizadas por fonte de inspiração.

AS DOMÉSTICAS
«Se até a bruta da tua sogra lê...»
«Ou lês ou comes a sopa.»


AS DE ÍNDOLE SEXUAL
«Finalmente só! Eu e o meu livro.»
«À noite dói-lhe a cabeça?... Faça como ela, leia!»
«Tocas num livro, tocas num homem.»


AS DE SUPERIORIDADE INTELECTUAL
«Samos cada bêz menos anal-fabetos, ler acaba con nôs.»
«Os verdadeiros analfabetos são aqueles que não lêem.»
«Ler não evita a estupidez, mas disfarça-a muito.»


AS MISÓGINAS, HOMOFÓBICAS E MACHISTAS
«Não ler é coisa de gaja, deixa de ser larilas!»
«Uma mulher que não lê, não é uma mulher, é um homem.»
«Não pintes o teu cabelo loiro, lê!»

AS PSEUDO-FILOSÓFICAS
«Ler é um modo engenhoso de não pensar.»
«A leitura engrandece a alma e o corpo.»


AS POLÍTICAS OU JURÍDICAS
«Ler é um vício legal!»
«Em terra de cegos, quem lê é rei.»
«O povo que lê jamais será vencido.»

Jaime Bulhosa"

Este post pode ser lido na íntegra aqui.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Detesto que se ponham a ler por cima do meu ombro!



É desconfortável, inibe a concentração na leitura e incomoda como gesto de pouca educação.

Realmente, há cada avestruz!!!

Bibliotecas escolares: história e actualidade

Bibliotecas escolares: história e actualidade (2007) - Dissertação de Mestrado de Maria de Fátima Semedo Dias, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Resumo:

" Problematizar as questões da educação leva-nos a considerar como elas são mundialmente transversais. Tem sido à luz de orientações expressas internacionalmente que Portugal, e muitos outros países, têm vindo a assumir compromissos e a apostar em dotar as escolas de bibliotecas escolares onde alunos, professores e restante comunidade, tenham acesso ao saber, nesta sociedade da informação. No caso português, torna-se de crucial importância procurar compreender os “percursos do passado” (Nóvoa, 1993) a propósito desta temática. A ideia de que a existência de bibliotecas nas escolas pode tornar-se o meio essencial de acesso ao conhecimento, do desenvolvimento do pensamento e enriquecimento da personalidade esteve presente já, em 1836, quando Passos Manuel instituiu os liceus nacionais, prevendo a existência de equipamentos escolares especiais, utilizáveis por alunos e professores. Para a nossa investigação, tomámos como objecto de estudo a biblioteca escolar, procurando compreendê-la nas suas diversas dimensões, estabelecendo um diálogo entre as soluções que vão sendo encontradas hoje e aquelas que foram as realidades do passado, no sentido de compreender de que forma foram transmitidas, e persistiram até hoje, as ideias dos pedagogos dos séculos XIX e XX, bem como o lugar que a biblioteca escolar ocupava nos antigos liceus. Partimos do conhecimento que temos da actualidade para a realização de leituras aprofundadas sobre a realidade e enquadramento legal das bibliotecas escolares, em Portugal, desde 1836, privilegiando o estudo da biblioteca da Escola Secundária Mouzinho da Silveira, em Portalegre. A abordagem desta problemática exigiu o recurso a instrumentos teóricos e metodológicos diversificados, que permitiram uma compreensão dos discursos produzidos pelos actores envolvidos, ontem e hoje".

Disponível na íntegra aqui.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Inquérito à escala mundial sobre preferências quanto aos suportes de leitura



O Bibliotecário Anarquista lança um inquérito à escala mundial sobre os suportes de leitura preferidos dos leitores e não leitores. Aceda ao questionário e responda com seriedade e rigor aqui.

Pirataria de livros

"Os e-books demoraram a estabelecer-se, mas cada vez são mais comuns. Está aí o risco de uma pirataria parecida com a que ocorre na música.

PODEMOS COMPRAR "O Símbolo Perdido", de Dan Brown, como e-book na Amazon por 9,99 dólares (6,69 euros). Também podemos pôr um chapéu de pirata e arranjar uma cópia gratuita em sites de armazenamento de ficheiros como o RapidShare, o Megaupload, o Hotfile ou outros.

Até agora, poucos leitores preferiam os livros electrónicos aos livros impressos ou às versões áudio, pelo que a disponibilidade pública das cópias gratuitas não era muito importante. Mas os e-books não ficarão muito tempo em segundo plano na edição. O equipamento necessário para os ler (e-readers) está a tornar-se comum, com ecrãs cada vez maiores. O mesmo se passa com os tablets que podem servir como e-readers gigantes, e o hardware que não é assim tão duro: um monitor fino, suficientemente flexível para ser enrolado num tubo.

Com os novos dispositivos à mão, será que os compradores de livros resistirão aos exemplares gratuitos, a apenas alguns cliques de distância, que estão disponíveis na internet sem a permissão do proprietário dos direitos? Conscientes do que aconteceu à indústria musical numa conjuntura de transição semelhante, os editores de livros estão prestes a descobrir se o seu negócio é suficientemente diferente para ser poupado ao mesmo destino".

Excerto de um artigo de Randall Stross - exclusivo i /The New York Times, publicado em 16 de Outubro de 2009

Fonte: Jornal I

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mantém os teus livros preferidos...



...debaixo dos teus bigodes.

Embora não tenha bigodaças (acho eu hihi!),  sou muito possessiva com os meus livros preferidos. Debaixo de olho, na eterna possibilidade da leitura.

Quase como os filhos: sempre debaixo de olho, à mão e dentro do coração!



A excelente ilustração é de Marie Desbons.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre "O Carteiro de Pablo Neruda"

-->


A vida na Ilha Negra é entediante para Mario
-->Jiménez, um jovem pescador que procura uma forma de subsistir sem ter de se dedicar à pesca, como a maior parte dos habitantes da ilha.  Mario decide então abandonar o seu ofício para se converter no carteiro da ilha, onde só Pablo Neruda recebe correio. Mario e o poeta constroem gradualmente uma relação extremamente forte. Se Mario, aos poucos, aprende a escrever sobre a profundidade dos seus sentimentos pela sua apaixonada Beatrice (é verdadeiramente delicioso o diálogo em que Neruda ensina a Mario o que é uma metáfora), Neruda ganha, em troca, um ouvinte compreensivo para as suas confissões saudosistas acerca do país. 

Entretanto, Salvador Allende ganha as eleições e as mudanças políticas sucedem-se vertiginosamente no país até acabarem por afectar gravemente as vidas dos habitantes da Ilha Negra.

A partir da
--> amizade entre o grande poeta  Pablo Neruda e o humilde carteiro que o venera e que com ele quer aprender poesia (a acção do romance passa-se por volta de 1970,  até à morte do poeta em 1973) ficamos a saber um pouco mais sobre a história do Chile e as suas tormentas políticas. 

Mas apreendemos tudo com prazer através da mestria na escrita e do humor de Antonio Skármeta. É muito, muito bom!
Deixo aqui alguns excertos do preâmbulo que abrem logo o apetite para a leitura:
"Nos gabinetes húmidos dessa redacção agonizavam todas as noites as minhas ilusões de ser escritor. Ficava até de madrugada a começar novos romances que deixava a meio do caminho desiludido com o meu talento e a minha preguiça. Outros escritores da minha idade obtinham considerável sucesso no país e até prémios no estrangeiro: o da Casa das Américas, o da Biblioteca Breve Seix-Barral, o da Sudamericana e Primera Plana. A inveja, mais que um incentivo para acabar alguma vez uma obra, funcionava em mim como um duche frio.  
Pelos dias em que cronologicamente começo esta história — que tal como os hipotéticos leitores notarão arranca entusiasta e termina sob o efeito de uma profunda depressão — o director reparou que a minha passagem pela boémia tinha aperfeiçoado perigosamente a minha palidez e decidiu encomendar-me um serviço à beira-mar, que me consentisse uma semana de sol, vento salino, marisco e peixe fresco, e de caminho importantes contactos para o meu futuro. Tratava-se de assaltar a paz marítima do poeta Pablo Neruda, e através de encontros com ele, conseguir para os depravados leitores do nosso pasquim uma coisa assim, palavras do meu director, «como que a geografia erótica do poeta». Afinal de contas, e em bom chileno, fazer-lhe falar do modo mais gráfico possível das mulheres que tinha engatado.  
(...)  
Para não tornar este prólogo eterno e evitar falsas expectativas aos meus remotos leitores, concluo esclarecendo desde já alguns pontos. Primeiro, a novela que o leitor tem nas mãos não é a que eu quis escrever na Ilha Negra nem qualquer outra que eu já tivesse começado naquela época, mas sim um produto colateral do meu .fracassado assalto jornalístico a Neruda. Segundo, apesar de vários escritores chilenos continuarem a beber pela taça do sucesso, (entre outras coisas por frases como estas, disse-me um editor) eu permaneci — e permaneço — rigorosamente inédito. Enquanto outros são mestres da narração lírica na primeira pessoa, do romance dentro do romance, da metalinguagem, da distorsão de tempos e espaços, eu continuei adscrito a metaforonas transplantadas do jornalismo, lugares comuns respigados dos crioulistas, adjectivos guinchantes mal entendidos em Borges, e sobretudo agarrado ao que um professor de literatura designou com nojo: um narrador omnisciente.  
(...)  
Sei que mais que um leitor impaciente estará a perguntar-se corno é que um mandrião acabado como eu pôde terminar este livro, por muito pequeno que sela. Uma explicação plausível é que demorei catorze anos a escrevê-lo. Se se pensar que neste lapso de tempo Vargas Llosa, por exemplo, publicou Conversação na Catedral, A tia Júlia e o Escrevedor, Pantaleão e as visitadoras e A guerra do fim do mundo, é  francamente um recorde do qual não posso orgulhar-me".
Este é o narrador que nos conduz através da história da amizade entre Mario e Neruda, e é impossível não apreciar a sua voz e a sua bem-humorada companhia.  
Verdadeiramente de-li-ci-o-so!!!

"...e eu sou um animal lambendo as patas..."




O Gato

Esticou-se a tarde toda ao calor do chão
e assim ficámos cada um em seu poiso
na intermitência do sol e ao gosto dos insectos.
Ri. Passaram-se letras e frases inteiras
pelos olhos quando eu não estava ali.
Conheço a dormência do animal
o esticar dos membros, das patas
e daquela boca dentada.
Sou-lhe absolutamente dispensável.

De repente, os dias achatados, os pressupostos
e as mudanças de lugar tomam presença
nos corredores arqueados do pensamento
e eu pareço um eterno monstro, irreflectido.
Ouvi o dia inteiro impropérios,
a minha humanidade calcada em ajuntamentos.
Onde os desabridos pitéus
a efabulação intensa da casa.
As vozes que se tocam são um fio esticado,
logro de acções.
Levaria sem pensar um poste
lamberia as patas como os gatos
para limpar-me pelo lado de dentro da albarda.
Farejo a noite tão igual por dentro
ao som e aos gestos de um lobo.
Permaneço nas couves, nas formigas e nos crisântemos.
Apesar do lagar entumecido e visceral
eu resisto na terra e no muro, lugar sem porta.
às vezes dá uma paragem no pensamento
e eu sou um animal lambendo as patas
abro a boca em toda a extensão do espaço
aquieto-me.


José Maria de Aguiar Carreiro in revista NEO #9, 2009

Fonte: o blogue do autor, Folha de Poesia.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Estou descontrolado! / "I am Alt of Ctrl"





Um bom trocadilho que brinca com o teclado do computador para chegar ao sentido da  expressão inglesa "Out of Control"!
 
Da autoria do designer e ilustrador brasileiro Matheus Lopes Castro, mais conhecido por Mathiole.

Fonte: Bem Legaus

sábado, 3 de outubro de 2009

António Lobo Antunes fala da sua relação com Deus

"A minha relação com Deus tem sido sempre tumultuosa, cheia de desacordos e discussões: longos períodos em que me afasto, alturas em que me aproximo, amuos, quase insultos, discussões. Creio firmemente que, nos livros que escrevo, é Ele que guia a minha mão e não passo de um instrumento da Sua vontade".

 

Este é um excerto da belíssima crónica do escritor que saiu esta semana, em 1 de Outubro de 2009, na Visão, De profundis.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ou me devolves o livro que requisitaste...


... ou vais arrepender-te.

Assina: The Dirty Librarian, versão bibliotecária do clássico Clint Eastwood em "Dirty Harry".

A fotografia é de Neil Krug.


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